• Carregando...

O estrago está feito e o prejuízo é certo. Mas nem tudo está perdido no ciclo 2011/12. A volta das chuvas e o início da colheita revelam uma safra de contrastes e ainda indefinida. Se na Região Sul a estiagem reduz o potencial produtivo dos grãos, no Centro-Oeste o clima inverso favorece as lavouras e a produtividade pode, inclusive, superar o desempenho excepcional registrado na temporada anterior. O cenário diverso é resultado do La Niña, fenômeno climático que transforma o Brasil em uma colcha de retalhos. Em algumas áreas a precipitação é de qualidade, com chuvas na medida e bem distribuídas. Em outras, porém, as chuvas chegam abaixo da média e ainda por cima mal distribuídas. Desta vez o La Niña está, de fato, estabelecido. Nem sempre quando há previsão o fenômeno se configura em sua plenitude, como o que ocorreu na safra 2010/11 – quando, apesar de ser ano de La Niña, a agricultura brasileira bateu novo recorde de produção.

Então, nada está definido, nem mesmo no Sul. No Paraná em especial, o maior produtor brasileiro de grãos, a redução no potencial produtivo ainda não está consolidada. A safra será menor que a esperada, mas ainda não é possível afirmar em que porcentual será essa redução. Com o retorno das chuvas, a incógnita é ainda maior. Por menor que seja, existe uma parte das lavouras passível de recuperação. Assim, se o prejuízo em volume será de 2 ou de 3 milhões de toneladas, é preciso esperar alguns dias para reavaliar as condições das lavouras, principalmente de soja e milho de verão. Apesar dos relatos de quebras acima de 50% em algumas regiões, como no Oeste e Sudoeste do estado, neste momento não há tanta segurança para apostar em uma redução na safra paranaense acima de 10% em volume de produção. Pode ser que seja maior, ou então menor, mas é preciso esperar, avaliar e ponderar um pouco mais. Mesmo no Paraná existem propriedades, regiões e lavouras em excelentes condições de desenvolvimento.

Por outro lado, governos e entidades de representação do produtor também estão se mobilizando para amenizar os prejuízos àquelas regiões onde a seca teve maior impacto. Pequenos produtores, associados ou não a cooperativas, e aqueles classificados de agricultura familiar que estão situados nos municípios mais atingidos terão suas dívidas renegociadas. Tem dinheiro do Tesouro Nacional e também do governo do estado que será aplicado no refinanciamento e também a fundo perdido. No caso do Paraná, destaque aos R$ 8 milhões que serão destinados à subvenção do prêmio do seguro rural para trigo, milho e feijão. Pode parecer pouco, mas é de um significado extremamente importante. Isso porque é uma ação preventiva, que dá segurança e proteção ao produtor. Uma iniciativa que se tivesse sido garantida a contento, de acordo com a demanda, poderia ter evitado ou amenizado o prejuízo financeiro que está sendo enfrentado no campo.

Mas como na agricultura sempre há esperança, temos de acreditar que um dia chegamos lá. Que um dia teremos uma política agrícola condizente com as características e riscos naturais da atividade. Uma política pública que reconheça e que de atenção à agricultura proporcional à participação do setor no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. É preciso acreditar, sonhar e trabalhar para que um dia as ações de socorro sejam a exceção. Que o Brasil e o produtor brasileiro possam atuar preventivamente, ter segurança para enfrentar as adversidades climáticas e, por consequência, as dificuldades financeiras advindas de frustrações de safra. O produtor não quer refinanciar sua dúvida. Ele quer e precisa de apoio para custear a safra e garantir o seguro rural, garantir a sua renda e seus compromissos financeiros. Com certeza seria mais barato e menos desgastante que ter que socorrer o setor em situações de calamidade.

E sabe por que o governo socorre o campo? Não é apenas pela questão social, do colono, da agricultura familiar ou daquele que planta para comer. É porque a agricultura é o grande motor da economia deste país, embora não seja tratada como tal. É porque se a agricultura vai mal, outros segmentos da economia urbana também sofrem os reflexos do campo. Se a produção é menor, o padeiro vende menos pães e a concessionária, menos carros. O país, o estado ou o município arrecada menos, investe menos, vende menos e exporta menos, num efeito cascata que compromete os indicadores da economia nacional, que tem de 25% a 30% de sua movimentação escorada no agronegócio. O que não é pouco.

Talvez esteja na hora do lançamento de um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) temático, focado em um dos principais setores da economia nacional. A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, chegou a comentar, no ano passado, que o governo estaria estudando a possibilidade de instituir o PAC da Agricultura, ou do Agronegócio. Pois que seja agora. Hora melhor não há, a julgar pelos extremos em que vive a agricultura do Brasil. De um lado, as dificuldades enfrentadas com a estiagem. De outro, as oportunidades e o potencial que impõem ao país a responsabilidade de liderar e protagonizar o futuro do agronegócio mundial. O PAC da Agricultura pode fomentar a logística de armazenagem e escoamento, como também pode ser o pontapé inicial para a definição de uma política agrícola estratégica, planejada e que posicione o país no ambiente competitivo e globalizado do agronegócio.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]