Os cerca de 200 milhões de smartphones brasileiros são responsáveis por boa parte da difusão de fake news| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A força da internet não será o fator decisivo para as eleições de 2018, mas um diferencial num pleito indefinido onde candidatos disputarão ponto a ponto. No âmbito das fake news, o déficit educacional brasileiro se revela como o principal entrave para evitá-las. 

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A avaliação é de Antonio Lavareda, professor da Universidade Federal de Pernambuco e presidente do conselho científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), e de Manoel Fernandes, diretor da Bites, empresa que atua em prevenção e estratégia no ambiente digital.

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Os especialistas participaram de debate da série Diálogos nesta segunda-feira (28) no Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), realizado pela instituição em parceria com a Folha de S.Paulo. A mediação foi do jornalista Uirá Machado.

Para Lavareda, o combate às fake news no Brasil esbarra na estrutura educacional da população.

Segundo estatística do eleitorado divulgada em abril deste ano pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 4,4% dos eleitores se declaram analfabetos e 25,9% possuem o ensino fundamental incompleto.

“A capacidade de discernimento para conseguir perceber os detalhes, incoerências e contradições de uma notícia falsa é pequena”, afirmou Lavareda.

Fernandes citou estudo feito por sua empresa entre as classes A e B, nas quais 60% já tinham ouvido falar em fake news, e C e D, nas quais a lógica se inverteu e a maioria das pessoas desconhecia o termo. “Esse é o dado mais problemático. É gente com celular na mão recebendo informações e distribuindo”, disse Fernandes ao mencionar que existem, no país, mais de 200 milhões de aparelhos smartphones. 

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Os debatedores também convergiram ao afirmarem que a internet é apenas uma parte do problema num cenário onde a maior parte da população tem a televisão como principal meio de informação. Para Lavareda, isso faz com que a agenda do Brasil seja pautada pela TV.

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“[Para os brasileiros] Corrupção é um problema dez vezes maior que distribuição de renda e desigualdade. Isso não tem nada a ver com internet ou com fake news, isso tem a ver com televisão”, comentou Antonio Lavareda ao analisar levantamento do último Datafolha. 

Na pesquisa, a corrupção liderava como principal problema do país representando 21% das respostas, enquanto distribuição de renda e desigualdade foram ranqueadas com 2%. “O Brasil tem problemas sérios que são do século 21, mas os enfrenta acumulando problemas do século 20”, finalizou o sociólogo.

Algoritmos?

Para o jornalista e sócio da Bites, não há, entre os governantes brasileiros, o hábito de utilizar dados na formulação de estratégias. Além disso, falta compreensão da classe política em relação ao potencial do digital.

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Como exemplo, citou levantamento de sua empresa que aponta o nome do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) citado em 22 mil buscas no Google, ao passo que a expressão “Jair Bolsonaro”, pré-candidato à Presidência pelo PSL, foi pesquisada 450 mil vezes. Segundo Fernandes, o Nordeste é uma das áreas que demonstram menor interesse pela candidatura do presidenciável tucano.

“Há um padrão de comportamento que a gente persegue para entender o que está acontecendo. Na hora em que o Alckmin montar uma estratégia no Nordeste com mais assertividade, veremos como esse número vai impactar o Google”, disse.

Fernandes destaca que a radicalização é uma consequência dos algoritmos. “A polarização é natural do algoritmo, porque ele agrupa as pessoas de acordo com o que elas querem.”

Para Lavareda, as redes sociais contribuem positivamente para a democracia. No entanto, ressalva que são nelas que políticos radicais encontram um caldo de cultura para suas ideias e angariam adeptos. “O eleitor pode votar por entusiasmo ou por rejeição, ou seja, por raiva. E a internet dá injeções na veia de entusiasmo e de raiva.” 

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