A notícia parece velha, mas infelizmente não é. No último levantamento do Pisa, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, o Brasil figura mais uma vez entre os últimos da lista de 79 países e economias avaliados. O país ficou em 57° lugar em leitura, 66° em ciências e em 70° em matemática, com notas bem abaixo da média das nações participantes. Nos últimos 10 anos, fora uma ligeira melhora em leitura, as notas do Brasil continuam estagnadas. Veja gráfico com a evolução do Brasil no PISA.
INFOGRÁFICO: Veja quem são os melhores no Pisa: China lidera
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"Está muito aquém do que deveria ser, dado o nível socioeconômico do país", diz Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV/EBAPE. "Considerando nosso PIB não podemos aceitar essa posição em termos de aprendizagem."
O resultado, divulgado nesta terça-feira (3), refere-se ao exame aplicado em 2018 em todo o mundo a 600 mil estudantes de 15 anos, amostragem que representa um universo de 32 milhões de jovens em fase final de educação básica.
O PISA, sigla em inglês para Programme for International Student Assessment, é um teste de desempenho escolar realizado desde o ano 2000 pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e repetido a cada três anos, que inclui, além de países-membros, outros que quiseram voluntariamente participar do levantamento, caso do Brasil. Aqui a coordenação do exame é responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O objetivo da avaliação é produzir indicadores que contribuam para melhorar a qualidade da educação nos países participantes. A nota do Brasil teve uma leve melhora de 2015 pra cá e está acima daquela obtida no início da série histórica, mas ainda muito abaixo da média mundial. Veja no gráfico:
*Na primeira edição do PISA, em 2000, o Brasil foi avaliado somente em leitura e atingiu 396 pontos
Por que a educação no Brasil patina
Quatro fatores estão por trás do bom desempenho dos melhores classificados no Pisa 2018, na avaliação da professora Cláudia Costin, que já foi diretora global de Educação do Banco Mundial e conhece escolas de inúmeros países:
- a profissão de professor é atrativa e tem reconhecimento social;
- a formação de professores integra teoria e prática (como acontece nos cursos de Medicina aqui no Brasil);
- os países têm currículo bem claro e material didático alinhado com o currículo;
- os professores não perdem tempo com disciplina.
A especialista em Educação ressalta que a solução dada aos problemas de disciplina nos países com melhor desempenho escolar é tratar o jovem de forma muito mais adulta, mostrando que ele é protagonista da própria aprendizagem. "Aqui a prática é chamar os pais para reclamar do comportamento e desempenho escolar dos filhos e nada muda", diz Cláudia, citando que quando o foco é outro os resultados aparecem. "Não precisamos só buscar exemplos de fora, mas coisas que já estão dando certo no Brasil. Visitei uma escola pública de Ensino Médio na cidade Orobó, no sertão de Pernambuco, onde o IDEB (indicador da Educação Básica brasileira) é de 5,2 quando a média nacional é 3,5. É uma região muito pobre, mas lá não havia problemas de disciplina. Você pode construir disciplina de duas maneiras: na palmatória, como se fazia antigamente, ou despertando o interesse dos alunos pela própria vida escolar. É o que os professores de Pernambuco estão fazendo."
O Pisa 2018 traz ainda uma revelação importante para nortear políticas públicas: a distância do desempenho dos alunos de maior poder aquisitivo aumentou em relação ao desempenho dos mais pobres. Os alunos brasileiros considerados favorecidos superaram os mais pobres na leitura em 97 pontos, quando a distância média dos países da OCDE é de 89 pontos de diferença. No Pisa 2009, a diferença de desempenho na leitura relacionada ao status socioeconômico foi de 84 pontos no Brasil, menor que a média da diferença nos países mais ricos, 87 pontos.
Em comparação a outros países da América Latina que participaram do levantamento, o Brasil teve melhor desempenho apenas em leitura, ficando à frente da Colômbia, Argentina, Peru, Panamá e República Dominicana – e perdendo para Chile, Uruguai, Costa Rica e México. Em matemática, o Brasil só ficou à frente da Argentina, do Panamá e da República Dominicana. Já em ciências, o Brasil superou apenas dois dos países latino-americanos que participam da avaliação: Panamá e República Dominicana.
Quem são os melhores no PISA 2018
Três regiões da China figuram entre as cinco melhores do ranking, sendo que uma província ocidental encabeça a lista com 555 pontos em leitura, 590 em ciências e 591 em matemática. Macau é a 3ª melhor e Hong Kong a 4ª. No meio delas, em 2° lugar, está Cingapura, também na Ásia. O 5° lugar é da Estônia, ex-república soviética no norte da Europa. O Canadá aparece em 6° na lista, seguido de Finlândia, Irlanda, Coreia, Polônia, Suécia, Nova Zelândia, Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Austrália, Taipei Chinês, Dinamarca, Noruega e Alemanha.
A melhor classificação entre os países da América Latina que participam do ranking foi a do Chile, que ficou com o 43° melhor desempenho escolar entre 79 nações avaliadas.
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