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Cascavel – Quem costuma viajar de Cascavel em direção a Foz do Iguaçu, pela BR-277, já não se espanta com a cena. Nos gramados e no pátio de duas empresas instaladas no novo distrito industrial da cidade, avestruzes de mais de dois metros de altura espiam a rodovia por sobre as grades do terreno, não raro acompanhados por pavões, gansos e galinhas. No estacionamento, uma lustrosa Ferrari vermelha ou outro carro importado de semelhante gabarito disputam a atenção com as aves que passeiam nas redondezas. Mas que o viajante não se engane: as extravagâncias a que se permite o empresário Rovílio Mascarello param por aí.

Do lado de dentro dos grandes galpões erguidos em um terreno de 200 mil metros quadrados, a austeridade nos negócios com clientes e fornecedores é uma das características que fizeram da Comil Silos e Secadores a segunda maior empresa do setor no país. Com apenas três anos de existência, a Mascarello Carrocerias e Ônibus mostra vocação para seguir trajetória semelhante: já tem uma fatia de 5% do mercado nacional e deve contabilizar neste ano um crescimento de até 50% em seu faturamento. As duas empresas não escondem o foco na rentabilidade: trabalham com estoques para um dia, e só produzem sob encomenda.

A gestão das indústrias já não está mais nas mãos de Rovílio, que também atua na agropecuária – são 100 mil hectares de terras, em quatro estados – e no ramo imobiliário, com quase uma dezena de loteamentos em Cascavel. A filha Kelly Mascarello Muffato administra a Comil, enquanto a ex-mulher Iracele Mascarello, a Celinha, cuida do andar de cima da fábrica de ônibus.

No entanto, ninguém conhece os segredos da linha de produção como o empresário, responsável pela parte fabril. Absolutamente avesso a fotos e entrevistas, ele caminhou pelo chão de fábrica das duas empresas durante todo o tempo em que Kelly acompanhou a reportagem da Gazeta do Povo, em uma ensolarada tarde de sexta-feira de maio.

Atento a cada detalhe e parando de vez em quando para conversar com líderes de montagem da fábrica de carrocerias, Rovílio deixa transparecer dois de seus traços marcantes: a obsessão pelo controle do que se produz – cada ônibus que avança pela linha de montagem carrega um grande adesivo com um número, para que ele saiba como está o ritmo de produção do dia – e o indisfarçável gosto pelo processo de fabricação. "Meu pai gosta de obra, de fábrica, sabe mexer nos equipamentos, sabe como se faz cada coisa. Ele não é de ficar sentado em escritório", diz Kelly.

A experiência vem de longa data. O grupo nasceu em 1957, quando o bisavô materno de Kelly, o gaúcho Luiz Venturin, aproveitou o início da modernização da agricultura no Oeste do Paraná para montar, em Cascavel, uma oficina de motores a diesel. A mecânica seria herdada por seu filho, que, mais tarde, a venderia para os filhos e o genro Rovílio.

Foi ele o responsável pela entrada no ramo industrial, em 1973 – quando a empresa, então chamada Comércio e Indústria Metalúrgica Santo Antônio Ltda., passou a fabricar carretas agrícolas e máquinas para debulhar cereais. Dois anos depois, teve início a fabricação de silos, secadores e outras estruturas usadas no armazenamento de grãos, hoje os principais produtos da Comil – que detém cerca de 25% do mercado, atrás apenas da gigante Kepler Weber, que tem até 35%.

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