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Em outubro do ano passado, alunos durante as provas do Enem: discussão sobre revisão das notas da redação chega à Justiça | Felipe rosa/Gazeta do Povo
Em outubro do ano passado, alunos durante as provas do Enem: discussão sobre revisão das notas da redação chega à Justiça| Foto: Felipe rosa/Gazeta do Povo

O Ministério da Educação (MEC) conseguiu: o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) é o prato forte para quem sonha com uma vaga no ensino superior brasileiro. A adesão de muitas instituições ao exame e os programas de auxílio oferecidos pelo governo atrelados a ele deram ao Enem uma força incontestável. O problema é que a qualidade na aplicação e na correção da prova não está à altura da importância dada ao concurso.

Atualmente, não participar do Enem significa perder oportunidades. O aluno deixa de disputar vagas em entidades públicas por meio do Sistema de Seleção Unificado (Sisu) e fica impedido de participar do Programa Universidade para Todos (ProUni), que oferece bolsas parciais ou integrais em instituições privadas, e também do Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), o sistema de crédito do MEC.

Mesmo com toda essa abrangência, o exame continua a registrar problemas, criando um clima de insegurança nos estudantes. Falhas ocorrem desde 2009, quando a prova foi roubada. Neste ano, além do vazamento de questões do pré-teste, diversos erros na correção da prova de Redação têm levado alunos prejudicados à Justiça para pedir a revisão das notas. Na última semana, uma determinação judicial definiu que todos os alunos que participaram do Enem em 2011 possam ver a correção das suas provas. Isso deve fazer com que o número de processos e a insatisfação aumentem.

Problemas sequenciais

Com a revisão das provas de Redação, a classificação de alguns candidatos em vestibulares e programas federais pode mudar. Se isso ocorrer, universidades que usam a nota do Enem têm de alterar ou aumentar sua lista de aprovados? O estudante pode reverter um resultado já divulgado? Quanto tempo isso pode levar? Se o MEC demorar a acatar a decisão dos tribunais, o aluno terá direito a entrar na universidade no ano seguinte, sem vestibular?

São perguntas ainda sem respostas. O MEC apenas afirma que o edital do Enem não prevê que o aluno possa recorrer das notas, mas garante que para a última edição do exame terá de acatar as decisões judiciais. O MEC já anunciou que o próximo Enem estará preparado eletronicamente para fornecer o acesso à correção das provas de Redação.

Para os especialistas, ainda que o conceito da prova seja louvável, o MEC deveria ter testado e melhorado o processo antes que ele tivesse tantas consequências para os estudantes. "O Enem com toda a sua abrangência é uma excelente ideia, mas existe o consenso de que o MEC deveria ter provado o sistema. Foi uma precipitação política", afirma o consultor educacional, Renato Casagrande.

Renato Ribas Vaz, diretor-geral do Curso Positivo, no entanto, é mais pessimista. "O gigantismo da prova, que teve 4 milhões de participantes em sua última edição, vai sempre prejudicar o Enem. Não existe concurso desse tamanho no qual se tenha segurança absoluta do sigilo", decreta.

Exame tende a ser uma boa primeira fase

O Enem poderá ser a primeira fase de vestibulares nos próximos anos. Essa é a opinião de professores e especialistas em educação. O exame dificilmente substituirá o processo seletivo da maioria das universidades brasileiras, como deseja o MEC – pelo menos nas mais concorridas. Além disso, o Enem terá de melhorar muito em qualidade para que seja usado de alguma forma no vestibular de algumas delas, como a Universidade de São Paulo (USP), atendida pela Fuvest.

"Do ponto de vista da prova, o Enem poderia ser uma primeira fase e até substituir [o vestibular de] cursos de baixa demanda de alunos", considera Maurício Kleine, coordenador-executivo da Comvest, comissão responsável pelo vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Para os cursos mais procurados ele não resolve porque não tem a precisão necessária para selecionar os alunos de acordo com as notas", afirma.

UFPR

O nível das provas do Enem também continua distante do exigido em muitas universidades, acrescenta Raul Von der Heyde, coordenador do Núcleo de Concursos da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "As provas da UFPR, por exemplo, são muito mais difíceis. Não vejo a possibilidade em curto prazo, de usarmos só a prova do Enem nos concursos."

De acordo com Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos pela Educação, o Enem só funcionaria bem a ponto de ser o carro-chefe nos principais vestibulares no Brasil se fosse regionalizado. "A descentralização do exame aumentaria a sua qualidade e, com ela, a sua confiabilidade. Por enquanto, as universidades não se sentem seguras em usar a avaliação", diz.

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