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Empreendedorismo

Lições de uma empresa centenária

Nilo, Vera Lúcia, Maria Elisa e Orlando: no início da década de 1980 eles decidiram mudar a Cini do bairro Batel, em Curitiba, para a região metropolitana | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Nilo, Vera Lúcia, Maria Elisa e Orlando: no início da década de 1980 eles decidiram mudar a Cini do bairro Batel, em Curitiba, para a região metropolitana (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

É raro ver uma empresa familiar chegar à quarta geração. Mais raro ainda ver a direção partilhada por parentes que se mantêm coesos e com foco nos mesmos objetivos. Esse é, segundo os atuais diretores da centenária e paranaense Cini, um dos grandes acertos da empresa, gerida por quatro familiares desde o início dos anos 1980.

Nilo Cini Júnior, Orlando Cini Júnior, Maria Elisa Cini e Vera Lúcia Cini são os empresários à frente da marca de refrigerantes, que está no mercado desde 1904. Foram eles que tomaram grandes decisões que garantiram a presença da empresa até hoje. Ainda muito jovens, optaram pela mudança da sede da fábrica, do bairro Batel, em Curitiba, para Pinhais, na região metropolitana.

O local foi escolhido para que a empresa se adaptasse à nova realidade do mercado: a substituição da garrafa retornável pela descartável. "Tínhamos uma estrutura muito grande para fazer a distribuição e fabricação de produtos retornáveis. O mercado, em dois anos, migrou para os descartáveis de tal forma que logo representavam 80% das garrafas", lembra Nilo Cini Júnior.

A adaptação teve de ser bastante rápida e exigiu um alto investimento, que trouxe a necessidade de revisão do processo de distribuição. "Terceirizamos a distribuição naquela época, porque o custo de mantê-la era alto. Entretanto, foi preciso ter flexibilidade para mais tarde trazer a distribuição de volta. Vender direto ao varejo nos traz uma margem maior, desde que a distribuição seja econômica. Foi uma mudança de estratégia", salienta Orlando Cini Júnior.

Para tornar essa distribuição mais econômica, a empresa focou na diversificação de produtos, para ampliar os ganhos nos processos e conquistar novos públicos. "Colocando novos produtos em uma mesma estrutura, você acaba tendo um custo menor. Isso faz com que se tenha uma margem maior", explica Nilo Cini Júnior.

Para dar conta desse reposicionamento e dos lançamentos, como o Limonada Suiça Cini, o Cini Citrus e o Fruttá – esse último voltado a crianças –, a sede da empresa foi, em 2010, mais uma vez realocada, desta vez para instalações próprias, em São José dos Pinhais. A decisão mais uma vez foi conjunta, o que, segundo os diretores, é um dos grandes acertos que a gestão dos quatro teve para manter a empresa viva.

"Esta gestão é compartilhada e tudo é decidido em conjunto, sem lideranças. Depois da quarta geração a empresa chegou no equilíbrio, com igualdade entre os diretores", ressalta Orlando Cini Júnior.

O caminho para a quinta geração

Em uma empresa que está em sua quarta geração, pensar no processo de sucessão é sempre um desafio. Na época em que os atuais diretores assumiram o negócio, era visto como natural a chegada dos filhos à organização. "A empresa familiar sempre tem um pouco de dificuldade de ensinar, talvez pela informalidade que ela tenha nesta questão de gestão. Mas que se você consegue isso, tem um resultado melhor", avalia Nilo Cini Júnior.

A atual geração sabe que entrar na empresa sem conhecer o mercado também impacta na gestão – é isso que hoje tentam passar para os filhos, muitos deles formados em outras áreas de atuação. "O que a gente não teve foi experiências em outros locais. Por isso, a formação tem de ser primeiro fora e depois para dentro. A gente fala: ‘Você vem para dentro quando você estiver pronto’. A gente direciona, instrui, mostra o caminho. Antigamente cada família tinha cinco filhos, hoje são só um ou dois. A gente está em cima também, mas a opção final é deles", diz o empresário.

Profissionalização

Antes mesmo de pensar em um novo processo de sucessão, a Cini passou pela experiência de ter um executivo de fora. Mas o resultado não foi o esperado. "Uma pessoa dessas é cara e requer uma equipe. Isso tem um custo alto para a empresa, com uma estrutura importante, e na época não vingou. Aprendemos muito com a situação e hoje a empresa só conta com familiares", destaca Nilo.

Colaborou Helena Salgado

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