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Dólar caiu quase 5% frente ao real no primeiro mês do ano.
Dólar caiu quase 5% frente ao real no primeiro mês do ano.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

Depois de um 2021 complicado para quem investe no Brasil, 2022 começou com números animadores. O Índice Bovespa, da B3, subiu 6,98% em janeiro, enquanto o dólar caiu quase 5% frente ao real.

Os indicadores refletem uma conjunção de fatores que beneficiaram o mercado brasileiro no cenário internacional, o que impulsionou a entrada de investimento estrangeiro no país. O fluxo de capital externo ficou positivo em R$ 28,1 bilhões, segundo dados da B3.

Para se ter uma ideia, em uma cesta com 16 das principais moedas, o real foi a que mais se valorizou no primeiro mês do ano.

Desempenho de moedas globais vs. dólar (jan/2022)

MoedaPaísVariação
RealBrasil5%
RandÁfrica do Sul3,7%
IeneJapão0%
Dólar de SingapuraSingapura-0,2%
Dólar canadenseCanadá-0,5%
PesoMéxico-0,6%
Dólar taiwanêsTaiwan-0,6%
LibraReino Unido-0,6%
Coroa norueguesaNoruega-0,9%
EuroEuropa-1,2%
Coroa dinamarquesaDinamarca-1,2%
WonCoreia do Sul-1,4%
FrancoSuíça-1,6%
Dólar australianoAustrália-2,7%
Coroa suecaSuécia-2,9%
Dólar neozelandêsNova Zelândia-3,7%

Fonte: Bloomberg/XP Research

Em um levantamento feito pela agência Reuters com 33 divisas, o real ficou atrás apenas do peso chileno, que teve valorização de 6,4% em janeiro. Nesse grupo, 23 moedas perderam valor frente ao dólar no mês.

Uma das razões para o desempenho do real neste início de ano está na valorização de commodities, da qual o mercado brasileiro é fortemente dependente. A retomada da economia global tem estimulado a recuperação da demanda, que não tem sido acompanhada no lado da oferta, o que encarece esses ativos.

A alta nos índices de preços, por sua vez, tem levado as autoridades monetárias a subir as taxas básicas de juros. “Quando o juro sobe, o mercado encurta o horizonte, começa a olhar para empresas que têm lucro hoje”, explicou o estrategista-chefe da XP Investimentos, Fernando Ferreira, à Gazeta do Povo. Esse movimento de rotação de carteiras tem levado os grandes investidores a retirarem seu capital das chamadas em ações de crescimento para direcioná-lo às ações de valor.

Isso porque as ações de crescimento têm a maior parte de seu valor projetado no futuro e, quando os juros de longo prazo sobem, como ocorreu com a taxa do Tesouro americano de dez anos, o valor considerado justo para essas ações diminui.

Empresas do setor de tecnologia, por exemplo, têm sofrido com essa “fuga” de capital. O índice Nasdaq 100, que reúne as principais companhias norte-americanas do setor, caiu 9% em janeiro.

“O mercado migrou para setores de commodities, de bancos, empresas da ‘velha economia’. E o Brasil acaba se situando muito bem nesse cenário. Esses dois setores são mais de 55% do Índice Bovespa”, diz Ferreira.

Bancos e serviços financeiros e o setor de petróleo e gás foram dois dos principais impulsionadores do indicador da Bolsa brasileira em janeiro, com altas de 18,6% e 12,2%, respectivamente.

Alta na taxa Selic também atrai estrangeiros

Além disso, o ciclo de alta da taxa básica de juros, iniciado pelo Banco Central no fim do ano passado, também contribui para a entrada de investimento estrangeiro. Da mínima recorde de 2% ao ano, a Selic encerrou 2021 a 9,25%, colocando o Brasil no topo do ranking de juros reais.

“O que se vê neste momento é um movimento mais próximo da busca do Brasil como uma opção barata e de bom rendimento, do que a possibilidade de cenários mais adversos”, diz o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, em relatório a investidores.

Nesta terça-feira (1.º), o Comitê de Política Monetária (Copom) deu início à primeira reunião do ano, na qual deve anunciar nova elevação na Selic. O mercado espera que a taxa suba para 10,75%, segundo relatório Focus divulgado na segunda (31).

“O rali que vimos em janeiro pode ser apenas o começo de uma alta mais sustentada”, diz relatório divulgado pela XP e assinado por Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig.

“Quando investidores globais encontram vantagens significativas ‘mais perto de casa’ nas histórias de tecnologia, é compreensível que a América Latina – como região – se torne (muito) menos óbvia. À medida que esse ciclo de uma década de superação para qualquer coisa relacionada à tecnologia começa a ser questionado, acreditamos que o Brasil oferece atributos sólidos a esses investidores”, escrevem os analistas. “É grande, é líquido, dá muita exposição a setores de valor, e é barato.”

Em relação ao câmbio, no entanto, é preciso ter cautela, na avaliação da gerente regional da XP, Daniela Garcia. “Avaliamos que a melhoria considerável observada em janeiro não deve ser extrapolada para os próximos meses, até porque alguns fatores domésticos podem manter a volatilidade cambial elevada, como, por exemplo, a baixa previsibilidade sobre o quadro fiscal e incertezas políticas relacionadas à eleição deste ano.”

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