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Recentemente, enquanto lia uma dessas revistas que falam de e sobre profissionais, lembrei-me de um caso curioso. A matéria falava sobre os hobbies e a formação de grandes líderes, e isso me fez lembrar Ernesto. O aspirante a jovem senhor era um daqueles rapazes bons de papo à beça. Ele pediu para tomar um "café com prosa" comigo, pois tinha algumas indagações e outras tantas dúvidas a serem sanadas.

Recebi o rapaz no escritório. Após o bate papo inicial, a primeira coisa que ele pediu foi que eu lesse seu currículo. Mestrado na Espanha, doutorado nos Estados Unidos, poliglota, inúmeros artigos científicos e livros publicados, experiência profissional extensa e por aí vai. Ele então me perguntou "Há alguma coisa de errado nele, Bernt?". Respondi que não. Pelo contrário, estava impressionado com tudo aquilo. Contou-me ainda que tinha planos para o pós-doutorado, além de que era o responsável por toda a parte de pesquisa da universidade em que estuda. Além disso, tinha um emprego. Tinha.

Ernesto narrou então sua história profissional recente. Tudo ia muito bem, até que a empresa entrou em dificuldades financeiras extremas e, em um momento de grande aperto, o setor dele acabou sendo desativado, inteiro, e todo o pessoal foi despedido. Não havia maneiras de remanejá-lo para outra área, pois seu trabalho era muito específico.

Ao começar a procurar empregos, ele se frustrava. Era chamado para as entrevistas, todos gostavam dele e apreciavam seu currículo e habilidades. Contudo, em um dado momento do processo seletivo, ele sempre era dispensado. Indagado a certa altura do campeonato, decidiu perguntar porque cargas d´água ele havia sido recusado pela contratante: "superqualificação" foi a resposta.

Com essa pulga atrás da orelha ele veio me procurar, e queria uma resposta. Ele chegou a pensar que deveria tirar um pouco de suas qualificações do currículo para ter chances maiores de ser contratado e respondi que de maneira alguma isso deve ser feito. Isso seria, literalmente, desprezar o próprio tempo dedicado ao estudo e à qualificação, um insulto a si mesmo. Contei-lhe então que ele estava se candidatando a vagas que não utilizariam toda a sua capacidade de produção, por isso outros candidatos eram escolhidos.

As empresas dispensam esse tipo de profissional pois, em pouco tempo, ele, que tem uma "superqualificação", pode se sentir desmotivado pelo trabalho ser muito fácil, ou mesmo por se sentir estagnado gerenciando coisas de grau de importância menor, que ele faria com toda a certeza "com o pé nas costas".

Aconselhei-o para que se candidatasse a vagas em que todo o seu potencial fosse aproveitado, e que procurasse um desafio à sua altura. Com um novo objetivo em mente, Ernesto deixou o escritório, pensando em que tipo de atividade poderia aplicar seus conhecimentos.

Alguns meses depois ele me procurou novamente. Chamou-me para um café, queria contar as notícias de sua retomada profissional. Ernesto tinha feito um concurso público, onde a vaga ofertada era ministerial. O grau de dificuldade era grande, e encaixava-se na alta qualificação que ele possuía. Foi extremamente bem no teste, porém, ficara empatado com um outro candidato na pontuação. Para a alegria dele, e infortúnio do concorrente, o critério de desempate foi a qualificação. Enquanto ele era doutor, o concorrente era "apenas" mestre.

A qualificação, neste caso, foi critério de desempate para a vaga preterida. Mas, e todas as outras pessoas? Como a informação e a formação devem ser dosadas para conquistar uma vaga? Terça-feira falarei sobre o assunto com vocês aqui, neste mesmo jornal, neste mesmo caderno. Até lá!

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