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Visão geral da nova fábrica de solda de cabinas da Scania, em São Bernardo do Campo.
Visão geral da nova fábrica de solda de cabinas da Scania, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.| Foto: LUCIANO VICIONI/WM/Divulgação Scania

Na indústria 4.0, a inovação não está presente apenas na automação e na adoção da inteligência artificial. Além de novas tecnologias, há um conjunto de metodologias — incorporadas já há alguns anos por startups — que passaram a ser aplicadas também na manufatura para torná-la mais eficiente e menos onerosa.

A manufatura enxuta é uma filosofia de gestão focada na melhora de gestão, redução de desperdícios e aumento da produtividade — avanços fundamentais para uma indústria se manter competitiva no mercado hoje em dia.

A sondagem especial “Manufatura Enxuta na Indústria de Transformação Brasileira” realizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) com 2.338 indústrias de transformação do Brasil neste ano aponta que os setores de veículos automotores, equipamentos de informática e metalurgia são os que mais aplicam as técnicas. Os que menos adotam a metodologia, por outro lado, são os de alimentos, artefatos de couro e móveis.

De acordo com Vinícius Fornari, especialista em políticas e indústria da CNI, o tempo de transformação da indústria varia de setor para setor, mas o importante é que todas as empresas se modernizem. “Os segmentos que mais avançaram têm o centro de negócios ligado à tecnologia, então é natural que estejam mais adiantados”, explica.

Scania investiu R$ 340 milhões em fábrica 100% automatizada

A  Scania, fabricante sueca de caminhões, ônibus e motores a diesel, é uma das indústrias que está em plena transformação. Em agosto do ano passado, a multinacional inaugurou uma fábrica 100% automatizada em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, a partir de um investimento de R$ 340 milhões.

E junto com os 75 novos robôs adquiridos exclusivamente para o processo de solda de cabinas, o processo de trabalho da equipe também foi modernizado. Não à toa, a montadora afirma ter investido também em processos mais inteligentes e eficientes, que resultam principalmente na redução do consumo de energia e no reaproveitamento da água da chuva.

A produção enxuta, segundo a Roberta Serra Negra, gerente-executiva da fábrica de solda de cabinas da Scania Latin America, já está no DNA da empresa. “No início da década de 1990, a Scania adotou as ferramentas e os conceitos de produção enxuta, treinando seus colaboradores e implementando em todo seu parque industrial uma produção baseada no consumo, com altíssimo nível de qualidade e prazos de entregas rigorosos”, afirma a executiva.

Roberta destaca que para os funcionários se adaptarem às mudanças tecnológicas e produtivas foi necessário investir em 10 mil horas de treinamento para os 160 colaboradores da fábrica de soldas. “O setor está evoluindo rapidamente com a chegada da indústria 4.0. Além disso, como a evolução do setor de transportes é muito rápida, precisamos estar sempre atentos às novas tecnologias dos produtos e às inovações no setor.”

Pelo menos 15 técnicas enxutas estão presentes nas indústrias brasileiras

Existem diversas técnicas para enxugar custos e processos em uma indústria. E quanto maior a empresa, mais ações podem ser implantadas. A sondagem da CNI levantou as 15 principais técnicas de manufatura enxuta adotadas no Brasil, como: padronização de atividades, redução de perdas, distribuição de trabalho por ferramentas gráficas e monitoramento da eficiência produtiva (veja lista completa mais abaixo).

Na prática, a pesquisa aponta que 63% das indústrias adotam pelo menos uma das técnicas para reduzir o desperdício, os defeitos e o retrabalho. O aumento da produtividade, por sua vez, atrai 59% das empresas. Com 44% das menções, a metodologia enxuta é vantajosa pela qualidade de produtos e serviços (confira mais informações no gráfico acima).

“Diante do desafio da indústria 4.0, a melhoria da gestão nas empresas se torna ainda mais relevante, pois é essencial eliminar perdas e enxugar processos”, justifica Samantha Cunha, economista da CNI responsável pela sondagem.

E o enxugamento de custos e processos gera impacto direto no segmento como um todo, segundo a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial). Levantamento realizado em junho pela agência aponta que os ganhos de eficiência produtiva das empresas brasileiras que adotaram as técnicas da indústria 4.0 são equivalentes a uma economia de R$ 31 bilhões. Há também uma redução adicional de R$ 7 bilhões com a diminuição de custos com energia.

“As pequenas e médias empresas têm mais dificuldade de adaptação porque são mais vulneráveis ao mercado e têm menos recursos para investir em tecnologia”, adverte Bruno Jorge, coordenador de indústria 4.0 da ABDI.

Na avaliação de Jorge, as pequenas indústrias devem priorizar a digitalização de dados e a modernização de processos internos antes de investirem em robótica. “Robôs exigem muito investimento financeiro e maturidade da companhia. Há etapas que precisam ser concluídas primeiro”, aconselha.

As 15 principais técnicas de manufatura enxuta na indústria brasileira, segundo a CNI:

  • Mapeamento de fluxo de valor: representação visual, que auxilia na identificação de perdas nos fluxos de materiais, pessoa e informações.
  • Programa 5 S: cinco sensos para melhoras o ambiente de trabalho: utilização, organização, limpeza, padronização e disciplina.
  • Kaizen: busca a melhoria contínua dos processos e a eliminação de perdas.
  • Trabalho padronizado: padronização de atividades ou procedimentos dos trabalhadores, contribuindo para eliminar as perdas pro movimentos desnecessários e por espera.
  • Heinjunka: nivelamento do tipo e da quantidade de produção dentro de um período determinado, contribuindo para reduzir estoques de matéria prima e de produtos acabados.
  • Kanban: empregado para “puxar” a produção a partir da demanda do mercado, contribuindo para eliminar perdas por superprodução e por transporte em excesso.
  • SMED (Troca Rápida de Ferramentas): visa reduzir o tempo de tempo de preparação das máquinas, contribuindo para a redução de estoques e o aumento da flexibilidade da produção.
  • Yamazumi (Balanceamento do Operador): ferramenta gráfica que auxilia a distribuição de carga de trabalho entre os operadores em uma linha de produção, com base no takt time (isto é, a produção acompanha a demanda).
  • Layout Celular: mudança de layout para, por exemplo, eliminar perdas por movimentação interna de materiais.
  • Gestão Visual: técnica de comunicação visual que permite, por exemplo, comunicar procedimentos de trabalho padrão e indicadores de desempenho.
  • TPM (Manutenção Produtiva Total): abordagem moderna de gestão da manutenção das máquinas, busca garantir que operem em boas condições, evitando as paradas por quebras.
  • OEE (Eficiência Global dos Equipamentos): indicador usado para monitorar a eficiência do sistema produtivo, em especial, dos equipamentos. O aumento da OEE significa aumento da capacidade da fábrica.
  • Sistema a prova de erros: busca garantir a qualidade de produtos e processos, contribuindo para reduzir as perdas por fabricação de produtos defeituosos.
  • Relatório A3: ferramenta visual que permite investigar um problema e definir ações para solucioná-lo.
  • Cinco Porquês: ferramenta para auxiliar a resolução de problemas de maneira profunda e sistemática, que consiste em perguntar o porquê do problema cinco vezes.
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