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Christine Lagarde foi nomeada por consenso após conseguir muito mais apoios que o mexicano Agustín Carstens | Jim Watson/AFP
Christine Lagarde foi nomeada por consenso após conseguir muito mais apoios que o mexicano Agustín Carstens| Foto: Jim Watson/AFP

"Mérito"

Brasil anuncia apoio na última hora

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que declarou ontem apoio formal do Brasil à candidatura de Christine Lagarde, reclamou que o processo de deliberação foi muito curto, impossibilitando uma discussão e um aprofundamento maior da posição brasileira. "Esperamos que o processo seja mais demorado na próxima eleição", disse Mantega.

Segundo ele, a escolha brasileira se deveu à experiência, ao currículo e o conhecimento das questões mundiais da ministra francesa, mas sobretudo pelo seu comprometimento em continuar as reformas e a modernização no FMI. "Essa reforma inclui continuar a aumentar a posição dos países emergentes, que hoje têm mais voz e mais votos nas decisões do fundo", afirmou.

Para Mantega, a decisão não significa a escolha de uma candidatura europeia. "É por mérito", disse. Segundo ele, é preciso desfazer um "velho acordo", que vem desde a década de 1940, de que sempre um europeu dirige o FMI e um americano comanda o Banco Mundial. "O (ex-diretor) Strauss-Kahn já era um europeu que teve comportamento global. Queremos que na próxima eleição não venham com essa história. Pode até ser um europeu, mas tem de haver competência", acrescentou. Para Mantega, a francesa não deverá olhar apenas para a crise europeia, mas também para os outros países.

O ministro afirmou que a decisão brasileira foi conversada com outros países, como África do Sul, Argentina e Rússia. Na segunda-feira, a China já havia anunciado apoio a Christine. "Buscamos formar um consenso sobre o que queremos para o FMI. Não só no sentido de fiscalizar os países emergentes, mas fiscalizar mais os países avançados, que têm causado crises econômicas", afirmou.

Além disso, segundo Mantega, o Brasil deseja aumentar a participação dos emergentes nas diretorias do Fundo. Outra reivindicação é de que não haja restrições ao controle de capitais. Para o ministro, o FMI precisa continuar atuando em sintonia com o G-20 que, segundo Mantega, é o principal órgão de coordenação da economia mundial.

Agência Estado

A comissão executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) nomeou oficialmente ontem Christine Lagarde como a próxima diretora-gerente da entidade, depois que a ministra de Finanças da França obteve o apoio dos Es­­ta­­dos Unidos e de várias grandes na­­ções emergentes. Ela será a primeira mulher a ocupar o cargo, mas será o 11.º europeu a ocupá-lo consecutivamente. Lagarde foi apontada para um mandato de cinco anos que começa em 5 de julho.

No posto, ela terá um papel crítico nas negociações de financiamento para os pacotes de ajuda na Europa durante a atual crise da dívida soberana, um problema que ameaça colocar em risco a frágil recuperação global. A nomeação encerra um processo seletivo de cinco semanas para substituir Dominique Strauss-Kahn, que renunciou no mês passado após ser indiciado sob acusações de agressão sexual em Nova York.

O apoio declarado pelos EUA horas antes da nomeação garantiu que o FMI preservasse a tradição de sete décadas, de um europeu liderando o Fundo, enquanto o Banco Mundial fica a cargo de um norte-americano. O apoio também da Europa, da China, do Brasil e da Rússia deu uma clara maioria dos 24 países com assento na comissão para a escolha de Lagarde. Seu rival, o mexicano Agustín Cars­tens, em nenhum momento conseguiu garantir o mesmo apoio amplo de economias desenvolvidas ou emergentes. Ele recebeu apoio público de apenas três países da comissão. Dada a massa de votos, a comissão deixou de lado o voto formal e optou por nomear o próximo dirigente do FMI por consenso. Pouco depois da nomeação, Carstens concedeu a derrota e manifestou apoio à nova diretora-gerente.

Christine Lagarde, por sua vez, exortou a oposição conservadora da Grécia a apoiar o governo socialista e aprovar as novas medidas de austeridade para recolocar as finanças públicas do endividado país nos trilhos. Ela também disse que todos os credores gregos precisam estar envolvidos nas discussões para rolar a dívida soberana da Grécia, o que será crucial para garantir um novo financiamento para o país.

"Se há uma mensagem que eu deva enviar hoje [ontem] é dizer que a oposição grega precisa se unir à entente nacional com o partido que está no poder", disse, em entrevista ao canal de televisão francês TF1 minutos depois de sua nomeação formal para o Fundo Monetário Internacional. Os comentários de Lagarde como nova dirigente do FMI foram feitos no momento em que os ministros de Finanças da zona do euro se preparam para a reunião do próximo domingo, em Bruxelas, para discutir um segundo pacote de socorro para a Grécia, no qual a participação dos credores privados do país terá papel fundamental.

Os bancos franceses apresentaram um plano pelo qual os detentores privados de bônus soberanos da Grécia teriam de aceitar rolar uma larga parcela da dívida quando ela vencer. O plano deverá estar no centro das discussões do fim de semana. "Todos os credores devem ficar ao lado da Grécia, mas a Gré­cia também precisa ser responsável e manter um olhar atento em suas finanças públicas e naqueles que são mais vulneráveis", disse Christine. Ela acrescentou que uma saída da Grécia da zona do euro seria o pior cenário, que precisa ser evitado a todo custo "de uma forma coordenada, coletiva".

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