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Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul, disse que as picapes envolvidas nessa primeira fase serão a Ford Ranger e a Volkswagen Amarok . | BILL PUGLIANO/AFP
Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul, disse que as picapes envolvidas nessa primeira fase serão a Ford Ranger e a Volkswagen Amarok .| Foto: BILL PUGLIANO/AFP

As montadoras Ford e Volkswagen anunciaram nesta terça-feira (15), durante o autoshow de Detroit, nos Estados Unidos, os termos de uma parceria global com objetivo de aumentar escala de produção de veículos comerciais leves. A parceria, que não inclui troca de ações das companhias ou a criação de nenhuma nova empresa, prevê a fabricação conjunta de veículos – a começar pelo comerciais leves – e um protocolo de cooperação entre as duas empresas na produção de carros autônomos e elétricos.

O CEO da Ford, Jim Hackett, disse à agência de notícias Reuters que os efeitos regionais da aliança devem ser divulgados nas próximas semanas, mas que não se deve esperar por mais demissões como resultado desse acordo – há cinco dias, a montadora americana anunciou que vai cortar vagas na Europa, onde emprega mais de 50 mil pessoas como parte de seus planos reestruturação global. O presidente de mercados globais da Ford, Jim Farley, por sua vez, também reforçou que mais detalhes regionais seriam divulgados em breve, inclusive na América do Sul, durante o lançamento de SUV da marca na semana passada.

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O CEO da Ford, Jim Hackett, durante o lançamento do Mustang Shelby, na segunda-feira (14)BILL PUGLIANO/AFP

Amarok e Ranger devem servir de ponto de partida para primeiro produto da aliança Ford-VW

O primeiro lançamento conjunto a nível global desta aliança será uma picape, prevista para 2022. Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul, disse que as picapes envolvidas nessa primeira fase serão a Ford Ranger e a Volkswagen Amarok – os dois modelos concorrem fortemente no Brasil.

De acordo com Watters, a montadora americana terá a liderança no desenvolvimento de motores e plataformas. As próximas gerações dessas picapes podem ser produzidas na mesma fábrica. Hoje, Ranger e Amarok são feitas na Argentina, em diferentes unidades. Watters afirma que os principais mercados para esses novos utilitários serão a América do Sul, a África e a Europa.

“É importante que os produtos sejam diferenciados, mas teremos ganho de escala e compartilhamento. Ainda não falamos aonde a montagem vai ser, temos opções, mas ainda não chegamos ao ponto de anunciar onde irá acontecer”, disse Watters.

A Argentina já tem uma fábrica conjunta para produção de picapes. A japonesa Nissan já produz a Frontier na unidade de Córdoba, de onde sairá também a Mercedes Classe X, que chega ao mercado ainda neste ano. Em seguida, virá a Renault Alaskan. O país vizinho está se tornando um polo de produção de veículos utilitários de médio porte. A Toyota Hilux também é montada lá.

As picapes são produtos de maior rentabilidade para as empresas. No Brasil, a produção é prioritariamente de veículos compactos, de menor valor agregado.

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Autolatina foi primeira parceria entre Ford e Volks no Brasil e na Argentina

Não é a primeira vez que as concorrentes tentam trabalhar juntas. Entre 1987 e 1996, a joint venture Autolatina compartilhou as operações das duas empresas nos mercados brasileiro e argentino. Naquela época, o setor automobilístico local passava por retração, e o acordo buscava a sobrevivência das companhias. 

O modelo da época era diferente do atual não só pela limitação de mercado. Com formato de joint-venture, as ações eram 51% controladas pela Volks e 49% pela Ford. Entre os motivos para o fracasso daquela experiência estiveram a falta de investimento das matrizes e uma dificuldade de comunicação com revendedores.

Após falar sobre os planos para a América do Sul, o presidente da Ford na região ressaltou que não se trata de uma repetição da Autolatina —empresa criada em 1987 para unir as duas marcas no Brasil e que perdurou até 1996. “Vou dizer o que esse acordo não é. Não se trata de uma volta da Autolatina, se limita aos produtos. São duas empresas separadas, com DNA diferente.”

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Sobre as diferenças entre essa aliança e outras parcerias que deram errado, como a própria Autolatina no Brasil e a fusão dos grupos Daimler e Chrysler nos anos 1990, Watters diz que houve aprendizado.

“As pessoas aprendem com o tempo, apreendem a formar alianças. Além disso, o mundo está mudando, há mais competitividade. O centro de tudo é o consumidor, precisamos compartilhar os pontos positivos. Não tínhamos tanta experiência antes, mas trabalhamos com muitas outras parcerias no mundo e aprendemos com isso.”

Juntas, Ford e Volkswagen produziram cerca de 1,2 milhão de veículos comerciais leves globalmente em 2018.

No mercado europeu, vans serão foco da parceria

As empresas também falaram no lançamento de vans comerciais para o mercado europeu, sendo que os modelos maiores e comerciais devem ser o foco da Ford, enquanto a VW ficará com a criação e produção de uma van urbana para esse público.

A popularização dos carros elétricos talvez seja o principal ponto estratégico da aliança, segundo fontes do Financial Times. Também segundo a Reuters, os custos de produção envolvidos no desenvolvimento de tecnologias para carros elétricos e autônomos são o principal desafio hoje sobre a indústria automotiva mundial.

A VW desenvolveu uma tecnologia de eletrificação, chamada MEB, que é uma espécie de chassi curinga. Pequeno e leve, o MEB pode ser acoplado a diferentes tipos de carros, como hatches, SUVs, micro-ônibus e até carros de corrida.

A VW está investindo pesado nesta área, com uma previsão de gastar até 30 bilhões de euros em eletrificação nos próximos cinco anos, uma quantia sem precedentes na história da indústria.

Com 12 marcas em seu portfólio, a VW está acostumada a desenvolver tecnologias verticais. Mas expandir esta tecnologia para a concorrente Ford seria uma novidade, e traria uma vantagem competitiva para a Volks na corrida pela eletrificação.

Todas as principais montadoras do mundo hoje se debruçam em encontrar caminhos para baratear os carros elétricos, tornando-os tão acessível quanto veículos à gasolina ou diesel.

Reestruturação da Ford e o Brasil

No ano passado correram boatos de que a companhia estudava vender toda a sua operação na América do Sul. A Ford negou, disse que não é verdade. Mas reconheceu que um redesenho do modelo de negócios era “Necessário para determinar onde devemos participar e como podemos vencer neste mercado”.

Só no Brasil, a empresa tem quatro fábricas, em Camaçari, São Bernardo do Campo, Tatuí e Taubaté. Antes da crise, entre 2006 e 2014, a América do Sul rendeu US$ 4,607 bilhões para a montadora, o que correspondeu a 20% da lucratividade da companhia — mesmo representando apenas 8,3% dos carros vendidos.

Uma possível aliança Ford-VW seria líder nos segmentos de automóveis e veículos comerciais leves, com mais de 25% do mercado, e de caminhões, com 50% de market share. Juntas, as marcas Volkswagen, Scania e Man (do grupo VW) e Ford emplacaram 38.194 caminhões no ano passado, 60% a mais do que a atual líder Mercedes Benz, com 22 mil. Os dados são da Fenabrave.

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