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O uso de biocombustíveis para abastecer carros e caminhões ao redor do mundo tem limitações às quais o álcool de cana-de-açúcar não escapa. Uma das preocupações na Europa é que o aumento na produção brasileira eleve a pressão sobre a floresta tropical na Amazônia. O argumento que o governo do Brasil vem apresentando é o de que a cultura da cana avançaria sobre pastagens no Sudeste e no Centro-Oeste do país – a área plantada poderia passar de 6 milhões de hectares para quase 30 milhões de hectares sem a derrubada de florestas. Para validar o raciocínio, porém, a expansão não poderia ser acompanhada de migração de pastagens e de plantações de soja para a Amazônia.

Outro problema é que o fortalecimento do mercado de biocombustíveis pode encarecer os alimentos. Os primeiros reflexos dessa tendência já foram sentidos no mercado de milho nos Estados Unidos, onde o grão é a principal fonte de álcool. Na Alemanha, os produtores de cerveja já ameaçam repassar para o preço final da bebida os custos maiores com cereais. Eles reclamam que a demanda por biodiesel e etanol fez com que muitos agricultores passassem a vender a produção para usinas de etanol ou optassem por plantar oleaginosas.

Na última edição da revista Foreign Affairs, dois pesquisadores norte-americanos chamam a atenção para o risco da pressão sobre os preços dos alimentos em um artigo com o sugestivo título "Como os biocombustíveis podem deixar os pobres com fome". Eles ressaltam que cada 1 ponto porcentual de aumento no preço dos alimentos empurra 16 milhões de pessoas em todo o mundo para baixo da linha da insegurança alimentar.

O raciocínio é mais válido para Europa e Estados Unidos, onde grãos são usados na produção de etanol. Mas esse não deixa de ser um argumento ao qual o Brasil terá de rebater se quiser exportar um volume maior do combustível.

O último obstáculo que os biocombustíveis terão de vencer é a criação de um mercado global, com padrões, certificações e infra-estrutura. Parece simples, só que o processo para desenvolver todos esses fatores é lento e envolve muita negociação. Questões como os parâmetros ambientais no manejo do solo, direitos trabalhistas e qualidade do produto final fazem parte da lista de itens que podem entrar na discussão. Além disso, os mercados consumidores terão de criar estoques reguladores e controles internos para estabilizar a oferta.

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