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No Paraná, setor está travado

Diferentemente do boom que vive a construção civil, a falta de projetos e a demora na abertura de licitações estão travando o setor de infraestrutura – a chamada construção pesada – no Paraná. O setor pede mais celeridade ao governo estadual na elaboração de projetos, orçamentos e também na criação de um instrumento legislativo que permita logo a realização de parcerias público-privadas, já que faltam recursos próprios para as intervenções necessárias.

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Dificuldade de adaptação e distância da família afastam operários

Telêmaco Borba - De acordo com o engenheiro civil Wagner Nunes Martins, gerente de concreto na obra da Usina Hidrelétrica de Mauá – que está sendo erguida entre Telêmaco Borba e Ortigueira, nos Campos Gerais –, um dos motivos para a escassez de mão de obra na construção pesada é a dificuldade de adaptação. "Nosso índice de acidentes de trabalho está bem abaixo do que o admitido pelos padrões nacionais, mas o fato de trabalhar em grandes alturas às vezes assusta um pouco e afasta alguns trabalhadores", afirma.

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Não é a falta de equipamentos pesados ou o custo dos insumos o que mais preocupa o setor da construção pesada, e sim a falta de mão de obra qualificada. Um estudo inédito da Associação Brasileira de Tecnologia em Equipamentos e Manutenção (Sobratema), feito com base nos números de produção e venda de máquinas e em demandas como as obras da segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), aponta que até 2015 a quantidade de máquinas pesadas para infraestrutura com até dez anos de uso no Brasil passará dos atuais 146 mil para 313 mil – fora as máquinas para agricultura, mineração etc. Se isso ocorrer, estima-se que serão necessários mais de 160 mil novos operadores para cada uma dessas novas máquinas, além de cerca de 40 mil engenheiros e técnicos gestores – para cada quatro equipamentos precisa-se de, ao menos, um desses profissionais.

"Em um cenário em que já sofremos com a escassez de pessoas qualificadas, isso é bastante preocupante, sem contar os trabalhadores necessários para a manutenção e o mercado de reposição de peças dessas máquinas", alerta o coordenador de pesquisa da Sobratema, Brian Nicholson.

São trabalhadores com conhecimento técnico mais apurado que os da construção civil e, por isso, mais "caros". Enquanto um trabalhador da construção civil ganhou, em média, R$ 1.242 por mês em 2010, o do setor de infraestrutura recebeu R$ 1.707, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

É essa alta remuneração da construção pesada – que pode chegar a R$ 4 mil no mercado – que está atraindo mais pessoas, ainda que em ritmo mais lento que outros setores. Nos últimos 12 meses, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, os oito segmentos que correspondem ao setor de infraestrutura cresceram apenas 2,77%, frente aos 8,08% da construção como um todo e 6,41% do total do mercado formal. No Paraná, o crescimento geral foi de 3,43% no mesmo período, mas, no segmento que envolve rodovias, ferrovias, obras urbanas e obras de arte especiais, houve descrécimo de 13% – um dos indícios da falta de obras no estado (leia mais nesta página).

Capacitação

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no Estado do Paraná (Sintrapav-PR), Raimundo Ribeiro dos Santos Filho, conhecido como Bahia, diz que tem enfrentado dificuldades na aplicação de recursos públicos para a capacitação dos trabalhadores da área. "Normalmente esse treinamento se daria pelos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), mas algumas exigências, como a priorização de beneficiários do Bolsa Família, dificultam tudo. Deveria haver uma flexibilização dessas regras para capacitar quem está atuante, na obra, e também um incentivo maior ao investimento das próprias empresas nessa capacitação."

Diante das possibilidades futuras da construtora JMalucelli – ela está de olho nas novas rodovias do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em todo o país, no novo leilão de hidrelétricas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e nas obras de expansão de ferrovias, sob o comando da estatal federal Valec –, o diretor Celso Jacomel Junior, concorda que as empresas precisam investir no treinamento dos funcionários, mas reclama da carga tributária e de outras exigências da CLT. "Quando vemos o Brasil como um todo, não só na construção, mas em outros setores, vemos que já passou da hora de revisar parte das regras trabalhistas, desonerando o empregador."

Falta de união

Laertes Vieira, gerente do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Rio Branco do Sul – unidade que concentra a maior parte da formação da construção pesada pela entidade no estado –, diz que falta união do segmento para a capacitação de trabalhadores. A exemplo do fizeram os setores de vestuário e fabricação de cimento, ele diz que as empresas de construção pesada também deveriam se unir, em um pacto por capacitação, pontuando suas necessidades em números e destinos.

Para a operação de diferentes máquinas, de caminhões basculantes a empilhadeiras, a unidade de Rio Branco do Sul forma de 300 a 400 trabalhadores por ano. "Estamos investindo nisso, agora também com simuladores para as aulas e com planos de introduzir cursos também para retroescavadeiras e escavadeiras. Mas só a união do empresariado vai nos dar o tamanho certo da demanda."

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