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Alívio na conta de luz foi uma das notícias positivas da inflação neste começo de ano. | Arnaldo Alves/ANPr
Alívio na conta de luz foi uma das notícias positivas da inflação neste começo de ano.| Foto: Arnaldo Alves/ANPr

A inflação deu um sopro de alívio na semana que passou. Com o barateamento da energia elétrica, das passagens aéreas e de alimentos, o IPCA de fevereiro veio abaixo do esperado, sugerindo, para alguns economistas, que a recessão finalmente começou a se refletir nos preços. Se a hipótese estiver correta, cresce a chance de que o Banco Central reduza os juros mais cedo, o que facilitaria uma discreta reação da economia ainda neste ano.

INFOGRÁFICO: Veja a evolução dos juros e da inflação no Brasil

O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, reagiu com entusiasmo ao anúncio do IPCA. “Tornou-se imensa a chance de o Banco Central cumprir a meta em 2016 (abaixo de 6,5%) e chegar no centro de 4,5% em 2017. Quem viver verá”, escreveu ele na quarta-feira (9) em sua conta no Twitter. Na sexta (11), o Bradesco baixou de 13,25% para 12,25% ao ano sua projeção para a Selic em dezembro – a taxa básica de juros está em 14,25% desde julho do ano passado.

Outros bancos e consultorias também estão revisando suas projeções de inflação e juros, o que tende a se refletir nas estimativas médias do mercado. O último boletim Focus, de 4 de março, apontava para um IPCA de 7,59% ao fim do ano e uma Selic mantida em 14,25% até lá. Se finalmente conseguir “ancorar” as expectativas, o BC terá dado o primeiro passo para domar a inflação.

Já vinha ganhando corpo a possibilidade de o Banco Central iniciar um ciclo de queda da Selic ali pela segunda metade do ano. Com o IPCA abaixo do esperado, a probabilidade de isso ocorrer antes aumenta.

Gustav Gorski economista-chefe da Eleven Financial.

Além do impacto da crise econômica, o IPCA acumulado em 12 meses tem outros motivos para continuar recuando, argumentam os otimistas. Um deles é a conta de luz: o valor da bandeira tarifária será zerado em abril, e os reajustes anuais das distribuidoras serão menores que os de 2015. Se o clima ajudar, preços de alimentos devem se desacelerar. O dólar também aparece entre as boas influências. Em 20 dias, a moeda baixou de R$ 4 para perto de R$ 3,60.

Acreditamos que o processo de desinflação corrente começou em fevereiro, devendo se intensificar e surpreender o mercado ao longo do primeiro semestre (...) e possibilitar o início da queda do juros em outubro.

André Perfeito economista-chefe da Gradual Investimentos, em relatório.

Mas há quem ache cedo para cantar vitória. Para começar, é muito difícil prever a trajetória do câmbio. O dólar vem caindo com a expectativa de que o governo Dilma termine antes de 2018, mas, se essa possibilidade perder força, a moeda pode voltar a subir. O mesmo vai ocorrer se crescer a percepção de risco sobre o país, em especial na área fiscal, avalia a consultoria Rosenberg Associados, que vê a inflação em 8% e a Selic em 14,25% no fim do ano.

Outro fator que pode manter a inflação alta é a indexação. Como muitos preços e boa parte dos salários são corrigidos pela inflação passada, a forte alta de preços vista em 2015 demora a se dissipar. “O salário mínimo teve aumento significativo neste ano. E a mão de obra tem um peso grande nos custos de serviços, cuja inflação segue entre 8% e 10%. Se não fosse pela indexação, a inflação teria uma queda mais substancial”, diz Nelson Marconi, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP).

Para a economista Mariana Orsini, da GO Associados, preços administrados como os de remédios e planos de saúde ainda vão subir com força por causa da indexação. Ela acredita que o cenário ficou mesmo mais favorável, o que pode levar a consultoria a rever suas projeções. “Nossa projeção para a Selic continua em 14,25%, mas tem um viés de baixa. Vamos esperar os próximos números de inflação”, diz.

IMPOSTOS

Um fator que pode manter a inflação lá em cima é o apetite do setor público por mais receitas. Aumentos de impostos federais e estaduais contribuíram para a recente resistência do IPCA e, segundo o banco Itaú, há risco de novos reajustes ao longo do ano.

Impacto da recessão demorou a aparecer

A recessão começou no segundo trimestre de 2014, de acordo com medição da FGV. Desde então, a taxa de desemprego nacional subiu de 6,8% para 9%, segundo a Pnad Contínua, do IBGE. A mesma pesquisa mostra que a massa de rendimentos recuou 3% desde o pico, em janeiro de 2015.

Nada disso impediu que em pouco menos de dois anos a inflação saltasse da casa dos 6,5% para os mais de 10% atuais. Esse movimento tem muito a ver com fatores como o “descongelamento” dos combustíveis e da energia, e a elevada indexação da economia, que ajuda a manter custos pressionados. Ainda assim, causa estranheza a demora com que os preços demoraram a reagir à queda da demanda doméstica.

Mas, segundo Gustav Gorski, economista-chefe da Eleven Financial, o processo é mesmo demorado. “No histórico brasileiro, a resposta da inflação à atividade econômica demora em torno de seis a dez trimestres. Então estamos falando de uma resposta em 2016, mas principalmente em 2017”, diz. Ele avalia que cresceram as chances de que a taxa de juros seja cortada antes da metade do ano. “A queda da atividade talvez já tenha sido suficiente para trazer a economia a um equilíbrio maior. Consequentemente, os preços começam a se ajustar”, diz.

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