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Pesquisadora da Brown University, nos EUA, tem sido atacada por publicar trabalho que contesta argumentos dos defensores da causa transgênero | Wikimedia Commons
Pesquisadora da Brown University, nos EUA, tem sido atacada por publicar trabalho que contesta argumentos dos defensores da causa transgênero| Foto: Wikimedia Commons

Nos últimos meses, defensores da causa transgênero têm atacado Lisa Littman, pesquisadora da Universidade de Brown, pelo seu artigo “Início repentino de disforia de gênero em jovens e adolescentes: um estudo de relatos parentais”, publicado na PLOS One (revista científica online). Littman, professora assistente de Práticas Comportamentais e Ciências Sociais em Brown, observou o fenômeno da rapid-onset gender dysphoria (RGOD) examinando como as redes sociais e vídeos da internet afetam a identificação dos adolescentes com a identidade transgênero. 

Como resultado da repercussão pública contrária aos seus resultados, Littman está sendo não apenas perturbada nas mídias sociais; ela está sendo criticada pela própria universidade e o periódico que revisou e publicou a pesquisa. Apesar de ter promovido seu estudo (que passou por banca de revisão), a Brown University rapidamente cedeu à pressão pública e às acusações de apoio à transfobia. 

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A instituição publicou uma nota à imprensa sobre a pesquisa, substituindo-a com uma declaração questionando a qualidade da análise de Littman. Afirmou-se que a decisão era “baseada em critérios acadêmicos”, não em liberdade acadêmica, e ainda enfatizou o apoio à comunidade transgênero. 

O reitor da Brown School of Public Health (Escola de Saúde Pública de Brown), Bess H. Marcus, declarou que “preocupações com a metodologia” levaram a universidade a remover o artigo, alegando que membros da comunidade universitária haviam “expressado medo de que as conclusões do estudo poderiam ser usadas para desacreditar esforços de apoio à juventude transgênero e invalidar as perspectivas de membros da comunidade trans”. A revista PLOS One publicou declaração reconhecendo as reclamações sobre o estudo e prometeu “consultar especialistas a respeito do conteúdo e metodologia da pesquisa”. 

É preocupante quando um artigo revisado por banca – e pela ética – perde a plataforma oferecida pela universidade do pesquisador devido à forma com que o público e membros da área podem interpretar o estudo. Não importa o que os representantes de Brown digam, trata-se claramente de uma questão de liberdade acadêmica. O objetivo da liberdade acadêmica é que pesquisadores possam fazer perguntas difíceis – e até desconfortáveis –, podendo segui-las por meio da razão até chegar a conclusões lógicas. No caso das ciências, os acadêmicos conduzem suas pesquisas com base no empirismo, valendo-se dele para tirar suas conclusões. 

De alguma forma, a narrativa de identidade transgênero fez uma instituição da Ivy League (liga universitária composta por universidades renomadas, como Harvard e Yale) se curvar àqueles que gritam mais alto. A situação evidencia quão profundamente o ativismo transgênero tem ameaçado pesquisas científicas nos últimos anos. O estudo de Lisa Littman é apenas um entre muitos que enfrentaram ameaças desses ativistas, que são conhecidos por ameaçar mulheres, lésbicas e cientistas. O mais perturbador em tudo isso é que as críticas ao estudo de Littman não são pautadas pela lógica. 

Preocupações com a metodologia? 

A pesquisa de Littman passou por revisões de colegas e de editores, sendo examinada e aprovada pelo Institutional Review Board (IRB) do Icahn School of Medicine at Mount Sinai (instituto de revisão de uma escola e centro de pesquisa de medicina), da cidade de Nova York. 

O estudo foi atacado primeiramente pela sua metodologia, baseada na reunião de relatos de pais de jovens com disforia de gênero. Os métodos utilizados por Littman são bastante comuns em estudos de ciências sociais que envolvem a juventude, e qualquer um que trabalhe na área sabe disso. Basta analisar qualquer um destes estudos favoráveis à transexualidade que se baseiam em informações dadas pelos pais. Curiosamente, o lobby trans se esqueceu de perseguir esses pesquisadores, suas instituições de pesquisa e seus editores por confiarem em entrevistas parentais. 

Outro ponto utilizado para criticar o trabalho de Littman é este: críticos alegam que as descobertas da pesquisadora têm parcialidade porque ela recrutou pais em 3 sites - 4thWaveNowTransgender TrendYouth Trans Critical Professionals (cético em relação à transexualidade) –, dois grupos parentais e uma associação profissional. É uma alegação completamente falsa. Se existia algum lobby para parcializar os estudos de Littman, ele existia para influenciá-los à direção oposta. O link de recrutamento foi compartilhado e discutido dentro de um grupo no Facebook criado pela mãe de Jazz Jennings (ativista trans americana, Jazz é protagonista da série televisiva “A Vida de Jazz”) chamado “Pais de Crianças Transgênero”, que conta com mais de 7500 membros. Jenn Burleton, diretora do TransActive Gender Center (Centro de Gênero TransAtivo, em tradução livre) em Portland, pediu aos pais que respondessem ao questionário de Littman para alterar os resultados. Claramente, o estudo de Littman alcançou grupos de pais favoráveis à transexualidade, e a alegação de que seu questionário só foi compartilhado em “grupos de ódio” não tem fundamento. 

O Tratamento de Crianças Transgênero 

Em nota à imprensa emitida em nome do 4th Wave Now, Brie Jontry explica a situação de um ponto de vista mais amplo, que antecede ao estudo de Littman. Em suas palavras, “pais estão sendo chantageados emocionalmente com a perspectiva de resultados negativos e ameaçados com a perda da custódia ou o suicídio de seus filhos caso não sigam os protocolos de tratamentos arriscados e experimentais.” 

O que o público e os pais estão recebendo como “fato” em relação à “identidade transgênero” de crianças é uma completa inversão do que a ciência observa (por exemplo, que o sexo é social e o gênero é uma experiência somática, que existem cérebros masculinos e femininos). 

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Os pais são regularmente orientados para que aceitem a “nova identidade” de seus filhos e que perguntas e qualquer abordagem cautelosa podem levar ao suicídio. Eles relatam ouvir o questionamento: “Você prefere ter um filho trans ou um filho morto?” de membros das equipes que cuidam de seus filhos. Essas táticas são incentivadas por especialistas na área, como Diane Ehrensaft e Joel Baum (diretor sênior da Gender Spectrum). 

Em uma mesa redonda sobre as “Necessidades clínicas para aumentar a compreensão acerca da diversa comunidade transgênero”, eles alertavam alguns pais que a escolha é entre “ter netos” (leia-se: se recusar a esterilizar seus filhos) ou “não ter mais filho”. 

Pais resistentes chegam a ser ameaçados de ação dos Serviços de Proteção à Criança se eles não concordarem com as intervenções médicas. Na conferência de 2017 da US Association for Transgender Health (Associação Americana para a Saúde Transgênero, em tradução livre), Dra. Michelle Forcier e Johanna Olson-Kennedy discutiram abertamente sobre como elas treinam juízes de casos familiares a ver hesitação por parte dos pais como forma de “negligência médica”. 

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Enquanto isso, meninas de 13 anos estão sendo orientadas pela médica americana Johanna Olson-Kennedy de que elas já “têm capacidade de tomar uma decisão racional e lógica”, e se essas meninas mudarem de ideia e “depois quiserem seios em suas vidas, elas podem tê-los”. 

The Atlantic (revista cultural/literária fundada em Boston em 1857) relata que a pesquisadora da Universidade de Washington Kristina Olson “se opõe às sessões de tratamento psicológico obrigatórias para as crianças interessadas em uma transição”. Ela explica: “Eu não mando alguém para um terapeuta quando inicio um tratamento com insulina”. 

Olson-Kennedy e outros médicos regularmente prescrevem hormônios do sexo oposto irreversíveis para jovens de 12 anos, crianças que estão muito abaixo do limite de 16 anos recomendado pelos guias da Sociedade Americana de Endocrinologia. Essas guias também preveem que jovens diagnosticados com disforia de gênero devem ser tratados por uma equipe de médicos e especialistas em saúde mental, além de receber avaliação mental completa e compreensiva antes das avaliações médicas. 

A médica Ilana Shere, uma das fundadoras da clínica pediátrica da Universidade da Califórnia em São Francisco, explica nesse vídeo, gravado recentemente na Gender Odyssey Conference, que ela encontra muitos jovens que “não possuem disforia, não possuem problemas na saúde mental”, mas que requisitam intervenção médica. Ela diz que é “desafiador” que esses jovens consigam a aprovação para intervenção médica de um profissional da saúde mental. A solução de Sherer para essa questão? Chamar a psicóloga infantil Diane Ehrensaft por alguns minutos para dar uma “carimbada” na aprovação. 

Clínicas pediátricas ao redor do mundo têm notado um crescimento exponencial de problemas mentais preexistentes e diagnósticos de neurodesenvolvimento prejudicado entre jovens que solicitam serviços de identidade de gênero. Agora, a Dra. Littman descobriu que:

“Para os pais que conheciam o conteúdo da avaliação de seus filhos, 71,6% relataram que o clínico não explorou questões de saúde mental, ou trauma anterior, ou qualquer outra causa de disforia de gênero antes de prosseguir com o procedimento. 70% disseram que o clínico não pediu nenhum histórico médico antes de dar prosseguimento ao processo.”

Considerando que bloqueadores de puberdade seguidos de hormônios do sexo oposto resultam em esterilidade em 100% dos casos, temos que perguntar se esses procedimentos são medicamente éticos quando dados a crianças abaixo da idade legal de consentimento, muitas delas batalhando doenças mentais sem a devida avaliação e tratamento. 

World Professional Association for Transgender Health (Associação Global Profissional pela Saúde Transgênero, em tradução livre) e ativistas transgênero têm tentado suprimir a pesquisa da Dra. Littman e as vozes de pessoas que se resistiram à mudança de sexo há algum tempo, e precisamos perguntar por quê. As críticas ao estudo de Littman são claramente infundadas, e as ações da Universidade de Brown são certamente questionáveis, provavelmente antiéticas. Precisamos que as universidades mantenham um padrão elevado, em defesa da liberdade de expressão e de pesquisas inovadoras, principalmente quando a vida de crianças está em risco. 

©2018 Public Discourse. Publicado com permissão. Original em inglês.

* Julian Vigo é pesquisadora e cineasta especializada em etnografia, filosofia política e teoria pós-colonial. Seu último livro é “Terremoto no Haiti: A pornografia da pobreza e a política do desenvolvimento” (2015). No Twitter: @lubelluledotcom

Tradução: Rafael Baltazar

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