Luciana Bechara, da Fiep, diz que o dólar baixo e a alta carga tributária dificultaram a competição com os produtos chineses em 2014| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Efeitos

Crise corta empregos e prejudica renda de 61 municípios

Uma crise no segmento vestuário tem efeito direto nos índices de emprego do estado, já que é o segundo setor da indústria que mais emprega no Paraná (cerca de 73 mil trabalhadores), atrás apenas de alimentos. De acordo com o economista da Fiep, a massa salarial do vestuário representa 10% ou mais da renda de 61 pequenos e médios municípios do interior do estado.

Em algumas cidades, como Pérola (Região Noroeste), a massa salarial do vestuário corresponde a 50% da renda local. Em Cianorte, um dos principais polos do estado, o segmento corresponde a 26% da renda do município. Hoje, são cerca de 2,5 mil fábricas de roupas em operação em todo o Paraná.

De janeiro a novembro do ano passado, o setor de vestuário fechou 852 postos de trabalho com carteira assinada no Paraná, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. Em 2013, o segmento criou 4,7 mil empregos formais.

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Atacado

Copa prejudica os negócios no melhor período do ano

A realização da Copa do Mundo ajudou a levar para baixo os índices do setor de vestuário no estado em 2014. Justamente porque o evento coincidiu com a melhor época de vendas do ano no atacado– maio e junho. "O produto paranaense é de moda e não teve efeito na Copa", lembra Oséias de Souza Gimenes, gestor do Arranjo Produtivo Local de Cianorte.

Além do comércio parado, a presidente do Sindvest Paraná, Luciana Bechara, afirma que muitas fábricas também tiveram dificuldade em entregar tecidos e aviamentos. "O inverno representa dois terços da venda total do ano. O resultado já não vinha bom, mas não estava tão negativo. Com a Copa, ficou pior", diz.

Em comparação com 2013, o acumulado de vendas de janeiro a julho de 2014 caiu 12%.

Margem menor

Apesar do aumento nas vendas desde 2010, a margem de lucro das indústrias encolheu ano a ano, segundo os dados da Fiep. Isso porque os empresários vendiam mais barato para manter o ritmo de vendas na casa dos dois dígitos.

Depois de quatro anos de índices positivos, a indústria paranaense de vestuário amarga um 2014 com 11% de queda nas vendas no acumulado de janeiro a novembro, em relação ao mesmo período do ano anterior.

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INFOGRÁFICO: Veja os índices da indústria de vestuário em 2014

O setor, que hoje emprega cerca de 73 mil trabalhadores diretos, principalmente em polos no interior do estado, enfrentou retração na produção e a forte concorrência de produtos importados da China e outros países asiáticos no ano passado. Os dados são da Pesquisa Conjuntural da Indústria 2010-2014, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).

A empresária Luciana Bechara, presidente do Sindvest Paraná e coordenadora do Conselho Setorial da Indústria do Vestuário da Fiep, afirma que o dólar baixo incentivou a importação de produtos asiáticos, que ainda têm o benefício de contar com menos impostos embutidos no valor de venda. "Uma roupa produzida aqui tem 40% de imposto, considerando toda a cadeia. Uma proveniente da China tem 20%", diz.

Além da invasão dos chineses, o setor também encarou em 2014 escassez de mão de obra especializada. "Nós precisamos de mão de obra intensiva, já que praticamente não existem máquinas robotizadas no setor, exceto para corte. Com a escassez, baixamos a produção no último ano. Perdemos produtividade", afirma a empresária.

O economista Roberto Zurcher, da Fiep, relaciona o mau desempenho do ano passado com a situação do comércio e a crise econômica. "Percebemos que, além da queda no setor de vestuário, as vendas de artigos alimentícios de maior valor também diminuíram. Isto aconteceu por conta do aumento de preços de primeira necessidade. Assim sobrou menos para o consumo", diz.

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O cenário poderia ser ainda pior caso o setor não fosse favorecido por benefícios fiscais nas esferas estadual e federal, como o regime especial do ICMS (de 12% para 3%), estendido pelo governo do estado até o fim deste ano, e a desoneração permanente da folha de pagamento, com recolhimento de 1%.

Futuro incerto

A perspectiva dos empresários para 2015 é otimista, embora o cenário não seja dos melhores para o consumo neste ano. Segundo Luciana, eles acreditam que a produção interna se fortalecerá com a alta do dólar. "Além disso, achamos que a instabilidade da economia também pode enfraquecer a importação, já que os lojistas vão querer arriscar menos. Nas últimas conversas que tivemos, achamos que podemos crescer 15% em relação a 2014."

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