Bom desempenho das commodities agrícolas ajuda a melhorar o cenário econômico.| Foto: Michel Willian/Arquivo/Gazeta do Povo
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As expectativas para o desempenho da economia brasileira em 2021 vêm melhorando nas últimas semanas. É o que aponta o relatório Focus – uma pesquisa feita semanalmente pelo Banco Central (BC) junto ao mercado financeiro: o ponto médio (mediana) das previsões de crescimento da economia brasileira passou de 3,04%, em meados de abril, para 3,14%, no início de maio.

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“É uma variação pequena, mas que reflete uma melhoria nas condições da economia brasileira”, diz Celson Plácido, diretor de investimentos da Warren.

No começo do ano, uma queda do PIB no primeiro trimestre era praticamente um consenso no mercado financeiro. Mas os dados positivos de atividade econômica publicados desde então levaram bancos e consultorias a melhorar suas projeções – e tornaram-se mais comuns apostas de queda muito suave ou até de alta em comparação com o último trimestre de 2020.

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As projeções para a variação em relação ao primeiro trimestre de 2020 seguem negativas, mas melhoraram bastante: a o ponto médio das expectativas coletadas pelo boletim Focus passou de -1% no começo de março para -0,5% atualmente. Os dados oficiais serão divulgados pelo IBGE apenas em 1.º de junho.

Uma série de fatores tem influenciado esse movimento. Em relatório enviado a clientes, economistas do Bradesco afirmam que o ambiente global favorável, a disponibilidade de crédito, os juros relativamente baixos, a poupança acumulada durante a pandemia e o desempenho no mercado de trabalho têm mais do que compensado a piora das condições financeiras desde o início do ano.

“A economia brasileira tem mostrado elevado grau de resiliência ao choque da Covid e à própria redução dos estímulos de início de ano”, sintetiza o documento.

E bons números tem aparecido nos últimos dias. Dados apontam que abril teve um saldo recorde de US$ 10,35 bilhões na balança comercial, 67,9% a mais do que no mesmo período de 2020, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Os números da produção industrial vieram melhores do que se esperava: segundo o IBGE, a produção industrial encolheu 2,4% em março ante fevereiro. A expectativa era de que a queda pudesse ser superior a 3%.

Segundo economistas do Bradesco, os dados até fevereiro e os sinais iniciais de atividade de abril sugerem que o efeito das restrições à mobilidade – por causa da segunda onda da pandemia da Covid-19 – deve ser transitório e de menor intensidade do que o inicialmente previsto.

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“O avanço da pandemia, os desdobramentos da CPI da Covid, as restrições à mobilidade e o estresse político ainda são fatores de risco preponderantes. A questão eleitoral está se fortalecendo. Mas os efeitos altistas estão se sobrepondo aos aspectos negativos”, diz o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

Instituições financeiras já começam a refazer, para cima, as contas sobre o desempenho da economia em 2021. “Podemos ser surpreendidos e ter um PIB melhor do que se esperava”, diz o executivo da Warren.

Ele lembra que o consumo vem de um resultado fraco no ano passado e a demanda por commodities brasileiras, como soja, milho, minério de ferro e petróleo está em alta, com bons preços no mercado internacional.

O Banco Fibra ainda mantém sua previsão de crescimento de 3,3% da economia brasileira em 2021, mas trabalha com um viés de alta. “Diversos indicadores (coincidentes e antecedentes) sugerem que a resiliência da economia às (novas) medidas de isolamento social foi mais forte que a estimada anteriormente. Além disso, a taxa de câmbio bastante depreciada em termos reais contribui para a dinâmica positiva do setor externo”, ressaltam economistas do banco.

Economistas do banco Itaú falaram em "atividade resiliente" na última sexta-feira (7), ao justificar o aumento de sua projeção para o PIB em 2021. A expectativa de expansão foi revisada de 3,8% para 4%. No mesmo comunicado, o banco fez ligeira redução na sua estimativa para o primeiro trimestre (de +0,5% para +0,4%) e elevou de -0,5% para -0,1% a previsão para o segundo trimestre.

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"A atividade econômica não parece estar sofrendo de forma relevante com a redução dos auxílios emergenciais", aponta o relatório. "Como esperávamos, o crescimento expressivo da economia global e a esperada redução na taxa de poupança das famílias brasileiras atenuam o efeito negativo da redução da renda disponível sobre a demanda."

Confira a seguir seis fatores positivos que ajudam a explicar esse desempenho da economia brasileira, que vem se saindo melhor que o esperado no início do ano:

1. Bom desempenho da economia mundial

Mesmo no cenário internacional, a economia vem se mostrando resiliente. Ela é impulsionada pela abertura segura de grandes economias, como o Canadá o Reino Unido, após a adoção de medidas à restrição da mobilidade e de avanço da imunização.

Segundo o site “Our World in Data”, ligado à Universidade de Oxford (Reino Unido), esses países tinham, até o dia 4, respectivamente, taxas de vacinação de 34,78 doses e de 51,26 doses por grupo de 100 pessoas. No Brasil, essa taxa era de 14,55.

Outro fator que tem contribuído é o forte crescimento da economia chinesa, que contribui para uma demanda maior por commodities brasileiras. A expectativa do FMI é de que o país asiático, uma das poucas economias que cresceram em 2020, tenha uma alta de 8,5% no PIB neste ano, a maior taxa desde 2011.

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Quem também deve ter um bom desempenho é a economia norte-americana, a maior do mundo. O Bradesco avalia que o país deve ter um dinamismo extraordinário assegurado pela combinação de estímulos, vacinação e contenção de casos de Covid-19. A projeção do Fundo é que os EUA tenham um crescimento de 6,4% neste ano, a maior expansão desde 1984.

O diretor da Warren vê que há espaço para mais queda do dólar frente ao real, podendo chegar até R$ 5,15. De um lado, o que favorece é a alta na taxa Selic, que subiu para 3,5% ao ano, na última quarta-feira (5), o que atrai dinheiro a ser aplicado em títulos do Tesouro. De outro lado, há os reflexos do bom momento das matérias-primas agrícolas e minerais brasileiras.

Os economistas do Bradesco destacam que os preços das principais commodities exportadas pelo país se mantêm em patamares recordes, e a recuperação da economia mundial – que deve crescer 6%, de acordo com o FMI – tem impulsionado as exportações, devendo levar o país a registrar um superávit em transações correntes.

O Itaú aponta que, embora o risco fiscal permaneça elevado, o aumento na Selic e a perspectiva de recorde nas exportações – favorecida pelos preços elevados das commodities – deve dar alguma sustentação para o real.

“O Brasil ainda não surfou na onda da valorização das moedas dos países emergentes. Há perspectivas para apreciação cambial por parte do real”, complementa Sanchez.

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2. Disponibilidade de crédito e juros relativamente baixos

Influenciadas pelo fraco resultado de janeiro, as concessões de crédito encolheram 1% no comparativo entre os primeiros trimestres de 2020 e 2021, segundo dados do BC. Porém, a tendência é de crescimento. A expectativa do Bradesco é de uma expansão de 9,5% nos empréstimos em 2021.

“Os patamares atuais continuam compatíveis com uma expansão robusta da carteira de empréstimos em 2021”, apontam os economistas do Bradesco. A demanda, segundo a Serasa Experian, está em alta entre as micro e pequenas empresas e no segmento de serviços.

Mas Plácido, da Warren, lembra que, entre os pequenos empreendedores, ainda há dificuldades no acesso ao crédito. “Há muitas empresas que estão com o capital de giro negativo.”

Os juros estão relativamente baixos, em comparação com o histórico brasileiro, o que também é positivo. Porém, tendem a voltar a subir após as elevações da taxa básica de juros pelo Banco Central. Após duas altas, a Selic chegou a 3,5% ao ano na semana passada.

3. Injeção de capital com auxílios do governo

A reedição de programas de estímulo à economia por parte do governo contribui para injetar mais capital na economia. “É um fator que fortalece o cenário”, explica Sanchez, da Ativa Investimentos.

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Já foram relançados o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que em poucos dias já contabiliza mais de meio milhão de acordos, e o auxílio emergencial.

E em breve deve sair a nova versão do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que foi aprovado na noite de quarta (5) na Câmara e agora retorna ao Senado.

4. Poupança acumulada durante a pandemia

Um fator que deve ajudar a animar a economia neste ano é a poupança feita pelas famílias no ano passado. O Centro de Estudos de Mercados de Capitais (Cemec-Fipe) estima que, entre as famílias, este valor possa ter chegado a R$ 334 bilhões, o equivalente a 7% do consumo total do ano passado.

“As famílias reduziram sua propensão a consumir”, explicou Carlos Antônio Rocca, coordenador do Cemec-Fipe, ao jornal “Valor Econômico”. Esse comportamento foi determinado por dois aspectos: os circunstanciais, como as restrições impostas pelo isolamento social, e os precaucionais, diante do temor da perda de emprego e renda.

5. Desempenho do mercado de trabalho

Economistas do Bradesco apontam que o mercado de trabalho tem surpreendido. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) mostram que no primeiro trimestre do ano foram criadas 837 mil novas oportunidades de trabalho com carteira assinada, quase 12,5 vezes mais que no mesmo período de 2020.

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Segundo os economistas, é uma trajetória persistente de recuperação, consistente com dados de arrecadação, crédito, varejo ampliado e os serviços prestados às famílias.

Um aspecto que pode contribuir para a continuidade de bons números no mercado de trabalho é a reedição de medidas de enfrentamento à pandemia por parte do governo federal.

“Assim, a renda do trabalho, os novos estímulos fiscais e os vetores de resiliência parecem contratar um baixo risco de frustração com a atividade no segundo semestre”, avaliam os economistas do Bradesco.

6. Fim do impasse sobre o Orçamento e bons resultados das licitações

Outro fator que contribui para ajudar a melhorar as expectativas para a economia brasileira é o fim do impasse que havia sobre o orçamento da União para 2021. A peça só foi sancionada em abril. Ela abre espaço para despesas para o combate à Covid-19, fora do teto de gastos, que podem passar de R$ 100 bilhões. Os dados incluem os restos a pagar de 2020 e as parcelas do auxílio emergencial, que começaram a ser pagas em abril.

Plácido afirma que esse atraso estava provocando uma instabilidade que se refletia no câmbio. A moeda norte-americana, que chegou a fechar em R$ 5,8397 em 9 de março, caiu abaixo de R$ 5,30 na semana passada.

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Outro termômetro favorável, no âmbito fiscal, é o bom resultado das últimas licitações de infraestrutura e saneamento. O ágio médio nas concessões de três blocos de aeroportos foi de 3.822%. E o da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) foi de 133%, mesmo com um dos quatro blocos não tendo recebido oferta.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]