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Tecnologia de produção é exportada

Enquanto a exportação de etanol patina, o Brasil apenas começa a explorar outra frente no comércio internacional: o fornecimento de tecnologia para produzir o combustível. Um exemplo desse caminho é a inauguração recente da primeira usina de álcool da África, instalada no Sudão pela paulista Dedini. Essa mesma companhia exportou uma usina de biodiesel para a Colômbia.

A demanda por esse tipo de serviço deve crescer rapidamente porque há vários programas de incentivo ao etanol espalhados pelo mundo. Além dos três já consolidados – no Brasil, EUA e Tailândia – há, de acordo com a Unica, nove em andamento, sendo três em áreas com grande consumo de combustíveis (União Europeia, Japão e China). Além disso, outros 14 países estudam usar o etanol. Nem todos têm sua base no álcool de cana, como o Brasil, mas a experiência brasileira chama a atenção de todos.

Para o mundo

Veja alguns pontos que faltam para o etanol virar uma estrela internacional.

Tarifas

- Os países desenvolvidos têm de reduzir as tarifas para que haja mercados mais estáveis para o etanol do Brasil. Há também barreiras não tarifárias, como exigências trabalhistas e ambientais, que precisam ser negociadas com os parceiros comerciais.

Consumo

- A demanda pelo etanol depende de carros adaptados e de uma rede de distribuição para crescer. A experiência indica que, para isso, é necessário algum tipo de empurrão público, como metas e subsídios que induzam a adoção da tecnologia. Quando a indústria de álcool estiver bem estruturada, ela dará conta de fazer a expansão.

Padrão

- Os países que usam etanol precisam concordar em um padrão único para que produto atravesse fronteiras sem restrições. Hoje, o álcool exportado não é exatamente igual ao do mercado interno.

Bolsas

- O etanol será adotado mais rapidamente quando houver contratos de fornecimento negociados em bolsa. Eles dão liquidez para produtores e preços que indicam a relação entre oferta e demanda.

O sucesso do etanol de cana-de-açúcar no mercado norte-americano é essencial para a estratégia brasileira de expansão, mas depende de discussões acadêmicas, da ação de grupos de pressão e da evolução de uma nova tecnologia de produção de etanol. Por isso o resultado do esforço para vender ao maior consumidor de combustíveis líquidos do mundo é bastante incerto.

Na área acadêmica, o principal nó está na redução das emissões de gás carbônico. Há pesquisas mostrando que o etanol de cana produz 90% menos gases de efeito estufa do que a gasolina. No ano passado, porém, o pesquisador Timothy Searchinger, da Universidade de Princeton, escreveu um trabalho apontando que a adoção de biocombustíveis causava o desflorestamento de áreas para a agricultura e que isso deveria ser levado em conta no cálculo das emissões. Neste ano, a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos EUA incorporou essa variável em seu modelo e chegou à conclusão de que o álcool de cana emite 44% menos gases do que a gasolina.

Esse porcentual não é muito melhor do que o atingido pelo etanol de milho produzido com tecnologias avançadas, que usam biomassa como fonte de energia das usinas. Para alterar a conta, a Unica, associação que representa os produtores brasileiros, entrou com um pedido de revisão nos EUA alegando que o etanol brasileiro avança sobre áreas de pastagens e, marginalmente, sobre plantações que poderiam se deslocar para outras regiões.

O lobby da Unica é um dos grupos de pressão que defendem o etanol nos EUA. Lá, os produtores de álcool de milho também pressionam o governo. De um lado, tentam refutar pesquisas que mostram a relação entre o uso do grão como matéria-prima e os preços dos alimentos, além de estudos que apontam meios mais eficientes de cortar emissões, como a queima de biomassa para produzir energia elétrica – argumento que é muito forte também na Europa. Ao mesmo tempo, os usineiros americanos tentam passar um aumento na mistura de etanol à gasolina de 10% para 15%, com o objetivo de dar vazão ao excedente de produção.

Os produtores de etanol de milho também têm cada vez mais dificuldade para justificar seus subsídios e estão perdendo espaço no acesso a recursos para pesquisa. As verbas estão sendo direcionadas ao desenvolvimento do etanol celulósico, uma tecnologia que promete ser a melhor alternativa para reduzir emissões. Esse tipo de álcool é feito de qualquer resíduo vegetal, inclusive folhas e capim. No processo produtivo são usadas enzimas ou produtos químicos que quebram a celulose em moléculas menores que podem ser transformadas em etanol. A meta da EPA é que 40% da oferta de biocombustíveis venha dessa fonte em 2022.

Para o etanol tradicional do Brasil, a tecnologia, que também é estudada por aqui, pode representar ganhos. Primeiro, se ela não encontrar um caminho comercial, o etanol tradicional de cana ajudará no cumprimento das metas de substituição da gasolina. Se o álcool celulósico der certo, a tecnologia poderá ser adaptada para aumentar o rendimento da cana-de-açúcar, com a conversão do bagaço em etanol.

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