• Carregando...

Em 1978, Antônio Ermírio de Moraes lançou, um manifesto histórico que ficou conhecido como "Documento dos Oito", em parceria com Jorge Gerdau, José Mindlin, Severo Gomes, Paulo Villares, Cláudio Bardella, Laerte Setúbal Filho e Paulo Vellinho. No texto, os empresários pediam mudanças na política econômica e a volta da democracia.

Em 1981, quando atentados terroristas tiveram como alvo a Ordem dos Advogados do Brasil, bancas de jornais e ao show no Riocentro, Ermírio afirmou: "Os mesmos empresários que financiaram a repressão política em 1968 e 1969 são os homens que querem fechar hoje o regime".

Na visão de Ermírio, havia empresários "que tinham outras finalidades, que não a produção" e que achavam mais fácil "agir em um país fechado, porque toda a sua ação corrupta fica protegida".

"Naquela época sabia-se alguma coisa de participação de empresários financiando a repressão. Havia pressão do governo. Sinceramente nunca participei disso, mas sabia que existiam alas ponderáveis que participavam", agregou.

Apoiador do movimento pelas Diretas-Já, Ermírio disputou as eleições de 1986 para o governo do Estado de São Paulo pelo PTB, a mesma sigla pela qual seu pai tinha sido senador e a quem prometera jamais entrar na política.

Na campanha, negou acusações sobre más condições de trabalho em suas empresas, emprego de trabalho infantil e poluição. Sindicalistas o classificaram como "autoritário". Em meio ao tiroteio político, trocou acusações com o adversário Paulo Maluf, a quem chamou de "corrupto, sem-vergonha e cara de pau".

Perdeu para Orestes Quércia. Contou que foi ao cemitério pedir perdão por ter quebrado a promessa ao pai, para quem a política seria nefasta à saúde de Ermírio e aos negócios da família.

Na primeira eleição direta à Presidência após a ditadura, apoiou Fernando Collor. Mas se desiludiu com o governo, passando a criticá-lo por empurrar o empresariado para a ilegalidade.

Quando estourou o escândalo PC Farias, Ermírio declarou que a Votorantim tinha pago ao tesoureiro de Collor por um serviço não realizado. Disse que a transação tinha sido um erro praticado pelo grupo.

"Não aceito lobismo", afirmou à CPI do Collorgate. Com os olhos marejados, encarou os parlamentares: "O dia em que eu investir dinheiro lá fora, eu me considero um não brasileiro".

Votou em Fernando Henrique Cardoso, mas criticou a política econômica do seu governo por "ficar refém do capital estrangeiro especulativo", atraído pelas altas taxas de juros.

Disputa

Quando as privatizações deslancharam, quis comprar a Vale do Rio Doce em 1997. Fez um consórcio com a mineradora sul-africana Anglo American, que acabou derrotado por Benjamin Steinbruch.

Ao final do leilão, usou Machado de Assis (1839-1908), seu autor preferido, para comentar a perda. "Aos perdedores, as batatas", declarou Ermírio, fazendo uma paródia com uma frase de "Quincas Borba" (1881). No sexto capítulo do livro está escrito: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas".

No ano seguinte, grampos telefônicos revelaram que o governo agiu para transferir de Ermírio para Steinbruch o apoio do fundo de pensão do Banco Brasil (Previ), interferindo na disputa. "Talvez não tenhamos oferecido o que eles queriam. O importante é que perdemos, mas saímos limpos. Caímos em pé", disse Ermírio em 2002.

Bancos

Feroz inimigo da "agiotagem" do sistema bancário, Ermírio acabou criando o Banco Votorantim. Em 2005 explicou: "Formamos um banco exatamente para evitar pagar aquilo que pagávamos aos bancos para nossas operações. Só que o negócio é tão bom que cresceu demais. O lucro do banco é quase igual ao da Companhia Brasileira de Alumínio. Fico triste em ver que uma coisa tão fácil ganha mais do que um negócio que me tomou a vida inteira para trabalhar; um trabalhão de 50 anos. É uma distorção".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]