Bombeiros combatem fogo em Sorriso (MT)| Foto: Mayke Toscano/Departamento de Comunicação do MT/AFP

Incêndios na Amazônia. Polêmicas entre os presidentes Jair Bolsonaro, do Brasil, e Emmanuel Macron, da França. Ameaça de países como a Irlanda e a Finlândia não apoiarem o acordo entre União Europeia e Mercosul. Muito conspira contra o principal acordo comercial envolvendo o Brasil e que demorou mais de 20 anos para ser negociado. Mas os riscos que ele não saia do papel são mínimos, apontam especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

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“Questões ambientais são muito subjetivas. É um assunto preocupante, mas não é inédito”, diz o consultor internacional Guilherme Athia, baseado em Bruxelas.

Segundo ele, o acordo é bom para as duas partes. Ele cria facilidades para os dois blocos e tem o potencial de incrementar os negócios entre os 31 países das duas regiões.

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As exportações brasileiras para a União Europeia atingiram US$ 42,1 bilhões em 2018, o melhor em cinco anos. As importações, entretanto, estão em baixa, devido ao desaquecimento da economia brasileira. No ano passado, foram US$ 19,1 bilhões, o pior desempenho desde 2005.

Acordo não se limita a questões comerciais

O acordo não se restringe a questões comerciais, lembra a pesquisadora Lia Valls, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

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“É nítida a preocupação (da União Europeia) em transmitir que o acordo reforça o compromisso com o desenvolvimento sustentável. Está no acordo o compromisso com o Acordo de Paris, o combate à exploração ilegal de madeira, compromissos de proteção aos direitos humanos e provisões para promover o papel das populações indígenas”, aponta ela.

Por isso, segundo ela é que a União Europeia use questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável como instrumento de pressão. “Pairam dúvidas da aprovação por alguns países onde pesam os interesses dos setores agrícolas, mas também preocupações quanto ao compromisso do Brasil com as questões do desenvolvimento sustentável.”

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O que na prática está acontecendo, nas últimas semanas, segundo o professor Alcides Costa Vaz, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (IRI/UnB), é que a Europa está aproveitando as queimadas na Amazônia para fazer pressão sobre o Mercosul.

Mas ele avalia, que essa pressão acaba sendo injusta em relação aos demais parceiros do Mercosul, porque a questão ambiental atinge exclusivamente o Brasil.

“O momento exige uma postura mais moderada, mais cautelosa”, diz Athia

Impactos no curto prazo

Mas, no curto prazo, as questões ambientais devem ter impacto. Vaz lembra que esta é uma situação diferente do que o acordo União Europeia-Mercosul. “Não é uma decisão de estado, mas sim de empresas”, afirma o professor da UnB.

Muitas delas têm compromisso com o desenvolvimento sustentável, lembra a pesquisadora da FGV. “É uma situação mais comum na Europa do que nos Estados Unidos. Mas há regiões naquele país, como a Califórnia, que dão muito valor a questões ambientais.”

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As reações já começaram. Segundo o UOL, o conglomerado americano VF - dono de marcas como Vans, Kipling e Timberland e de outras 14 marcas - está suspendendo a compra de couro brasileiro. Outras grifes exigem garantias de que o couro não tem origem na Amazônia.

A maior produtora mundial de salmão - a norueguesa Mowi - ameaça suspender a compra de insumos brasileiros, caso a situação do desmatamento na Amazônia não melhore. A Nestlé falou em reavaliar fornecedores de cacau e carne. E a Finlândia admitiu, na semana passada, a possibilidade de banir a carne brasileira.