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ASPAS

"O ponto mais alto e mais equilibrado da prosa realista brasileira acha-se na ficção de Machado de Assis."

Alfredo Bosi, no livro História Concisa da Literatura Brasileira.

Várias histórias, de Machado de Assis, está entre as obras que estreiam neste ano na lista de leituras para o próximo vestibular da UFPR. Clássico da literatura, o autor é, na visão dos críticos literários, um dos maiores ficcionistas brasileiros e é apontado por professores como provável presença nas questões propostas na prova. Em Várias histórias, coletânea de contos lançada em 1896, há narrativas muito conhecidas, como "A cartomante", "O enfermeiro" e "Um apólogo", que têm grandes chances de serem cobradas no vestibular.

Entretanto, segundo a professora de Literatura Gisele Thiel, do Colégio Sion, nada impede que contos menos conhecidos e também tidos como magistralmente bem escritos e/ou bem acabados, façam parte do repertório de questões, como "Mariana" e "A causa secreta".

Com o livro, Machado de Assis produziu uma relevante obra dentro do realismo. Nesse sentido, suas características aproximam-se com aquelas que, genericamente, são conceituadas como realistas: análise psicológica dos personagens, conflito e conciliação entre os opostos (dilemática), o adultério e o triângulo amoroso, os defeitos e as misérias humanas, a aproximação da realidade. Esses elementos quase sempre estão presentes nas narrativas machadianas, sejam contos ou romances.

O interessante é observar como o autor joga com esses elementos na composição da obra, elegendo os jogos narrativos e o papel fundamental do narrador para criar, principalmente nos contos, momentos ápices e de tensão.

A psicologia nos contos

Para pensar um pouco sobre questões psicológicas, é interessante destacar, dentre os contos de Várias histórias, "A causa secreta", "A desejada das gentes" e "Trio em lá maior", em que sarcasmos e dúvidas humanas afloram a partir do comportamento de personagens como Fortunato, Quintília e Maria Regina. Também vale ressaltar que em "Entre Santos" e "A Cartomante" há uma esfera sobrenatural.

Segundo a professora Gisele Thiel, triângulo amoroso e amizades postas à prova estão presentes nos contos "A Cartomante", "Trio em lá maior", "A desejada das gentes", "A causa secreta" e "Mariana". A construção textual dessas histórias é feita a partir de um narrador em terceira pessoa, onisciente para dinamizar o relato da história e acentuar os momentos dramáticos, salvo em "A desejada das gentes", que tem um narrador-protagonista. "Tal recurso prolonga o suspense e mantém o leitor atento ao desenrolar dos fatos e ao clímax, geralmente surpreendente", afirma Gisele.

"O enfermeiro"

A falta de escrúpulos também é abordada nos contos de Machado de Assis e assim é o narrador-personagem de "O enfermeiro", cheio de arrependimentos, remorsos e desculpas sobre o comportamento dele. Narrado a um interlocutor imaginário, o enfermeiro "confessa" ter, anos antes, esganado o rabugento coronel Felisberto, seu paciente. Ele era o único beneficiário da herança do morto e passa a vida prometendo devolução do dinheiro, mas acaba achando desculpas para não fazê-lo. Passa a crer e a iludir a si mesmo que isso foi o melhor – comportamento que, segundo Gisele, tende ser a caracterizado como inerente ao ser humano nas obras machadianas.

Várias histórias, de Machado de Assis

Professora Gisele Thiel dá dicas e comenta o livro que está na lista da UFPR esse ano.

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