Fundo busca negócios sociais para investir seus milhões. Depois de uma década trablahando na empresa da família, Fernando Simões resolveu apostar todas as suas fichas em negócios sociais| Foto: BemteviDivulgação

Fernando Simões, herdeiro da JSL Logística, maior empresa da área do país, tem uma ambição: mudar a concepção dos investidores a respeito do ideal de diversificação em uma carteira de investimentos. Em sua visão, lucro e risco são fatores que, em alguns anos, caminharão lado a lado com impacto social como intenção de retorno dos brasileiros. Essa noção, diz, já existe em outros países, como Inglaterra, Canadá e Austrália. 

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Foi a ambição nesse sentido o motor que deu origem à Bemtevi, empresa de Investimento Social comandada por Simões e outros dois sócios, cujo objetivo é conectar investidores a empresas privadas de impacto — conhecidos como negócios sociais. Pela Bemtevi, Fernando deixou o caminho óbvio de passar a vida na empresa da família e traça agora o seu próprio rumo.

“Eu comecei a trabalhar aos 16 anos na empresa da minha família. Trabalhei lá por dez anos, meu pai é o presidente, ela foi fundada pelo meu avô, e eu tive a oportunidade nesse tempo de aprender e ver coisas que eu não veria em qualquer outra empresa”, conta ao InfoMoney. Em 2012, Fernando resolveu fazer MBA em Boston, onde começou a refletir a respeito de projetos que teria interesse.

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Ao voltar dos Estados Unidos, a partir de um curso sobre investimentos sociais, conheceu o modelo de Negócio Social, que unia gestão com impacto social. “Era o que eu queria fazer”, disse. Junto com dois sócios, Simões então criou a Bemtevi – lançada oficialmente em 2015, quando deixou de vez os cargos da JSL para participar apenas do conselho.

Reinvestir o lucro

“Mesmo que seja uma parte pequena, todo investidor deveria ter esse tipo de investimento na carteira”, acredita o empreendedor. Ele cita Ronald Coin, um dos expoentes da área mundialmente: “no século XVIII, o que se buscava em investimento era retorno; depois, entra o fator do risco; e, agora, existe a questão do impacto”. 

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Por definição, um negócio social tem semelhanças com a atuação de Organizações Não-Governamentais (ONGs), mas com a condição de serem financeiramente independentes, gerando, com seus próprios produtos, recursos para manter seu funcionamento. Elas se encaixam, portanto, entre empresas do segundo setor – as tradicionais - e do terceiro setor – as ONGs: é o chamado “setor 2,5”. 

Embora tenham fins lucrativos, uma das premissas dos negócios sociais é o reinvestimento de todo o lucro neles próprios, sem distribuição de dividendos. A ideia é impactar ainda mais a sociedade da maneira proposta, após o retorno do primeiro investimento. É nessas companhias que os investidores verão seu dinheiro ser aplicado via Bemtevi. 

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Para garantir melhor uso dos recursos investidos pela empresa impactada, a Bemtevi trabalha de maneira a não precisar cobrar juros no momento da devolução do empréstimo — parte do dinheiro recebido vai para aplicações de baixo risco, para garantir a devolução ao investidor no prazo estabelecido, de 4 anos. “Trocamos juros por impacto, então baseamos nossas escolhas em uma teoria de mudança, a partir da qual criamos indicadores e as metas”. 

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Em 2016, o investimento nessas companhias chegou a R$ 13 bilhões. A estimativa do executivo é que esse número chegue em R$ 50 bilhões em 2020. 

Pano Social e Calhau Social 

A primeira — e por enquanto única — companhia que já recebeu efetivamente um empréstimo possibilitado pela Bemtevi é a Pano Social — fabricante de roupas com material orgânico e reciclado que emprega como mão de obra exclusivamente ex-detentos, e oferece um programa de ressocialização. 

“Além da fabricação da mercadoria, essas pessoas passam 20% do tempo dentro da Pano Social estudando e se capacitando pela ressocialização”, explica Fernando. Isso acontece por meio de aulas, plantação de hortas, entre outras atividades. 

O intuito final é evitar retorno ao crime - o que tem potencial forte de diminuir a criminalidade em geral, já que um em cada quatro condenados reincide no crime, de acordo com o CNJ, e apenas 9% dos ex-detentos consegue emprego após o fim da pena. 

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Em fase de análise está a Calhau Social que, segundo Fernando, deverá receber empréstimo “em breve”. Trata-se de uma organização cuja função é buscar banners eletrônicos que não foram vendidos e usa-los de forma a divulgar causas sociais. Para tanto, desenvolveram um robô de curadoria capaz de analisar se o banner de alguma empresa não vai sair ao lado de uma matéria que essa empresa não deseja estar conectada. 

Após o empréstimo, a Bemtevi segue acompanhando a empresa aplicada, mesmo que de longe, por meio de uma rede de consultorias que participam dos projetos escolhidos. Também existe uma medição do sucesso dos negócios sociais, sempre usando como base o tamanho do impacto. 

Capilaridade 

A Bemtevi não é o único caminho para investir em empresas sociais, mas se propõe um dos mais acessíveis e democráticos. Enquanto a maioria dos investimentos sociais parte de mais de R$ 1 milhão, participar dos empréstimos possibilitados pela Bemtevi é possível com quantias a partir de R$ 25 mil, e o prazo, de 4 anos, é mais curto. 

“Normalmente o negócio social é um mundo distante do investidor”, diz Fernando, cuja pretensão é aproximar quaisquer interessados desse modelo. “É uma forma de aproxima-lo desse universo”, acredita. Por outro lado, “para o empreendedor, isso também é super rico, porque normalmente ele recebe o recurso de pessoas que têm muita experiência de negócio”, complementa.

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