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Alunos de Fazenda Rio Grande têm reforço no contraturno oferecido pelo  Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Alunos de Fazenda Rio Grande têm reforço no contraturno oferecido pelo Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Exemplos

Conheça três ONGs que atuam de diferentes formas e que, segundo especialistas a favor da parceria, têm realizado um bom trabalho na comunidade escolar:

Incentivo à arte e à cultura

Em 2007 o Centro de Atendimento Especial à Criança e ao Adolescente de Paranavaí (Cecap) firmou uma parceria com uma escola da periferia de Paranavaí, no noroeste do estado, que havia tido a pior nota na avaliação das escolas da região. Dois anos depois, o desempenho dos alunos já havia melhorado muito, o que rendeu à ONG o prêmio Itaú-Unicef. "Nós não repetimos as atividades que a escola faz, mas ajudamos com oficinas e trabalhos pedagógicos usando a arte, a dança, teatro e contação de histórias. Motivamos a criança a participar de leituras e produções de textos e a se expressar. Essas manifestações ajudam as crianças a se interessarem também pelo conteúdo escolar", conta a diretora do Cecap, Líria Inez Balestieri.

O resultado foi além dos muros da escola. "Os professores perceberam naquelas crianças uma capacidade de manifestação cultural muito grande e passaram a valorizá-las. A beleza dos cenários, palco e figurinos encantou também as famílias, que se aproximaram da escola, e isso refletiu em uma mudança de comportamento dentro da comunidade", conta Lígia.

Reforço no contraturno

Com 16 anos de atuação em Fazenda Rio Grande, na Grande Curitiba, o Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral (Cadi) tem se destacado com um de seus projetos, o Contraturno.

A iniciativa está em seu segundo ano de prática, mas já chama a atenção dos especialistas por causa dos resultados que vêm sido obtidos na Escola Municipal São Gabriel, onde 30 crianças são atendidas e recebem reforço escolar no contraturno.

A escolha dessas crianças é feita pela própria escola, ou seja, os alunos que apresentam algum tipo de problema de aprendizagem são encaminhados pelas pedagogas. Durante as atividades, esses estudantes recebem atenção especial, o que nem sempre é possível em sala.

"Nosso objetivo é que elas se desenvolvam, então ajudamos com atividades no contraturno. Para incentivá-las, há premiações com medalhas pela superação, esforço e aumento da frequência", explica Carla Andrade, gerente de programas do Cadi.

Esporte para transformar

Criado em 2003 pelo técnico da seleção de voleibol, Bernardinho, o Instituto Compartilhar é uma ONG que vê o esporte como agente de transformação social e que atende aproximadamente 5,8 mil crianças e adolescentes em quatro projetos socioesportivos desenvolvidos em cinco estados. No Paraná, destaca-se o Esporte Cidadão. Segundo Luiz Fernando Nascimento, gerente executivo, o objetivo do programa não é recrutar futuros talentos para aprender a jogar vôlei.

"O esporte é excludente. A nossa ideia é dar a todos a expectativa de que não importa se é baixinho ou gordinho, pelo projeto todos vão ter o prazer de jogar", diz. Mais que ensinar o esporte a crianças carentes, o projeto pretende facilitar o desenvolvimento humano por meio do vôlei. "É um trabalho de médio a longo prazo. Usamos o esporte como elemento para que as crianças aprendam a respeitar os outros, a pensar na paz e a achar soluções para enfrentar os conflitos sem violência", afirma. No estado, o Esporte Cidadão tem dois núcleos na capital e outros 16 no interior, com aulas de vôlei nas escolas da rede estadual de ensino.

Seja para auxiliar na formação de professores, dar uma mãozinha com aulas de reforço para os alunos, para promover atividades esportivas e de lazer ou para abordar de forma mais aprofundada assuntos como sexualidade e violência, as organizações não -governamentais (ONGs) estão cada vez mais próximas das escolas públicas. Apesar de existirem várias experiências que demonstram como essa parceria pode ser benéfica para comunidades escolares, o assunto ainda gera debates a respeito da intervenção dessas organizações dentro de um espaço que é de responsabilidade do Estado. Para Ana Lúcia Jansen de Mello Santana, professora da Univer­­sidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora do Núcleo Inter­­disciplinar de Estudos Sobre o Terceiro Setor (Nits) da instituição, sobram argumentos para que essa parceria seja defendida. Segundo ela, as ONGs devem propor atividades complementares que contribuam para a formação dos alunos, e não interferir no que é considerado atribuição do Estado. "As ONGs transcendem currículos escolares, com temas que precisam ser abordados e que não o são de forma satisfatória na escola, como educação financeira, paz, sexualidade", defende.

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Idôneas

A psicóloga Liliane Casagrande Sabag, atual secretária municipal da Educação e que foi coordenadora do projeto Comunidade Escola, também considera válido o trabalho das ONGs na comunidade escolar, desde que cada detalhe do projeto esteja de acordo com o programa político-pedagógico da escola. "Insti­tuições com bons projetos trazem muita contribuição para o processo educacional e podemos estar em um novo momento de fortalecimento de instituições que são idôneas, que têm excelentes projetos e que podem vir a somar. Mas é fundamental a análise técnica do projeto, para que as atividades sejam escolhidas com extremo cuidado e que elas aconteçam fora do horário regular de aula", diz.

Lacuna

Entre os pesquisadores da área da Educação, porém, há quem veja com preocupação essa relação. Um dos principais motivos seria a ausência ou incompetência do Estado, que seria preenchida pela participação das organizações. O professor Ângelo Ricardo de Souza, pesquisador do Núcleo de Políticas Educa­­cionais da Univer­­sidade Federal do Paraná (UFPR), defende essa ideia. "Normalmente essa parceria nasce ou se desenvolve no vácuo gerado pela ausência do Estado". Ele explica que essa presença das entidades na escola acontece de forma mais intensiva desde os anos 1990, incentivada pelo próprio governo ou por livre iniciativa da sociedade. Para Souza, esse interesse da sociedade é legítimo, mas poderia ser melhor aproveitado. "Não sou contrário à participação mais ativa na escola pública. A questão é avaliar por que meios essa ela se dá e com que grau de responsabilidade. Seria positivo um envolvimento de famílias e entidades no controle social e na cobrança do resultado, assim como a participação em conselhos de escola, conferências e assembleias escolares", diz.

Outra questão apontada pelos que se opõem às parcerias diz respeito ao modelo de negócio. Enquanto o modelo empresarial trazido pelas ONGs pode funcionar bem para outros segmentos, não vai necessariamente ser adequado para a gestão da escola e do sistema de ensino. O descompasso entre o conteúdo programado pa­­ra cada série da escola e o que é oferecido como complemento pelas ONGs também precisa ser avaliado nessa parceria, dizem os especialistas. Quando uma organização lida com assuntos como sexualidade ou religião o programa pode acabar deturpando o que já estava no currículo pedagógico da escola. Além disso, a suposta falta de garantias de qualidade é apontada pela doutoranda em Educação Cristina Cardoso como outro problema. "ONG nasce igual cogumelo depois da chuva. Elas estão relacionadas à caridade e ao trabalho voluntário, tarefas momentâneas, e não realizadas por profissionais. Se os alunos têm, por exemplo, dificuldade de aprendizagem, é preciso investir na qualidade da formação dos professores. A escola não é lugar de fazer caridade, pagamos impostos para que ela funcione", afirma.

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Interatividade

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