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Chuvas e geadas desafiam os cafeicultores

Depois do excesso de chuva que caiu nos meses da colheita, em junho e julho, os produtores de cafés especiais ainda enfrentaram as rigorosas geadas que atingiram a região no final de julho. De 30% a 50% da safra de grãos especiais do próximo ano sofreu algum tipo de dano, segundo estimativa da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp). Para uma avaliação mais consistente das perdas, é preciso aguardar o período da florada, que acontece entre setembro e outubro, segundo José Rezende da Silva, especialista em cafés de alta qualidade da Acenpp. Os cafeicultores vão aproveitar para renovar o cafezal, antecipando um projeto de médio prazo. Cerca de 20% da área atingida pela geada deve ser renovada. "Vamos trabalhar com variedades mais adequadas à produção de cafés especiais, fazendo um escalonamento das espécies conforme o clima da região evitando variedades tardias em locais em que o clima propicia uma maturação mais tardia", afirma Silva.

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Exemplo

União de produtores faz a força para criar grãos campeões em qualidade

O trabalho conjunto de vinte cafeicultores do distrito de Lavrinha, a 15 quilômetros do centro de Pinhalão, transformou a localidade em referência na produção de cafés especiais dentro do projeto. O grupo se formou há dois anos por iniciativa do produtor Sebastião Vieira Sobrinho, o Tião Batata, que enxergou uma oportunidade de agregar valor ao café e desenvolver a região. Eles investiram R$ 400 mil em recursos próprios na construção de uma sede e na compra de máquinas para o beneficiamento dos cafés especiais. A maioria cultiva, em média, oito hectares de grãos especiais. Se antes era cada um por si e o preço era a única forma de diferenciar os cafés produzidos na Lavrinha, agora eles seguem à risca as orientações do projeto para garantir que o produto atinja e mantenha a pontuação desejada pelo mercado. No ano passado, o grupo exportou, via cooperativa, um contêiner com 340 sacas de café Fairtrade. Neste ano a expectativa é exportar mais de mil sacas. No início deste ano, importadores dos Estados Unidos, Coreia do Norte, Japão e Austrália visitaram a Lavrinha para conhecer os cafés produzidos pelo grupo. "Começamos com 40 produtores, mas depois ficou quem realmente tinha interesse no projeto. Alguns desistiram porque achavam que era perda de tempo", conta Tião, que se emociona ao falar das conquistas do grupo. Tião explica que ainda não é possível falar em retorno financeiro, sobretudo por causa do volume do investimento individual, mas todos sabem que esse é um projeto de longo prazo.

Quem faz

• Início: 2006, com apoio do Sebrae-PR.

• Onde é feito: 45 municípios do Norte Pioneiro do Paraná.

• Área: Cafeicultura.

• Produtores: 7.500 cafeicultores.

• Posição no mercado: Os grãos especiais equivalem a 1% da produção total do Paraná, mas a região é a única do estado com indicação geográfica.

• Produção: 1,3 milhão de sacas beneficiadas por ano.

• Porque é bem feito: Porque está transformando o Norte Pioneiro por meio de um processo de desenvolvimento local focado na capacitação dos produtores para a produção de cafés especiais.

Ademir Baggio, produtor de Ribeirão Claro. Aos 63 anos, ele encarou o desafio de produzir grãos especiais
Ademir herdou a propriedade que foi do pai e do avô, também cafeicultores. Mesmo aposentado, ele não pensa em parar com a produção de café
Até 2009, Ademir plantava café convencional. Agora, ele toca a lavoura de dois hectares de cafés especiais junto com a esposa, Joana Baggio
Joana se reveza entre as atividades da casa e a secagem do café no terreiro. Ao fim do dia, o café é recolhido para que não umedeça com o sereno
Funcionário contratado por Ademir para ajudar na colheita, abana o café recolhido na lavoura para separar os grãos das impurezas
Depois da limpeza, feita ainda na lavoura, os grãos vão para o terreiro para secar. É preciso mexer os grãos constantemente, posicionando-os na direção do sol
Ademir mostra que ainda tem energia para abanar café, mesmo após ter sofrido um infarto.
Há dois anos, Ademir sofreu um infarto e foi hospitalizado, mas confessa que contava as horas para voltar à lavoura de cafés especiais
Depois de torrar e moer os grãos especiais em casa mesmo, Joana passa um café produzido na propriedade
Propriedade do casal Ademir e Joana Baggio, o Sítio Santa Clara fica a quatro quilômetros do centro de Ribeirão Claro, no Norte Pioneiro
Cleomilson Serafim, 27 anos, e o pai, Augusto Serafim, 62 anos. Entraram para o Projeto dos Cafés Especiais em 2010
Augusto Serafim, na lavoura de café da família.
Cafezal da família Serafim, no município de Ribeirão Claro. Eles trabalham com cinco variedades: Catuaí Amarelo, Obatã, PR-99, Ouro Verde e Mundo Novo
Em parte das lavouras de cafés especiais do Norte Pioneiro, a colheita é feita com a ajuda de uma máquina chamada derriçadora
Pelo método da derriça, os grãos caem sobre lonas e depois são recolhidos e encaminhados para a limpeza, onde é feita a separação das folhas e impurezas
Esposa de cafeicultor Augusto Serafim, Oronesta ajuda a mexer o café no terreiro
Depois que o café sai do terreiro, ainda vai para uma máquina para que o processo de secagem seja concluído. O calor gerado pelo fogo ajuda a secar os grãos
Cafés dentro da máquina de secagem. Família Serafim investiu mais de R$ 100 mil na compra de equipamentos para profissionalizar a produção de cafés especiais
Cafés produzidos pela família Serafim já foram exportados para os Estados Unidos e para a Suíça
Cleomilson Serafim fez um curso de degustação de cafés especiais no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Hoje ele sabe identificar os atributos dos cafés que produz
Produtor de Carlópolis, Cláudio dos Santos, 55, adequou a propriedade e investiu R$ 20 mil para produzir cafés especiais.
Café esparramado no terreiro da propriedade do produtor Cláudio Santos. À noite, os grãos são cobertos para não absorver umidade. Mesmo os grãos descascados voltam para o terreiro para secar
Donizete de Lima, produtor de Carlópolis. Com a ajuda dos filhos Tiago e Alberto, ele cultiva cinco hectares de cafés especiais. A expectativa é atingir 250 sacas beneficiadas neste ano, sendo 30% com padrão Fairtrade para exportação
Donizete despeja o café colhido em uma máquina que faz a limpeza e separação dos grãos verdes e vermelhos dos pretos. A família investiu mais de R$ 20 mil na compra de máquinas para limpeza, separação e secagem do café
Luiz Roberto Saldanha Rodrigues, cafeicultor e presidente da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp)
Cafezal da Fazenda Califórnia, em Jacarezinho. Em 2006, Luiz Roberto montou um plano de reestruturação produtiva da fazenda e incluiu o cultivo de cafés especiais
Funcionário faz a colheita mecanizada do café na Fazenda Califórnia, onde o cultivo de grãos especiais soma 240 hectares
A máquina
Na fileira ao lado, um trator vai armazenando os grãos colhidos pela máquina
Depois da colheita, os grãos são lavados e descascados. No mercado internacional, a maior demanda é pelos grãos cereja descascados
Os grãos descascados seguem para o terreiro para secar ao sol e precisam ser mexidos constantemente para que a secagem seja uniforme
Cafés especiais da Lavrinha, distrito do município de Pinhalão
Sebastião Vieira Sobrinho, o
Aos 16 anos, Augusto Cesar Bacon Vieira, filho de Tião, ajuda a secar o café no terreiro, ao lado da casa da família
Cafés especiais das variedades Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo produzidos na Lavrinha. Tião explica que os cafés da região tem sabor frutado e são naturalmente doces

Graças a um projeto criado em 2006 por produtores locais em parceria com o Sebrae-PR, a primeira Indicação Geográfica de Procedência do Paraná tem aroma e sabor de café especial produzido no Norte Pioneiro do estado. A região recebeu, no ano passado, o reconhecimento do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e se juntou ao Cerrado Mineiro e a Serra da Mantiqueira, ambas em Minas Gerais - as únicas três regiões do país com o registro oficial na produção de grãos especiais.

SLIDESHOW: Confira as fotos dos cafés especiais do Norte Pioneiro

A conquista beneficiou 7,5 mil cafeicultores de 45 municípios do Norte Pioneiro do Paraná e colocou a região definitivamente em um mercado que cresce entre 10% e 15% ao ano, segundo a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), na sigla em inglês – enquanto o segmento de cafés tradicionais cresce apenas 3% ao ano.

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Do total, 85% são pequenos produtores familiares como o casal Ademir e Joana Baggio de Ribeirão Claro. Aos 63 anos, eles representam uma nova geração de cafeicultores que aceitou o desafio de produzir cafés especiais depois de uma vida dedicada ao cultivo do café commodity. Baggio foi um dos primeiros a entrar para o Projeto de Cafés Especiais, em 2009. Da lavoura de dois hectares, herdada do pai, já saíram grãos exportados para os Estados Unidos, Japão e Peru.

"Por enquanto, cada produtor busca atingir 30% de sua produção com grãos especiais", diz José Rezende da Silva, superintendente da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp). Somada, a produção de cafés especiais chega a 1,3 milhão de sacas beneficiadas por ano, mas representa apenas 1% de todo o café produzido no estado.

As propriedades que participam do projeto são certificadas Fairtrade – comércio justo, em inglês –, selo que garante um preço entre 30% e 40% acima do mercado de café convencional para a produção baseada em boas práticas ambientais e sociais. Pelas regras do Fairtrade, cada contêiner para exportação precisa ter, no mínimo, 51% de cafés especiais provenientes de pequenos produtores.

Além da indicação geográfica – que atribuiu identidade aos cafés da região e agrega valor de mercado ao produto – a adequação do processo produtivo foi decisiva para alcançar o mercado internacional, destino de 100% dos cafés especiais Fairtrade da região. Os principais compradores são Estados Unidos, Japão e alguns países da Europa.

Desafio

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Desenvolver um padrão capaz de repetir a qualidade ao longo dos anos é o próximo grande desafio. "Enquanto no Sul de Minas a topografia é desfavorável e no Cerrado Mineiro o solo exige irrigação, no Norte Pioneiro temos topografia favorável e solo fértil, mas precisamos lidar com a chuva na colheita. Nada que conhecimento e técnicas apropriadas de manejo não possam resolver", ressalta o presidente da Acenpp, Luiz Roberto Saldanha Rodrigues. Segundo ele, felizmente os produtores entenderam que isso não é custo e sim, investimento.

Pontuação

O que torna um café especial?

Condições climáticas favoráveis; solo fértil; e manejo cuidadoso. A soma equilibrada desses fatores é que define os atributos do café, que também variam conforme a região. A análise da qualidade é feita com base na metodologia de avaliação sensorial objetiva chamada SCAA Cupping Method, que avalia individualmente 10 atributos do café numa escala de zero a 10: fragrância e aroma; uniformidade, ausência de defeitos; doçura; sabor; acidez; corpo; finalização; harmonia; e conceito final. Para ser considerado especial, o café precisa atingir, no mínimo, 80 pontos pela metodologia SCAA. Essa pontuação indica uma bebida adocicada, sem adstringência ou aspereza. Quanto mais essas características são potencializadas, mais especial é o café, que pote atingir até 100 pontos. Enquanto isso, a classificação dos cafés tradicionais leva em conta a quantidade e os tipos de defeitos de uma determinada amostra.

Cafés especiais

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