Roberto Cláudio e Ciro Gomes na convenção estadual do PDT que definiu a candidatura do ex-prefeito de Fortaleza para o governo do Ceará.| Foto: Reprodução/Twitter
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O fim da aliança de 16 anos entre o PDT de Ciro Gomes e o PT de Luiz Inácio Lula da Silva no Ceará está beneficiando um aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) no estado. Enquanto os dois partidos se desentendiam sobre quem disputaria o governo estadual, Capitão Wagner (União Brasil), hoje deputado federal, foi ocupando espaços e se consolidando como um concorrente competitivo para o Executivo.

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A gota d’água para o rompimento entre as legendas foi a escolha de Roberto Cláudio (PDT), ex-prefeito de Fortaleza, para disputar o governo. A opção preferida pelo PT era a atual governadora Izolda Cela, que assumiu o posto depois que Camilo Santana (PT) renunciou para concorrer ao Senado. Izolda pediu sua desfiliação do PDT depois de ser preterida.

Com a governadora fora do páreo, o PT decidiu lançar um candidato próprio – o deputado estadual Elmano de Freitas. Com isso, quem deve se beneficiar é Capitão Wagner, já que os votos da esquerda acabarão divididos.

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Apoiado por Bolsonaro, o atual deputado federal lidera a disputa. Segundo levantamento do Paraná Pesquisas (veja a metodologia abaixo), Wagner tem 44,5% das intenções de voto, frente a 29,2% de Roberto Cláudio. A pesquisa foi feita antes de o PT anunciar que teria pré-candidato próprio.

“Com as bases governistas em compasso de espera, o Capitão Wagner avançou pelo interior, conseguiu [apoio de] prefeituras importantes. Ele está fazendo campanha há praticamente dois anos, desde que terminou a eleição para a prefeitura de Fortaleza”, diz Cleyton Monte, professor e cientista político da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Em 2020, Wagner perdeu por pouco as eleições para a prefeitura de Fortaleza. Quem venceu foi Sarto (PDT), apoiado por Ciro.

Troca de farpas entre ex-aliados

A relação entre os partidos não azedou só nos bastidores. Publicamente, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, classificou a escolha de Roberto Cláudio como “autoritária”, “machista” e “muito ruim”.

À Gazeta do Povo, o presidente estadual do PDT, deputado André Figueiredo, disse que o PT quer “impor sua vontade sobre os demais partidos”. “São aliados com as práticas coronelistas mais terríveis que ficam perseguindo e ameaçando quem não está do lado de Izolda e do ex-governador Camilo”, completou.

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Mas por que, afinal, o PDT escolheu Cláudio para disputar o governo se o nome não agradava o PT? A explicação, segundo especialistas, está relacionada à candidatura de Ciro Gomes à Presidência.

Palanque “puro” para Ciro

Cleyton Monte, professor da UFC, afirma que ataques feitos por Ciro ao PT acabaram repercutindo no cenário eleitoral do estado.

“Desde 2018, o Ciro partiu para cima do PT porque sabe que não tem como crescer [como candidato a presidente] tendo o PT a força que tem. Até pouco tempo atrás isso não incidia sobre a aliança estadual, mas há mais ou menos dois meses esses ataques passaram a se aproximar do partido no Ceará”, diz.

Ciro não lidera a preferência dos eleitores nem mesmo em seu reduto eleitoral. Segundo levantamento do Paraná Pesquisas, ele tem 14,7% das intenções de voto no Ceará – menos do que Bolsonaro (28,6%) e Lula (42,1%).

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“Isso é simbolicamente muito ruim. E de alguma forma motivou o Ciro a desejar que houvesse um palanque puro no Ceará, fiel e empenhado na campanha presidencial dele”, diz Monalisa Torres, professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

No Twitter, Ciro negou que haja uma tentativa de “nacionalizar” a eleição cearense. “São narrativas plantadas que não darão em nada”, escreveu.

Cid “bombeiro” está fora de cena

A posição de Ciro parece ter ido contra até mesmo o posicionamento de seus irmãos. Ao jornal Diário do Nordeste, Ivo Gomes (prefeito de Sobral) chegou a afirmar que ele e Cid Gomes (senador pelo Ceará) tinham preferência pela candidatura de Izolda.

De acordo com Torres, Cid tem sido uma ausência importante nas negociações, o que pode ajudar a explicar a implosão da aliança.

Isso porque, segundo a professora, o grupo que era liderado pelos irmãos Ferreira Gomes caracterizava-se por ser uma “superaliança”. “É um grupo que se forma a partir de uma supermaioria partidária. É muito heterogêneo, incluindo partidos que vão da direita à esquerda”, afirma.

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A aliança começou em 2006, quando Cid elegeu-se governador do estado pela primeira vez e Lula foi reeleito presidente. Era o atual senador quem atuava como interlocutor dos diferentes atores da aliança – uma espécie de “bombeiro” que apaziguava os conflitos.

“Os irmãos Ferreira Gomes ocupavam a cúpula desse grupo, e tinham papéis muito bem definidos. O Ciro se ocupava de questões nacionais, fazendo a ponte com o governo federal, enquanto o Cid ficava responsável por questões domésticas”, explica Torres.

“Agora, o Cid se afastou desse espaço de deliberação e construção de alianças. O Ciro assumiu, mas não tem o perfil de conciliador como o irmão”, completa.

Ex-governador petista ganha autonomia 

Além disso, a ascensão do petista Camilo Santana como uma figura importante no estado pode ter interferido no cenário.

Camilo lidera a disputa pelo Senado com folga: segundo o Paraná Pesquisas, ele tem 65,3% das intenções de voto, contra 3,3% do Pastor Paixão (PTB).

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"De alguma forma o Camilo ganhou mais autonomia recentemente, se percebendo como uma figura independente. Isso acabou criando conflitos dentro do próprio grupo", afirma a professora da Uece.

Metodologia das pesquisas citadas

  • Paraná Pesquisas - governador e senador

O Paraná Pesquisas entrevistou 1.540 eleitores do Ceará em 58 municípios no período que vai de 11 a 15 de julho. O levantamento, contratado pelo próprio instituto, tem margem de erro de 2,5 pontos percentuais e nível de confiança de 95%. Ele está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo CE-05080/2022.

  • Paraná Pesquisas - presidente - Ceará

O levantamento do Paraná Pesquisas entrevistou 1.540 pessoas em 58 municípios do estado do Ceará no período entre os dias 11 e 15 de julho. A margem de erro do levantamento é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa está registrada na Justiça Eleitoral com o número BR-03182/2022.

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