• Carregando...
Confira um exemplo de como o consumidor pode ser enrolado pelas promoções “sem juros” |
Confira um exemplo de como o consumidor pode ser enrolado pelas promoções “sem juros”| Foto:

Não existe venda a prazo sem juros. É simples assim: n-ã-o e-x-i-s-t-e. Se alguém te falar nisso, se você vir isso numa propaganda, não acredite. Você pode até encontrar algum bom negócio em uma promoção dessas, só não pode ser ingênuo.

Escrevo assim porque recebi um e-mail falando sobre o assunto depois da coluna passada, cujo tema era a mania brasileira de comprar televisores novos às vésperas da Copa do Mundo – mesmo tendo de pagar juros por isso. O Luiz escreveu assim: "Hoje em dia só paga juros quem quer. Você pode comprar pela internet ou em grandes hipermercados, tudo em 12 vezes sem juros, vai me dizer que você não sabia?"

Infelizmente, Luiz, essas promoções que apregoam 12 vezes sem juros são falsas. Os juros estão embutidos, e há uma lógica nisso.

Os juros não foram criados por pura maldade. O objetivo deles é remunerar o dono do capital, dando a ele uma receita que compense o tempo em que fica afastado de seu rico dinheirinho. Ele troca a disponibilidade presente do dinheiro por um benefício futuro, que são os juros. Foi assim que surgiram os bancos e os empréstimos a juros, num passado distante. Isso fazia sentido para os ricaços de Florença, no século 16, e a regra continua valendo para os varejistas brasileiros dos anos 2010. Se o comerciante está oferecendo a seu cliente a possibilidade de ter mais tempo para pagar, é por uma única razão: ganhar mais depois.

Ficando clara a lógica dos juros, vamos a um exemplo bem atual. É só dar uma olhada no gráfico acima, que contém informações coletadas na terça-feira da semana passada em dois sites de comércio eletrônico de grandes redes varejistas. O Extra.com.br (braço virtual dos hipermercados Extra, do grupo Pão de Açúcar) oferecia um aparelho de tevê Sony Bravia, de 40 polegadas, por R$ 3.599,00. A compra poderia ser parcelada em 12 vezes sem juros. Valor da parcela: R$ 299,92.

A rede Fast Shop oferecia pelo site Fastshop.com.br o mesmo aparelho por um preço à vista menor, R$ 3.173,67. As opções de parcelamento são duas: até cinco vezes sem juros ou em 12 parcelas com juros de 1,99% ao mês. A surpresa está no valor dessas mensalidades – exatamente o mesmo do Extra, até nos centavos.

Ninguém é bobo no grande varejo. O preço básico praticado pelo fornecedor (nesse caso, a Sony) é, provavelmente, o mesmo para esses clientes muito importantes. Sabendo disso, e partindo desses dados, posso tirar três conclusões:

• o preço do Extra inclui, sim, juros embutidos. E eles são de, pelo menos, 1,99% ao mês;

• se alguém resolver comprar à vista no Extra, sem negociar antes, vai perder dinheiro;

• se a Fast Shop divide o preço à vista em até cinco parcelas, é sinal de que ele também inclui juros embutidos. Se for comprar à vista, peça desconto e não aceite a resposta de que "esse é o menor preço que nós podemos fazer".

Concluindo: sempre é melhor comprar à vista. Se você poupar o mesmo valor das parcelas, pode adiar um pouquinho o sonho de consumo, mas acabará por realizá-lo a um custo menor.

Informação é a melhor arma para o consumidor. Por isso, não abra mão de pesquisar os preços antes de fazer uma compra – mesmo que isso tome muito tempo. Na hora de negociar a sua compra à vista, lembre-se de ter nas mãos os preços dos concorrentes (se possível, anotados pelo próprio vendedor ou impressos dos sites).

Precisa comprar?

Só mais uma palavra sobre as compras de tevê às vésperas da Copa. Se o leitor já vinha pensando mesmo em trocar de aparelho – se o atual está velho ou não se adapta mais às necessidades da família –, pode ir às compras sem medo. O erro está em comprar por impulso, sem analisar todos os custos e (pior!) caindo no conto da venda a prazo sem juros.

Sobre ações

O leitor Karim pergunta quais ações estariam subvalorizadas neste momento, já que a bolsa tem experimentado quedas consistentes desde o início do ano. Repassei a pergunta ao consultor financeiro Raphael Cordeiro. Ele acredita que é provável que algumas empresas estejam baratas, embora seja difícil dizer se o movimento de queda não vai se acentuar ainda mais. Pegue o caso das preferenciais da Petrobras, que se desvalorizaram em 25% este ano. Ela perdeu bastante valor, mas também sofre com incertezas quanto ao processo de capitalização que deve ocorrer este ano, sem contar a influência internacional. "O problema é que a gente nunca sabe quando é o fundo do poço e quando é o pico", resume.

Por isso a recomendação de Cordeiro para quem está pensando em entrar ou ampliar um investimento em ações é ir com calma. "Você está pensando em destinar R$ 5 mil para a bolsa? Então comece com R$ 1.500 para sentir a temperatura do mercado. No mês que vem, entre com mais R$ 1.500, e assim por diante", aconselha.

Cautela, pois.

Escreva:

Sua opinião, dúvida ou crítica é bem vinda. Mande sua mensagem para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]