O presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, na inauguração de um trecho da transposição do Rio São Francisco, no Ceará, em junho de 2020: com ajuda de emendas parlamentares, MDR ficou com quase 31% do investimento previsto no Orçamento da União.| Foto: Alan Santos/PR
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Os ministérios da Defesa, do Desenvolvimento Regional e da Infraestrutura ficaram com mais da metade da verba do Orçamento de 2021 destinada a investimentos. As pastas serão responsáveis pela aplicação de R$ 32,9 bilhões, o equivalente a 62,8% de todo o montante destinado para investimentos, incluindo os valores das emendas parlamentares.

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Os dados foram levantados pela Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados, com base nas despesas do Orçamento classificadas pelo código GND4, que agrupa toda e qualquer despesa relacionada a investimento, como planejamento e execução de obras e aquisição de imóveis, instalações, equipamentos e material permanente. Os valores podem mudar caso o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancione a peça com vetos.

O dinheiro destinado a investimento das três pastas foi inflado após os parlamentares cancelarem R$ 26,5 bilhões em despesas obrigatórias e destinarem o montante para as emendas, que são, em geral, verbas para obras indicadas por deputados e senadores. O projeto original do Orçamento, elaborado pelo governo e enviado em agosto do ano passado, destinava R$ 16,3 bilhões para emendas individuais e de bancada.

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Em março deste ano, o texto saiu do Parlamento com R$ 49,3 bilhões para as emendas, divididos da seguinte forma:

  • R$ 29 bilhões em emendas do relator-geral do Orçamento, o senador Márcio Bittar (MDB-AC);
  • R$ 9,7 bilhões para as individuais (indicadas por cada um dos senadores e deputados, sendo R$ 16.279.986 o valor máximo por parlamentar);
  • R$ 9,1 bilhões para as bancadas estaduais; e
  • R$ 1,4 bilhão para indicação das comissões mistas e do Senado.

Como as emendas são executadas pelos ministérios, ao serem infladas pelo Parlamento elas elevaram também os valores previstos para gastos com investimentos das pastas. O ministério mais beneficiado foi o do Desenvolvimento Regional (MDR), que passou a gerenciar R$ 16,1 bilhões dos R$ 52,4 bilhões para investimentos previstos no Orçamento, incluindo os outros poderes. É o órgão com mais verba para investimento, o equivalente a 30,7% do total.

O MDR é comandado pelo ex-deputado federal e pelo ex-secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho. Na última sexta-feira (9), em encontro virtual com investidores promovido pelo Bradesco BBI, o ministro da Economia, Paulo Guedes, falou que um “ministro fura-teto” pediu para o Congresso colocar mais dinheiro em sua pasta, mas “esqueceu” de combinar com o restante do governo.

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“Quando vai combinar com os outros, a conta não fecha. Isso bota em risco o grupo inteiro”, reclamou Guedes, sem citar diretamente o nome do Marinho, a quem ele apelidou nos bastidores de “fura-teto”, uma referência ao desejo do ministro do MDR de flexibilizar a regra fiscal que limita o crescimento das despesas da União.

A segunda pasta mais beneficiada foi o Ministério da Defesa, agora comandado pelo general Walter Braga Netto. Serão R$ 8,8 bilhões em investimentos, o equivalente a 16,8% do total. O volume de recursos para a Defesa foi bastante criticado pela oposição durante a votação do Congresso. Ela tentou aprovar uma emenda durante a votação entre os deputados para reverter o montante, mas não teve sucesso.

“O que é prioridade para este governo?”, questionou o senador Fabiano Contarato (Rede-ES). “A nossa guerra deveria ser contra o vírus e não [a favor] do fortalecimento dos privilégios daqueles que estão na cúpula das Forças Armadas”, reclamou a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP).

“Há atenção insuficiente à saúde no momento em que vivemos a maior crise sanitária dos nossos tempos, em contraste com a elevação de gastos para o Ministério da Defesa. A guerra é contra o coronavírus”, completou a senadora Leila Barros (PSB-DF), segundo registros da Agência Senado.

O terceiro órgão com mais verba para investimento será o Ministério da Infraestrutura, que tem usado a tática de trazer parte das emendas parlamentares para a sua pasta para aumentar os gastos com infraestrutura. Neste ano, foram separados R$ 8 bilhões para investimento, 15,3% do total.

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A pasta é comandada por Tarcísio Gomes de Freitas, que, ao contrário de Marinho, não é visto como um ministro “fura-teto” por Guedes. O titular da Economia, inclusive, elogia a capacidade de entrega do seu colega de Esplanada.

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Quem ficou com mais dinheiro

Confira, abaixo, os órgãos públicos com mais verba para investimento, em ordem decrescente, segundo levantamento da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados com base no Orçamento de 2021 aprovado pelo Congresso:

  • Ministério do Desenvolvimento Regional - R$ 16,1 bilhões para investimento, incluindo valores das emendas - 30,73 % do total previsto no Orçamento de 2021 para investimento
  • Ministério da Defesa - R$ 8,8 bilhões - 16,79% do total
  • Ministério da Infraestrutura - R$ 8 bilhões - R$ 15,27%
  • Ministério da Educação - R$ 4,1 bilhões - 7,82%
  • Ministério da Saúde - R$ 4 bilhões - 7,63%
  • Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - R$ 2,5 bilhões - 4,77%
  • Ministério da Justiça e Segurança Pública - R$ 2 bilhões - 3,82%
  • Judiciário + Ministério Público + Defensoria Pública da União - R$ 1,6 bilhão - 3,05%
  • Ministério da Cidadania - R$ 1 bilhão - 1,91%
  • Ministério da Economia - R$ 0,4 bilhão - 0,76%
  • Legislativo + TCU - R$ 0,3 bilhão - 0,57%
  • Demais órgãos - R$ 3,6 bilhão - 6,87%
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