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A Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção prevê um segundo semestre melhor para o setor, que estima crescer 3% neste ano | Cesar Machado/ Gazeta do Povo
A Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção prevê um segundo semestre melhor para o setor, que estima crescer 3% neste ano| Foto: Cesar Machado/ Gazeta do Povo

Preço menor não se reflete no desempenho

Uma característica ligada ao varejo de materiais de construção é o fato de os preços não influenciarem tanto nas vendas. De acordo com cálculos da Confederação Nacional do Comércio, a precificação média do setor subiu 6,4% entre junho de 2013 e junho de 2014, acima da inflação, enquanto o desempenho de vendas acumula crescimento real no período. Em 2009, os preços subiram muito mais (9,6%) e os negócios despencaram.

Já em 2010, ano em que houve crescimento do PIB, as vendas deslancharam – mais de 15% de incremento – mesmo com reajuste de preços também acima da inflação. Isso explica por que o setor prefere outras saídas para estimular as vendas – entre elas, servir de ponto de entrega para a logística reversa das fábricas. "Atrair público para dentro da loja já é negócio para o empresário", explica Eduardo Guimarães, da Fecomércio-PR.

Reforma deixa de ser prioridade no consumo

Medidor do potencial de consumo das famílias, o índice IPC Maps mostra que o varejo de materiais de construção perdeu prioridade nos últimos dois anos. Em 2012, as despesas com artigos como tijolo, cimento, canos e tintas responderam por 4,9% de tudo que foi consumido pelos brasileiros – quase R$ 134 bilhões. Apesar de o valor de 2014 ser superior (R$ 158,7 bilhões), a categoria perdeu participação na cesta de consumo do brasileiro – 4,86%. "É uma queda pequena, mas representará menos R$ 1 bilhão para o setor", diz Marcos Antônio Pazzini, da editora IPC. Nesse quesito, o setor automobilístico está melhor, assim como a alimentação fora de casa e o setor de higiene e beleza.

O crédito mais caro e raro em 2014 teve reflexo direto nas vendas do varejo de materiais de construção. Ao contrário do desempenho mostrado em anos anteriores, em que houve crescimento real de 4% em média, o setor deve fechar 2014 com incremento de 3%, pela projeção da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). No acumulado de 12 meses até agosto, o porcentual foi o menos animador em três anos: as vendas apenas repetiram o mesmo volume do período de 2013, sem avanço.

INFOGRÁFICO: Em agosto, as vendas não cresceram no acumulado de 12 meses

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) prevê crescimento menor para o ramo: 1,4%, menos do que os 4% projetados para todo o varejo, segundo o economista Fábio Bentes. Isso porque as lojas de materiais de construção fazem parte do grupo de varejistas que depende de financiamentos atrativos para deslanchar – assim como as vendas de automóveis e de eletrodomésticos.

Com a taxa de juros cobrada das famílias a 43,2% ao ano (na modalidade crédito livre), segundo o Banco Central, está se repetindo em 2014 o mesmo cenário de 2009 e 2011, dois anos ruins para o ramo. Em 2009, com a taxa de juros a 42,5% ao ano, as vendas caíram 6,6%. Foi a mesma queda verificada em 2011, quando a taxa chegou a 42,6% na metade do ano.

Em 2012 e 2013, a taxa de juros não passou de 40% e o varejo da construção pôde crescer. O setor ainda mantém crescimento em 2014 – de 2% segundo o IBGE – devido a estímulos como o aumento do limite de imóveis comprados com FGTS, cujos donos podem buscar financiamento para compra de materiais de construção (o Pro-Cotista), e a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). "Isso ajudou o segmento a não ter resultado pior, mas o efeito vai perdendo força com o tempo", diz Bentes.

A Anamaco avalia que o primeiro semestre pode não servir de parâmetro para o ano. "O segundo semestre é sempre mais forte que o primeiro. Há menos chuvas, o que permite reformas, e o consumidor já pagou os impostos do início do ano", afirma o presidente da entidade, Cláudio Conz. Segundo ele, o setor pretende dobrar o crescimento de 2014 no próximo ano. "Achamos que é possível, o setor não se preocupa com câmbio ou inflação. Não há indicador de menos renda: presido o sindicato patronal e nenhuma negociação salarial está abaixo de 8%", enumera.

Parceria

No Paraná, o varejo de materiais de construção se mobiliza para alavancar vendas a partir de alianças com profissionais de reformas. Segundo o presidente da câmara setorial da Fecomércio-PR, Eduardo Cury Guimarães, a ideia se baseia em dois fatores: a norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em vigor desde abril, que pede projetos para reformas em condomínios, e o aceno de que o Construcard – modalidade de crédito da Caixa Econômica Federal para financiar reformas – pode vir a incluir gastos com mão de obra em 2015.

A ideia é que o varejo passe a oferecer "consultoria" sobre mão de obra aos clientes em troca de indicação semelhante da parte de profissionais – a praxe informal pode se transformar em estratégia.

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