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Atuação conjunta da escola e das famílias é um dos diferenciais da educação personalizada, que tem atraído cada vez maios pais.
Atuação conjunta da escola e das famílias é um dos diferenciais da educação personalizada, que tem atraído cada vez maios pais.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Durante a formação acadêmica das crianças, o trabalho da escola e o da família precisam andar juntos. Quem defende essa ideia é a pedagoga Regina Shintani, diretora de um colégio em São Paulo que em apenas dois anos viu o número de alunos passar de 90 para 700. O motivo da alta procura seria justamente a forma de trabalho adotada pela instituição de ensino. Lá, pais e familiares têm papel ativo no processo de aprendizagem e recebem apoio individualizado da escola para exercer essa missão. Regina é uma das palestrantes convidadas para o II Congresso Brasileiro de Educação Personalizada, que ocorre nesta sexta-feira (22) e no sábado (23), no Rio de Janeiro, de forma presencial e também na modalidade online.

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Como já mostrou a Gazeta do Povo, cada vez mais pais têm buscado alternativas ao ensino aplicado hoje nas escolas públicas e privadas, criando ou apoiando escolas e colégios com foco no ensino de valores e excelência acadêmica. A ideia é a de que o ensino atualmente aplicado na maioria das escolas brasileiras, além da baixa qualidade, está envolto em ideologia, não aborda a formação de valores, e dá pouco espaço para a participação familiar.

Por isso, propostas que tentam inverter essa lógica, como a da educação personalizada, têm conquistado a atenção das famílias. Um exemplo disso é um colégio aberto em 2019, na cidade de São Paulo, para atender crianças da periferia da zona sul de São Paulo. De 2020 para 2021, em plena pandemia, o Colégio Caminhos e Colinas passou de 92 alunos para cerca de 700. “Este crescimento só foi possível porque havia muitas famílias preocupadas em oferecer uma boa educação para seus filhos e confiaram na nossa proposta pedagógica”, explica Regina.

Segundo ela, que também estudou em um colégio que adotava o ensino personalizado, além de trabalhar com as crianças, a escola também tenta preparar os pais, para que possam acompanhar os filhos nos estudos e desenvolvimento emocional e social. “Conversando com as famílias, conhecendo melhor cada aluno e agindo em conjunto, o trabalho é muito mais frutuoso”, diz ela.

Leia a seguir a entrevista de Regina Shintani à Gazeta do Povo.

Embora seja uma proposta já consolidada, a educação personalizada ainda não é tão conhecida, ao menos no Brasil. Como teve contato com essa proposta?

Regina Shintani: Conheci a educação personalizada como aluna, pois tive a oportunidade de estudar durante o ensino fundamental em um colégio que adotava esse estilo de educação. Na época, não imaginava que trabalharia na área, mas percebo que ter passado pelo papel de aluna foi muito importante para a minha formação pessoal e hoje me permite ter um olhar diferenciado para minha prática como professora.

Qual é o maior diferencial desse tipo de ensino?

Regina Shintani: Na minha opinião, o principal diferencial é a participação das famílias, que permite que o colégio possa trabalhar as potencialidades de cada aluno. Se tivéssemos apenas o trabalho em sala de aula, não conseguiríamos personalizar tanto, mas, conversando com as famílias, conhecendo melhor cada estudante e agindo em conjunto, o trabalho é muito mais frutuoso.

Na prática, como se dá essa participação das famílias?

Regina Shintani: As famílias são convidadas a acompanhar a parte pedagógica, pois é a partir da excelência acadêmica que desenvolvemos os outros aspectos de cada aluno. Cada estudante também conta com o apoio de um professor preceptor, que o acompanha, conversa regularmente com o aluno e a família e, juntos, pensam nos pontos de crescimento.

Além disso, as famílias também recebem uma formação específica para acompanhar os filhos nos estudos e nos outros aspectos: emocional, social, profissional, entre outros. Costumo brincar que os filhos não nascem com manual de instruções, por isso ter a oportunidade de conversar com especialistas em educação e trocar experiências com outros pais dá muita segurança para que eles possam exercer bem o seu papel.

Há embasamento científico que comprova que essa abordagem é benéfica às crianças?

Regina Shintani: Sim, há estudos que mostram os efeitos positivos do acompanhamento dos pais na vida escolar dos filhos e do acompanhamento personalizado do aluno por parte da escola.

No trabalho de conclusão de curso da minha pós-graduação [em Educação e Tecnologias pela Universidade Federal de São Carlos] pude estudar um pouco mais sobre os efeitos do envolvimento parental no processo educativo dos filhos e há muitas pesquisas que mostram que alunos cujos pais acompanham a vida escolar têm mais chances de experimentar o sucesso acadêmico e se sentem mais motivados a planejar o próprio futuro. Uma das pesquisas mostrava, inclusive, que o envolvimento parental é mais importante para o sucesso acadêmico das crianças do que outros fatores, como status socioeconômico da família, raça, etnia e contexto educacional.

Estamos falando de escolas que adotam a educação personalizada. Mas é possível aplicar preceitos desse tipo de educação numa sala de aula comum?

Regina Shintani: Penso que sim, apesar de nunca ter tido essa experiência pessoalmente. Ainda que o colégio como um todo não adote o estilo de educação personalizada, cada professor, dentro das suas possibilidades, pode procurar desenvolver um olhar personalizado para cada aluno, ainda que em grupos numerosos.

Por exemplo, sou professora de Português e ao trabalhar determinado conteúdo, percebo que um aluno ainda não desenvolveu a habilidade de relacionar conceitos. Posso dar esse retorno a ele e orientá-lo a como desenvolver essa habilidade. Nas próximas atividades que ele me entregar, posso olhar mais atentamente para esse aspecto para verificar como está o seu desenvolvimento.

Outra possibilidade de aplicar a educação personalizada é quando o professor percebe que algum aluno se destaca em alguma habilidade. O professor, então, pode pensar em maneiras de valorizar e potencializar isso, como pedindo que o aluno auxilie outros que estão com mais dificuldade, ou oferecendo atividades mais desafiadoras para que ele possa ir além.

E as famílias? Elas podem utilizar alguma coisa da educação personalidade no dia a dia de seus filhos?

Regina Shintani: Se eu pudesse dar uma sugestão para as famílias, seria que conversassem muito com o colégio em que os filhos estudam. Se a escola estiver alinhada com o trabalho que a família costuma fazer em casa, o desenvolvimento da criança será muito fortalecido.

A família pode acompanhar as metodologias pedagógicas que a escola adota e procurar conhecer qual é a estrutura dos materiais didáticos. Também pode conhecer os professores e a coordenação pedagógica para contar as preocupações da família em relação ao desenvolvimento da criança, comentar eventuais mudanças de rotina que podem impactar no comportamento da criança, solicitar ajuda com algum aspecto específico que estiverem percebendo… Enfim, contar com a escola e manter um diálogo aberto e constante.

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