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Herbicida - Cadastro no estado é desafio

A Basf terá de enfrentar, no Paraná, o mesmo trâmite que barrou o glifosato Roundup Ready da Monsanto, ameaçando o cultivo de soja transgênica na próxi-ma safra. Para a comercialização da semente geneticamente modificada em parceria com a Embrapa, a multinacional alemã deve lançar no mercado produtos com a mesma função do glifosato, ou seja, o controle de ervas daninhas em lavouras já desenvolvidas. Esses herbicidas pós-emergentes terão de ser cadastrados nas secretarias estaduais da Agricultura, do Meio Ambiente e da Saúde, onde o Roundup Ready ainda não é aceito.

A Monsanto tenta reverter no Tribunal de Justiça decisão que permite à autoridade ambiental exigir informações extras antes de cadastrar o Roundup Ready. Para a multinacional norte-americana, o estado trava o sistema de cadastro para inibir a produção de transgênicos. O governo paranaense alega que a Monsanto deve informações essenciais à proteção do ambiente.

A Basf está se preparando tanto para o cadastro estadual de herbicidas quanto para a liberação nacional da semente transgência, afirma o gerente de Biotecnologia da empresa, Luiz Louzano. Os mesmos testes realizados neste ano devem atender aos dois processos. (JR)

A maior parte dos experimentos que resultaram na soja transgênica anunciada nesta semana pela Basf e pela Embrapa foi desenvolvida no Paraná. A primeira semente geneticamente modificada com tecnologia brasileira tem raiz no estado em que mais surgem restrições à produção de grãos transgênicos. Os produtores paranaenses não podem usar o glifosato pós-emergente para cultivar soja Roundup Ready e a seção estadual da Justiça Federal suspendeu, há um mês, o processo de liberação comercial do milho Liberty Link, com efeito para todo o Brasil. Os pesquisadores da nova soja acreditam, no entanto, que a participação brasileira vai favorecer a liberação comercial da semente.

A soja transgênica assinada pela multinacional alemã e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária está tecnicamente pronta para cultivo. Além dos experimentos realizados em campos do Paraná, as sementes foram testadas em áreas de Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Piauí e Rondônia. "Os experimentos foram realizados mais aqui no Paraná e hoje ainda ocupam 10% do tempo dos cerca de 100 pesquisadores envolvidos", conta o geneticista José Granciso Ferraz de Toledo, pesquisador da Embrapa Soja, com sede em Londrina. Ele afirma que, com testes em solo nacional, será mais fácil responder a possíveis questionamentos científicos no processo de registro do grão.

A Basf forneceu o gene ahas, aplicado por pesquisadores brasileiros à soja Conquista, uma das variedades da Embrapa mais cultivadas no Centro-Oeste. A Embrapa tornou a nova soja produtiva e agora a semente passa por testes que avaliam riscos ambientais e de saúde. A semente é resistente a herbicidas da classe das imidazolinonas, que matam ervas daninhas de folhas largas e estreitas.

Segundo Toledo, todos os testes realizados até agora mostram que a nova soja, que deve ser chamada de Cultivance, é tão segura quanto a Conquista. "Estamos colhendo parte das sementes que vão para os testes finais. Os resultados serão, logo em seguida, encaminhados à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)."

A Basf prevê que os testes ambientais e de saúde sejam concluídos ainda neste ano. O pedido de liberação comercial deve ser protocolado na CTNBio em 2008. A estimativa dos pesquisadores é de que este trâmite leve dois anos. Nesse período, eles pretendem desenvolver pelo menos cinco tipos de sementes da nova soja apropriadas a diferentes regiões, do Sul ao Nordeste do país.

Os testes seguem em quatro frentes, afirma o diretor de Biotecnologia da Basf, Luiz Carlos Louzano. Numa delas os pesquisadores investigam se a proteína produzida pelo gene ahas (proteína ahas) pode ser consumida com segurança. Em outra avaliam a equivalência nutricional entre a soja transgênica e a variedade Conquista. O terceiro ponto abrange a caracterização agronômica (germinação, vigor, crescimento, relação com insetos e fungos). Antes da liberação comercial é necessária ainda a caracterização molecular, que retrata a identidade genética do grão.

"Estamos prevendo que a liberação comercial vai levar dois anos, um prazo bastante razoável", afirma Louzano. Hoje a CTNBio avalia dez pedidos para produção em escala: seis de milho, três de algodão e um de arroz. Para cada um desses pedidos de liberação comercial, há outros quatro de licenças para realização ou ampliação de pesquisas com grãos geneticamente modificados. A primeira soja transgênica brasileira é também o primeiro grão geneticamente modificada da Basf. A empresa pretende registrar o produto para distribuição em 20 países.

No desenvolvimento da nova soja serão investidos R$ 13,5 milhões, dos quais R$ 10 milhões já foram aplicados.

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