Linha de produção da Volkswagen, em Taubaté (SP)| Foto:

O que tem em comum carros, remédios, produtos de metal, papel e celulose? Em um cenário em que a indústria vem dando uma desacelerada desde junho, eles vêm tentando puxar para cima os números da produção. A taxa acumulada de crescimento nos 12 meses encerrados em fevereiro foi de 0,5%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a menor desde setembro de 2017.

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Quem mais vem tentando conter o ritmo da queda é a indústria automobilística, que cresceu, nos últimos 12 meses, ao ritmo de 10,5%. “É bem acima da média nacional, mas assim como o restante da indústria, vem perdendo fôlego”, diz André Macedo, coordenador da pesquisa de produção industrial no IBGE. Em julho, a taxa anualizada de crescimento era de 21,1%.

Um dos principais segmentos que vêm mantendo o desempenho da indústria automobilística é o de caminhões. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no primeiro trimestre foram produzidos 47,7% a mais do que no mesmo período do ano passado. Os destaques são os caminhões de porte médio, semi-pesado e pesado.

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A redução no crescimento anualizado da produção da indústria automobilística deve-se a dois fatores essenciais: o ambiente de incerteza que dominou a maior parte do segundo semestre, devido ao processo eleitoral, e a crise na Argentina.

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Segundo Macedo, a instabilidade política na segunda metade do ano passado contribuiu para afetar as decisões de consumo das famílias e de investimento das empresas. “E um canal importante para o escoamento da produção da indústria automobilística, a Argentina, está em crise.” No primeiro trimestre, as vendas do setor para o país vizinho caíram 60,2%, de acordo com o Ministério da Economia.

Outro setor que vem crescendo acima da média, mas cuja expansão vem perdendo fôlego á indústria farmacêutica e de farmoquímicos. A taxa anualizada de crescimento em fevereiro foi de 3,7%. O especialista destaca que a atividade vem passando por momentos de volatilidade neste ano, com queda na produção em janeiro e retomada em fevereiro. “A expectativa é de que ela se reduza nos próximos meses.”

Quem também vem ajudando a puxar o desempenho da indústria para cima são os fabricantes de produtos de metal. Nos 12 meses encerrados em fevereiro tiveram uma expansão de 3,1% em relação ao período anterior. É um setor que vem ganhando fôlego, muito em função da indústria automobilística.

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Mas também vem sendo beneficiado pelos bons resultados nos segmentos de artefatos domésticos, embalagens e construção (estruturas pré-fabricadas de metal), aponta o IBGE.

“O crescimento da indústria de fabricação de produtos de metal não é homogêneo: metade do setor está em alta e a outra metade em baixa”, explica Macedo.

Outro setor que vem puxando para cima o desempenho da indústria é o de papel e celulose. Nos 12 meses encerrados em fevereiro, a produção física cresceu 3% em comparação ao período anterior, aponta o IBGE. “Os números são puxados basicamente pela celulose, que tem um papel importante nas exportações brasileiras para a China”, destaca Macedo.

Assim como a indústria automobilística, o ritmo de crescimento na produção papeleira vem caindo nos últimos meses. As exportações tiveram uma pequena queda no primeiro trimestre, quando atingiram US$ 484,6 milhões, 0,56% a menos do que nos mesmos meses de 2018.

Os setores que puxam a indústria para baixo

Treze das 25 atividades pesquisadas pelo IBGE estão operando no vermelho. A maioria pertence a dois setores vitais: a indústria de bens de consumo e de bens intermediários (insumos industriais). Segundo Macedo, eles tem peso relevante na produção industrial brasileira: correspondem a 85% do total.

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Entre os segmentos que tem os piores desempenhos estão a indústria alimentícia, com queda de 5,5%; a indústria de fumo (5,4%); têxteis (3,3%), confecções (3,1%) e couro e calçado (2,7%).

Segundo Marcelo Azevedo, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), estes segmentos estão retraídos por uma série de fatores: o medo do desemprego ainda é grande entre as famílias e estas ainda estão com um endividamento razoável, o que inibe à ida às compras.

A elevada taxa de desemprego ainda é um agravante, destaca Azevedo. A taxa no trimestre encerrado em fevereiro era de 12,4%, o que corresponde a 13,1 milhões de pessoas.

A última pesquisa sobre o medo do desemprego realizada pela entidade empresarial, e com dados de dezembro, aponta para uma taxa acima da média histórica. Os maiores temores de estão entre a população de baixa renda. "O medo de ficar o desemprego e a dificuldade de recolocação são dois fatores que inibem as decisões de consumo das famílias", diz Azevedo.

O endividamento das famílias está nos maiores níveis desde setembro de 2015, apontam dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC). 62,4% tem algum tipo de dívida. 23,4% estão com contas em atraso e 9,4% estão inadimplentes. Isto ajuda a segurar a demanda por crédito, que, segundo a Serasa Experian, caiu no comparativo entre janeiro de 2018 e de 2019 para os consumidores que ganham mais de R$ 500,00.

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O fraco desempenho da indústria acaba sendo um combustível para o comportamento aquém das expectativas dos fabricantes de insumos industriais. É o caso da indústria de químicos, que encolheu 0,8% nos 12 meses encerrados em outubro, comparativamente ao período anterior, segundo levantamento do IBGE.

Azevedo, da CNI, acredita que quando a indústria voltar a reagir, o ponto de partida será o segmento de bens intermediários. Uma pesquisa realizada pelo Banco Central (BC) junto a instituições financeiras projeta um crescimento de 2,3% na produção industrial em 2019, mais do que o dobro que foi verificado no ano passado.