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Por acaso, na semana passada, me deparei no dicionário com a palavra "onzena". Segundo o Aurélio, onzena é uma taxa de juros de 11%. Também é "juro exorbitante, excessivo, usura". Pois então: 11% ao ano também é o patamar atual da taxa básica brasileira, a Selic. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (o Copom) decidiu manter a taxa, interrompendo um ciclo de alta iniciado em outubro de 2012. É muito, por qualquer meio de conta – e o vernáculo está aí para confirmar.

A onzena não é incomum na história recente do país. De fato, a média da meta da Selic de 2005 para cá está na faixa de 11,8%, acima, portanto, do patamar atual. Ela também é incomum para o cenário mundial. Segundo o site Central Bank News, há apenas sete países com taxas superiores à brasileira. Dessas, seis são praticadas em países africanos, a maioria extremamente pobre e de economia dependente de ajuda externa – a exceção é a Nigéria, cuja inflação (8,5% no ano passado) justifica a taxa de 12% ao ano.

A questão da taxa de juros divide economistas. No Brasil, o Banco Central tem o dever de defender uma meta de inflação (medida pelo IPCA), que é de 4,5% ao ano para este ano e também para o próximo, com uma tolerância de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo. Seu principal instrumento para controlar os preços é a taxa de juros, que funciona quase como um sufocador: quando a Selic aumenta, a economia respira menos porque a capacidade de desembolso das empresas e famílias cai; em consequência, reduz-se a demanda por produtos e serviços e seus fornecedores são obrigados a manter seus preços ou baixá-los. Consequência direta desse processo todo é que a economia cresce menos, porque há menos dinheiro disponível.

Por isso, cada vez que a inflação sobe um pouco, o BC saca o seu porrete e, de uma paulada só, contém a inflação e o crescimento.

Muitos economistas acham que esse jeito de tratar a economia achata sem razão as perspectivas de crescimento. Há entre esses um grupo que acredita que a inflação deveria voar livre, enquanto outros defendem que ela devia levar uma marretada tão forte que permitisse praticar no país taxas compatíveis com os países do primeiro time da economia global, mesmo que isso exigisse algum sofrimento imediato. Para o leitor ter uma ideia de como vão os juros em terras comparáveis com a nossa, a Austrália pratica 2,5% ao ano; o Canadá, 1%; o México trabalha com 3,5%; a Coreia do Sul, com 2,5%; e a África do Sul está com 5,5% desde janeiro deste ano.

Para outros especialistas, os juros têm de continuar assim, justamente para domar a inflação. Estes apontam que o governo vive pedindo dinheiro do mercado para rolar sua própria dívida, o que contribui para manter os juros altos. Se a União gastasse menos, não seria necessário pagar uma onzena aos bancos.

O fato é que essa enormidade de juros cria uma distorção para os investimentos. Passa a ser muito fácil ganhar dinheiro apenas deixando-o parado. Quem vai querer empreender se dá menos trabalho deixar os recursos em um fundo de renda fixa? Quem é o pequeno investidor que vai arriscar o dinheiro da aposentadoria em ações de um IPO quando pode obter 12% ao ano no Tesouro Direto em um título pré-fixado?

Achar uma saída não é fácil e, neste momento, ela parece mesmo distante. Lembre-se disso quando as discussões políticas esquentarem, nos próximos meses. Avalie as propostas para ver se alguém sugere medidas capazes de conduzir o país ao campo da realidade econômica internacional.

Até mais!

A próxima coluna sai na antevéspera da abertura da Copa. Enquanto as partidas não começam, mande suas dúvidas ou comentários para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

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