Catador de recicláveis em Piraquara: renda média dos pobres na RMC caiu de 2007 para cá| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Futuro

Combate à pobreza requer cada vez mais esforço

O Paraná é um dos estados que mais obteve sucesso em reduzir abismos sociais desde os anos 1990. Estaria hoje em primeiro no Brasil (menor coeficiente de Gini), não fosse Santa Catarina. Além de ter o menor índice de desigualdade do país, o estado vizinho o melhorou em 20% em 21 anos, outro recorde brasileiro.

Fora isso, o Paraná teve resultados mais expressivos do que São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Espírito Santo – tanto nos índices atuais quanto no desempenho para melhorá-los. Outros cinco estados (Goiás, Piauí, Mato Grosso do Sul, Ceará e Pernambuco) conseguiram reduções maiores (entre 17,3% e 14,8%), mas ainda apresentam índices piores do que o paranaense.

O desafio do Paraná, agora, é continuar reduzindo a desigualdade. Quanto mais uma região se aproxima de bons índices, mais esforço é preciso para romper a inércia e continuar avançando. "O efeito marginal do crescimento da economia impacta cada vez menos na pobreza, a não ser que o crescimento seja exponencial", diz Manuel Thedim, do IETS.

Já o agronegócio desponta como uma oportunidade de reduzir mais o abismo social no interior do estado. "Estamos assistindo a uma transformação do emprego agrícola, com mais trabalhadores qualificados ganhando salários mais altos", afirma Henrique Neder, da UFU.

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Nos últimos 20 anos, o Paraná tem mostrado avanços superiores à média brasileira no eterno combate à pobreza. O problema é que o progresso tem se mostrado mais lento exatamente na região mais populosa do estado. Enquanto o Paraná conseguiu, entre 1992 e 2013, reduzir em quase 15% o coeficiente que mede a desigualdade de renda (Gini), a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) o fez em 11%. A evolução na RMC está próxima do parâmetro brasileiro (queda de 10,3% no período), mas não bastou para que acompanhasse o estado, que passou a apresentar índices melhores a partir de 2012.

INFOGRÁFICO: Veja os índices que apontam como a Região Metropolitana de Curitiba tem reduzido a desigualdade social de forma mais lenta

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Hoje, a RMC representa um ponto de desvio dentro do Paraná. Ao concentrar um terço da população, puxa para baixo o índice estadual de desigualdade social. Mas o fato de, ainda assim, a RMC apresentar números ruins em relação aos do estado, é um aceno de que a discrepância em relação ao interior deve ser ainda maior. A comparação mostra que a renda média dos moradores locais, acima da estadual, revela pouco sobre como eles vivem. Também explica o porquê de a região abranger dois dos dez municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado (Doutor Ulysses e Cerro Azul) e ao mesmo tempo Curitiba – que só perde em IDH, entre as capitais, para o Distrito Federal.

A explicação para esse quadro passa pelo fato de as regiões metropolitanas brasileiras terem, em geral, carência de políticas públicas específicas. Na maioria dos estados – o Paraná incluído –, ser integrado à metrópole significa pouco para um município em termos de desenvolvimento econômico.

"As políticas acabam não sendo homogêneas [na RMC] porque os 29 municípios são muito diferentes. Alguns dependem demais do Fundo de Participação dos Municípios, já outros têm mais autonomia", diz a geógrafa Olga Firkowski, professora da Universidade Federal do Paraná e pesquisadora do Observatório das Metrópoles. "O impacto para o município ligado à RMC é mais de representação do que de políticas objetivas", afirma ela, citando "ganhos indiretos", como inclusão mais abrangente no Programa Minha Casa, Minha Vida.

Salário mínimo

Para o especialista em desigualdade social Henrique Neder, professor de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, aumentos reais (acima da inflação) nos salários mínimos (incluindo regionais) contribuíram para reduzir a desigualdade em cidades rurais – com ganho para o Paraná. "Se considerarmos que trabalhadores rurais têm participação maior entre os recebedores de salário mínimo, pode ser uma das explicações", diz ele.

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A situação do Paraná tem paralelos no Brasil. São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Rio Grande do Sul conseguiram reduzir a desigualdade entre 3% e 15% desde os anos 1990. Mas suas regiões metropolitanas tiveram reduções menores – de 0,4% a 10%. O economista Manuel Thedim, diretor do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), diz que o impacto de programas de transferência de renda (o Bolsa Família é o maior exemplo) é menor nos centros urbanos, o que explica, em parte, a redução mais lenta do Gini nas regiões metropolitanas. "A desigualdade diminui mais rapidamente no interior porque era mais severa lá", avalia.

Superação

Vida de dificuldade na infância ficou para trás

Em cerca de duas décadas, a secretária Vera Lúcia Brazão, 46 anos, cruzou o abismo que separa uma vida de extrema pobreza de outra típica de classe média baixa. "Hoje, me considero rica", diz ela, que mora em casa alugada, tem motocicleta e pode pagar a escola do filho. Os pais dela deixaram a área rural de Londrina em meados dos anos 1970. Vera não tinha bonecas – a não ser as feitas de espiga de milho –, usava roupas doadas e dividia um par de chinelos com os irmãos. "Meu pai deixava de comer para alimentar os filhos", diz.

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