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Samek: ele quer mais dois anos em Itaipu. | Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo
Samek: ele quer mais dois anos em Itaipu.| Foto: Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo

Produção caiu 3% em 2009

Depois do recorde histórico estabelecido no ano passado, Itaipu deve encerrar 2009 com produção 3% menor, diz o diretor-geral brasileiro da usina, Jorge Samek. Se confirmada a estimativa, a geração acumulada ficará em 91,8 mil gigawatts-hora, a quarta maior desde o início das operações da hidrelétrica, em 1984. Por ter durado poucas horas, o apagão teve impacto reduzido nessa estatística. As principais razões para o recuo foram a queda de algumas torres de transmissão em janeiro, que obrigaram a usina a reduzir sua produção por vários dias; a estabilidade da demanda, limitada pela crise econômica; e, nas últimas semanas, a situação folgada dos reservatórios em outras regiões do país, onde a produção é mais barata.

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Fazia tempo que a hidrelétrica de Itaipu não vivia um ano tão turbulento. A temporada de 2009 foi, no mínimo, a mais agitada da administração de Jorge Samek, diretor-geral do lado brasileiro desde 2003. A usina em si não teve problema algum, mas, em razão de sua relevância no sistema elétrico brasileiro e na política paraguaia, acabou envolvida em duas grandes polêmicas – as concessões feitas ao Paraguai em julho e o apagão do mês passado.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Samek não escondeu a torcida para que, ao longo dos próximos anos, a importância relativa da hidrelétrica diminua. Com isso, o abastecimento de energia no Brasil e o jogo político do país vizinho vão depender um pouco menos da maior geradora de eletricidade do mundo.

O executivo mantém o discurso de que adversidades climáticas nas linhas de transmissão foram a causa do "blecaute" do mês passado – assim como outros membros do governo, Samek rejeita o termo "apagão", associado ao racionamento de 2001.

Tempestuosa também foi a relação com o Paraguai, dono de metade da hidrelétrica. O presidente Fernando Lugo e o diretor-geral Carlos Mateo Balmelli pressionaram o governo brasileiro até arrancar dele, em 25 de julho, as vantagens prometidas por Lugo na campanha eleitoral. Aprovado no Congresso paraguaio e em trâmite na Câmara brasileira, o acordo triplicará o valor que o Brasil paga ao Paraguai pela chamada "cessão da energia", o que na prática deve elevar em 12% a tarifa da eletricidade "paraguaia" que entra no território brasileiro. O Brasil também doará uma linha de transmissão de US$ 450 milhões ao país vizinho e, num ponto que segue em negociação, abriu a possibilidade para que o Paraguai venda até 300 megawatts (MW) médios – o equivalente a 4% da energia que lhe pertence – no mercado livre brasileiro.

O "pacote de bondades" foi criticado por quem se opõe à chamada "diplomacia da generosidade" exercida pelo governo Lula na relação com os países vizinhos. Defensor ferrenho do Tratado de Itaipu, o próprio Samek se opunha a mudanças, e admite ter gasto "alguma saliva" para demonstrar que o Paraguai não era espoliado pelo Brasil. Hoje, meses depois dos momentos mais tensos da negociação, o diretor-geral brasileiro exibe uma postura de conciliação. E diz ser "muito mais conveniente e racional o Brasil dar suporte a economias menores, permitir que elas acompanhem seu crescimento, de forma a garantir a paz e a estabilidade do continente". Confira a seguir alguns trechos da entrevista:

Sistema

Hoje, a gente convive com grandes intensidades de precipitação, ventos, descargas atmosféricas, e ao mesmo tempo o sistema não deixa de funcionar. Semana passada [no dia 15 de dezembro], três turbinas de Itaipu ficaram duas ou três horas paradas porque duas linhas próximas de Itaberá (SP) se desligaram. E nenhum consumidor percebeu, porque o sistema imediatamente fez o "backup".

Dependência

O governo vem aumentando a capacidade de intercâmbio de energia entre os subsistemas. E nos próximos anos vão entrar em operação as usinas do Rio Madeira, de Belo Monte, depois o complexo Tapajós, mais as pequenas e médias hidrelétricas sendo feitas no Brasil, mais a nuclear de Angra 3, mais as usinas de bagaço de cana, as eólicas e por aí vai. Quanto mais usinas, menos o sistema fica dependente de uma hidrelétrica ou de uma linha de transmissão. Então Itaipu, que já chegou a representar 35% do sistema interligado, e hoje representa 19%, vai diminuindo sua participação relativa. Cairá para menos de 10%, e em algum momento para menos de um dígito. A partir daí, ainda que ocorra um fenômeno dificílimo de repetir, como o de 10 de novembro, não haverá problema.

Paraguai

Itaipu vale US$ 60 bilhões. O Paraguai é dono de metade disso, o que dá três vezes o PIB [Produto Interno Bruto] do país. Então é compreensível que todas as demandas recaiam sobre a usina. E tem uma diferença na distribuição dos royalties que influencia nisso. O Paraguai recebe US$ 240 milhões, quantia idêntica à do Brasil. Mas aqui um terço vai direto para os municípios que tiveram sua área alagada. Já no Paraguai, 90% vão para o governo central, e apenas 10% são divididos entre todos os municípios do país. Daí surge o discurso de que Itaipu só beneficia o Brasil. Mas esse problema é do Paraguai, não é de Itaipu, não foi Itaipu quem legislou sobre a distribuição dos royalties.

Saliva

O diretor-geral indicado pelo presidente Lugo [Carlos Mateo Balmelli] assumiu com toda sorte de reivindicações. E, desde o primeiro dia, tivemos que explicar nossa posição. Foi um processo longo, demorado. Lá no Paraguai eles fizeram toda uma campanha dizendo que o Brasil pagava pouco. Nos fóruns internacionais, eles começavam sempre dizendo que Brasil só pagava US$ 2,81 [por megawatt-hora, MWh], o que é uma mentira. Esse valor é apenas o da cessão de energia, mas eles também recebem US$ 42,50 [por MWh], que são usados para pagar a dívida da construção, que foi o Brasil quem contraiu, e pagar royalties, manutenção, modernização, funcionários, programas sociambientais. Até explicar isso, eu gastei alguma saliva. Mas depois que saiu o acordo, ficou tudo uma beleza [o clima entre os diretores].

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