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Há menos de três meses, no dia 4 de julho, o dólar fechou cotado a R$ 1,558. Ontem, os negócios com câmbio foram encerrados a R$ 1,822. Em curtos 85 dias, o aumento foi de 16,9% – no meio disso tivemos aquela quinta-feira de fúria, em que a moeda passou de R$ 1,90. Uma variação de tal magnitude que muita gente anda se perguntando onde o dólar vai parar.

O leitor frequente da coluna deve lembrar que o câmbio foi o tema de três semanas atrás, quando essa tendência ainda estava no início (tomando por base a cotação oficial do Banco Central, quem comprou dólar naquele dia já obteve valorização de 9,84%; depois tem gente dizendo que ler jornal é só despesa...). O assunto volta hoje porque o tema esquentou. Desde a quinta-feira passada, o Banco Central entrou na jogada, vendendo moeda para conter movimentos bruscos de valorização.

Vejam só como é o mercado: não faz muito tempo, o que o BC fazia era comprar moeda, para evitar que o real se valorizasse demais. As coisas se inverteram, e esse tipo de mudança rápida deixa sem referências claras os agentes econômicos – incluem-se aí importadores, exportadores, gestores de fundos, investidores e pessoas com interesses ligados ao câmbio, como aqueles que pretendem viajar para fora do país. Sem referenciais, os valores começam a flutuar e quase tudo pode acontecer. Novos limites de preços são "testados" pelos especuladores; exportadores e importadores passam a fazer operações para reduzir o impacto das mudanças e fixar um preço válido para seus planos de negócios.

Essa variação ampla, que se traduz por sequências de altos e baixos nos gráficos de preços, é o que os especialistas chamam de "volatilidade". Ela deve continuar por um bom tempo, mas a tendência é que a cotação do dólar acabe por se acomodar. E o seu ponto de equilíbrio deve ficar bem longe dos extremos registrados recentemente.

"Os fundamentos da economia brasileira não são compatíveis com um dólar na faixa de R$ 1,90 ou R$ 2, como o mercado andou testando", observa o economista Breno Lemos, professor da PUCPR. Para ele, a faixa de flutuação da moeda estaria entre R$ 1,65 e R$ 1,75. "O que se vê fora disso é ruído", diz.

Nesse "ruído" estão incluídos, por exemplo, os mecanismos automáticos de proteção, os chamados stops. Eles são como gatilhos, que detonam ordens de compra ou venda quando um preço atinge determinado patamar. Aparentemente, foi isso que levou a cotação às alturas na quinta-feira passada. Ao atingir R$ 1,90, ordens foram disparadas e os limites foram para o espaço.

E o que são os tais fundamentos? São elementos da economia real, que fazem rodar o dia a dia das empresas: investimentos, emprego, endividamento, inflação... Perceba que nada disso sofreu grande alteração nos últimos meses, a ponto de justificar tão grande reviravolta na taxa de câmbio. Na verdade, é possível que o nível de emprego venha a subir, já que o câmbio agora favorece um pouco mais a indústria exportadora. Só o que mudou foram os juros, e esse foi o ponto de partida de toda a mudança. Com os juros mais baixos (e com tendência de queda), devem entrar no país menos dólares de investidores estrangeiros. A abundância de moeda que chegava ao país para investimento em renda fixa foi uma das principais razões da manutenção do dólar baixo dos últimos anos.

Nada impede que dias de fúria como aquele se repitam. Por isso, prudência é essencial. Se você precisa comprar dólar para uma viagem ao exterior, por exemplo, prefira fazer pequenas compras, aproveitando os dias de baixa. Assim você compõe um preço médio e foge do risco de gastar muito num dia ruim. E, se for investir, pense bem nas empresas exportadoras. Elas podem muito bem tirar uma casquinha desses dias estranhos.

O prazo do papel

O professor Pedro Piccoli, que leciona disciplinas na área de finanças na Universidade Federal do Paraná, enviou comentários bastante pertinentes sobre a coluna da semana passada, que tratava do rendimento dos títulos públicos brasileiros e os comparava com os dos EUA. Ele observa que o baixo crescimento da economia americana neste momento faz com que os títulos de curto prazo não sejam muito atraentes. Assim, os de longo prazo têm maior demanda e maior preço. No Brasil, a inflação alta da atualidade cria um efeito contrário: os papéis atrelados ao IPCA com vencimento nos próximos dois anos tendem a ser mais procurados. Por fim, a velha instabilidade econômica brasileira dá as caras. Num país em que a Selic cai 0,5 ponto de forma abrupta e onde o IPI aumenta 30% sem aviso, quem vai se arriscar a comprar um título de 30 anos?

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