O programa “Conta pra Mim” tem um acervo de 40 livros em formato digital, além de cantigas e fábulas de Monteiro Lobato interpretadas pelo cantor e compositor Toquinho.| Foto: Agência Brasil
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Uma parceria entre o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério da Cidadania levará às famílias beneficiárias do programa Criança Feliz, cujo alvo prioritário são beneficiários do Bolsa Família e do BPC2, kits de literacia. O objetivo é estimular o envolvimento familiar na aprendizagem e contribuir para a melhoria do processo da alfabetização. Cerca de 394 mil famílias devem ser contempladas em 2,5 mil municípios brasileiros.

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Os itens, que fazem parte do programa Conta pra Mim, primeira iniciativa voltada à valorização da leitura no âmbito da família no país, são materiais aos quais, em geral, elas não possuem acesso.

Achados científicos chancelados mundo afora apontam que a influência da família no desenvolvimento da linguagem dos filhos, sobretudo quando ancorada em programas dessa natureza, é um dos principais preditores do sucesso educacional e social das crianças. Especialistas como James Heckman, prêmio Nobel de Economia, afirmam que iniciativas como a do MEC são instrumentos capazes de romper o chamado ciclo da pobreza e superar vulnerabilidades sociais.

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Compõem o kit a ser entregue às famílias dois livros literários, um caderno de desenho, giz de cera, calendário, encarte explicativo das principais práticas de literacia familiar e um template do mascote do programa. Os demais materiais, como o Guia de Literacia Familiar, os vídeos explicativos, as cantigas e a coleção de 40 livros literários podem ser encontrados no site do Conta pra Mim.

A literacia familiar, conjunto de práticas e experiências relacionadas com a linguagem, a leitura e a escrita vivenciadas entre pais/cuidadores e filhos, é tida como "carro-chefe" das ações da Secretaria de Alfabetização (Sealf) do MEC.

"Para essas famílias que não têm acesso aos materiais é que vamos trabalhar".

Wiliam Cunha, diretor na Sealf

Lançado em 2019, o Conta pra Mim não se resume à leitura junto aos filhos, mas oferece, aos pais, orientações sobre o conceito de literacia familiar (termo consolidado mundo afora e ainda pouco conhecido no país) e ferramentas para que famílias vulneráveis possam aplicar as práticas. A implementação do programa se dá por meio de ações que independem da adesão de entes federado.

Uma das práticas de literacia, a interação verbal, por exemplo, visa justamente combater uma conjuntura evidenciada pelo estudo Meaningful differences in the everyday experience of youg American children (Contrastes significativos na experiência cotidiana de crianças norte-americanas, em tradução livre).

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Entre outras coisas, a pesquisa diagnosticou o chamado "abismo de 30 milhões de palavras". Isso é, quando comparadas com crianças de famílias de classe média alta, crianças de famílias pobres, pelo menos até os 4 anos de idade, são submetidas a 30 milhões de palavras a menos durante seu desenvolvimento no seio familiar. Conjuntura essa que provoca impactos significativos na aprendizagem dos filhos. Mais tarde, eles tendem a ter dificuldades para consolidar a alfabetização e prosperar no ensino.

O governo distribuirá os materiais através das Secretarias de Assistência Social, no âmbito do programa Criança Feliz - a maior ação de visitação domiciliar do país - e não pelas Secretarias de Educação. Os mais de 21 mil visitadores receberão capacitação técnica do governo para implementar a ação.

Questionado, o MEC afirmou que não pretende ofertar às famílias, além dos livros, os materiais em formato audiovisual, mas não descartou a possibilidade de fazê-lo em uma eventual segunda fase do projeto.

Não há previsão para a implementação da ação.