Pix começa a operar em capacidade total a partir de segunda-feira (16).| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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O Pix, sistema de pagamentos instantâneos criado e regulamentado pelo Banco Central, entra em funcionamento em capacidade total na próxima segunda-feira (16) com expectativa de efeitos benéficos para a economia nacional. A avaliação é do próprio BC e da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Entre os possíveis impactos esperados com a chegada do Pix estão a redução de gastos públicos com dinheiro vivo e o aumento do ritmo da tão esperada retomada econômica.

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Em fase de testes desde o início do mês, o Pix poderá ser utilizado por qualquer cidadão que seja titular de conta que permita transações em instituições que aderiram ao sistema – como bancos, fintechs, financeiras, empresas de pagamento e cooperativas. Nessas duas semanas, foi colocada para rodar uma fase, que o BC chamou de soft opening do sistema.

Esse lançamento suave, em livre tradução, compreende o oferecimento de uma versão prévia do serviço para a correção de eventuais falhas ou problemas antes de o produto operar de modo irrestrito. O Pix ficou disponível para até 5% da base de clientes a partir de dia 3 de novembro, com a ampliação paulatina desse quadro de usuários, que agora chegará a 100%.

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Além de beneficiar os usuários com transações gratuitas e super rápidas, a chegada do Pix terá implicações de ordem geral na economia, de acordo com João Manoel Pinho de Mello, diretor do BC e responsável pela coordenação dos trabalhos de implantação e desenvolvimento do sistema.

"Se eu pudesse resumir, usaria três palavras: custo de transação. Literalmente. Muitas vezes a gente usa esse termo de maneira vaga, pouco definida, mas aqui ele é muito definido no sentido de uma transação financeira. Transitar recurso de quem paga para quem recebe", disse Mello em live realizada pela Febraban.

"Do ponto de vista macroeconômico, a diminuição do custo de transação faz com que haja mais transações, com que mais negócios ocorram, que não ocorreriam se o custo de transação fosse alto simplesmente porque elimina os ganhos de troca. Cai o custo de transação, há mais transações, mais atividade econômica, mais bem-estar", concluiu.

Para o presidente da Febraban, Isaac Sidney, o Pix trará mais eficiência ao sistema financeiro, com potencial para reflexos como crescimento efetivo da atividade econômica. "Na nossa visão, o Pix dará nova lógica para as atividades comerciais, trará mais agilidade para quem compra e para quem vende; basta nós nos darmos conta de que um pagamento instantâneo representa recursos circulando com mais rapidez, com mais liquidez na economia. Isso por si só já tem um potencial de gerar impactos na atividade econômica", afirmou.

Sidney mencionou ainda que características de instantaneidade e agilidade do sistema teriam capacidade de dar mais ritmo à economia. "Isso também tende a estimular mais investimentos e ganhos para o comércio, sobretudo para o pequeno e para o médio comércio. Eu acredito no grande potencial também que o Pix tem para auxiliar a economia nesse momento em que é importante a retomada do crescimento econômico", destacou o representante dos bancos.

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Para o diretor executivo da Associação Brasileira de Fintechs, Diego Perez, "o Pix certamente vai colaborar para o aumento da circulação financeira, uma vez que você consegue transacionar de maneira eficiente, rápida, instantânea qualquer tipo de valor, independente de limites transacionais e formatos de acesso".

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Retomada econômica com menos dinheiro vivo

O diretor do BC disse também que há expectativa de menos gasto público com dinheiro vivo. "O Banco Central, como autoridade monetária, não vai se furtar a ofertar o papel moeda sempre que houver demanda por ele; agora, há espaço para aprimoramento. O manejo do papel moeda é caro para a sociedade. Há um custo para o orçamento da autoridade monetária, que é custo direto para o contribuinte", diz.

Segundo Mello, se a iniciativa for bem-sucedida, "as pessoas vão escolher usar cada vez mais Pix, vão usar mais cartões e isso vai digitalizar e vai aumentar a eficiência", acredita.

Ainda sobre esse ponto, o presidente da Febraban destacou gastos bilionários que poderiam ser redirecionados. "Nós acreditamos também que vai haver uma importante oportunidade para reduzir custos com a necessidade do uso de dinheiro, com o transporte, com a logística de numerário. O Brasil gasta R$ 10 bilhões por ano com essa logística. São ganhos potenciais relevantes para a nossa economia".

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Apesar das expectativas otimistas, o especialista em regulação José Luiz Rodrigues avalia que, junto com o Pix, é preciso proporcionar condições para que a população faça uso da ferramenta – como, por exemplo, acesso à internet, pacotes de telefonia mais baratos. "Falamos em substituição do uso do dinheiro físico, mas o Brasil tem dimensão e diferenças sociais e culturais muito grandes. O uso do dinheiro permanecerá por um longo tempo ainda e tende a diminuir à medida que a população tenha mais acesso a dispositivos e internet", pondera.

Rodrigues afirmou ainda que uma redução na circulação de papel moeda terá impacto na cadeia. "Isso afeta desde a gestão dos negócios, que terão que modificar a dinâmica de dinheiro em caixa; as instituições financeiras, que com o Pix terão transações com menos receitas mas também menos despesas, pois a circulação da moeda física é muito cara, além do desafio de renovar a prestação de serviço; e o comportamento do próprio consumidor, que entenderá, na prática, como as transações digitais vão além do consumo em lojas virtuais", disse.

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Fim de TED e DOC?

A avaliação geral é de que o Pix tem potencial para se popularizar de modo rápido, substituindo o uso de outros meios de pagamento, mas não decretará o fim de ferramentas como TED e DOC. "Os meios de pagamento no Brasil entregaram um excelente serviço até agora, desde o nosso papel moeda, passando pela indústria de cartões (que teve sua grande contribuição para a digitalização de meios de pagamento, principalmente para o varejo), arranjos de transferência como TED, DOC. Já houve um enorme avanço", disse o diretor do BC. "Agora, é correto dizer que há espaço para aprimoramento e o Pix é um aprimoramento; é mais uma escolha que vem a se somar e trazer valor para os usuários e os cidadãos brasileiros."

Para a Febraban, é cedo para apontar de qual monta poderia ser uma redução na receita dos bancos com a chegada do Pix, mas a análise feita é de que essa queda será limitada, com fase de acomodação para quais serão as transações mais interessantes para uso do Pix ou de outros pagamentos.

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A percepção do segmento é de que, assim como o cheque não "matou" o dinheiro, novos meios de pagamento devem apenas se somar ao leque de opções, sem inutilizar ferramentas já tradicionais e consolidadas.

Pix opera para valer a partir de segunda-feira (16)

A lista mais recente divulgada pelo Banco Central, ainda em outubro, cita 762 participantes ativos para a operação do sistema de pagamentos instantâneos. Para realizar esse tipo de transação, será necessário apenas ter uma conta transacional em alguma dessas instituições, sem a necessidade de qualquer adesão adicional.

A promessa é de que as operações sejam realizadas em poucos segundos, com repasse do dinheiro de modo imediato na conta do recebedor, 24 horas por dia, sete dias por semana, inclusive aos fins de semana e feriados. O sistema poderá ser usado para transferências, pagamentos a fornecedores e no comércio, recolhimento de impostos, tudo diretamente no internet banking ou aplicativo da instituição com que o usuário tem relacionamento.

Para dar ainda mais agilidade à utilização do Pix, podem ser cadastradas chaves de uso que, na prática, são apelidos para o endereçamento da conta dentro do sistema. Essa chave deve ser cadastrada pelo próprio usuário na instituição, podendo escolher para isso seu CPF/CNPJ, número de telefone, email ou uma chave aleatória gerada de modo automático.