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Voto útil Ciro Gomes Simone Tebet
Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) tentam convencer os eleitores de que são a melhor opção de voto útil nesse primeiro turno.| Foto: Divulgação/campanhas

Dois dos principais candidatos da terceira via na eleição presidencial começaram a intensificar o discurso de que eles próprios são a melhor opção de “voto útil”. Trata-se de uma reação de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) a acenos da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos eleitores de olho em vencer a disputa já no dia 2 de outubro.

O voto útil é um fenômeno comum na reta final das eleições de primeiro turno. Ocorre quando eleitores indecisos ou que não querem "perder seu voto" decidem votar em um candidato melhor colocado nas pesquisas para garantir a realização de um segundo turno ou o fim da votação já no primeiro.

Pesquisas eleitorais mais recentes, como a última FSB/BTG, mostram que vencer no primeiro turno não é uma tarefa fácil. Lula tem 41% das intenções de voto, mas a distância dele para os outros candidatos vem diminuindo.

O presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta se reeleger, oscilou um ponto porcentual dentro da margem de erro, passando de 34% para 35%. Ciro e Tebet também "ganharam" um ponto, chegando a 9% e 7%, respectivamente.

Ainda assim, Lula tem chances reais de vencer já no dia 2 de outubro, segundo apurado pela última pesquisa Ipec. O candidato petista alcançou 51% dos votos válidos (quando se exclui votos brancos e nulos) nesse levantamento. Por isso mesmo, Lula passou a enxergar nos eleitores de adversários da terceira via a chance de conquistar novos votos.

Em reuniões internas, e mesmo publicamente, Lula vem falando desde o começo do mês que trabalha para vencer a eleição já no primeiro turno. "Tenho que acreditar que é possível nos próximos dias conquistar a porcentagem que falta, sem desprezo a ninguém”, escreveu em uma postagem no Twitter na última terça-feira (13).

O recado foi mais sentido especificamente por Ciro Gomes, antigo aliado que foi ministro e alvo de uma reaproximação mal sucedida durante o debate da Band no final do mês passado. Para a campanha petista, os 52% de eleitores do pedetista que dizem que ainda podem mudar de voto, segundo a pesquisa Ipec, abrem margem para intensificar a estratégia de consolidar a vitória no primeiro turno.

“O Lula deflagrou uma campanha completamente antidemocrática contra o nosso direito de participar. Vamos ficar firmes, nós não somos eles”, disse Ciro durante live, na terça (13), em meio a duras críticas ao ex-presidente.

Como já disseram analistas políticos à Gazeta do Povo, Ciro tem uma parte do eleitorado que é simpatizante de Lula, o que seria suficiente para alcançar o mínimo necessário para terminar a disputa no primeiro turno (50% dos votos válidos + um).

Além de Ciro, Simone Tebet também começou uma contraofensiva aos pedidos de Lula pelo voto útil, já que tem um potencial ainda maior de perder eleitores – 60%, segundo o Ipec.

“É preciso entender que essa é uma eleição de dois turnos. Agora é hora de o eleitor escolher aquele que, de acordo com sua consciência, será o melhor ou a melhor presidente do Brasil. E, no segundo turno, fazer uma opção entre os dois”, disse a candidata do MDB.

Felipe d’Avila (Novo) também já rechaçou a ideia do voto útil tanto para Lula como Bolsonaro para terminar a eleição no primeiro turno, enquanto que Soraya Thronicke (União Brasil) tem afirmado em entrevistas que é a opção fora da polarização.

Contra-ataque nas redes sociais contra o voto útil

A estratégia de contra-atacar os pedidos de Lula pelo voto útil tem ido além das entrevistas dadas pelos candidatos. Embora as campanhas não declarem explicitamente, as peças de propaganda eleitoral em postagens nas redes sociais já estão mais incisivas.

Em uma delas, Ciro afirma que a pesquisa FSB/BTG permitiu uma “discussão honesta e reveladora sobre voto útil” (veja aqui). “Será que você está preparado para essa conversa ou vai continuar negando que teremos 2º turno”, questionou emendando que “Ciro é o mais forte adversário que Lula pode ter (e quem mais teme, vide o ataque dos últimos dias)”.

Na sequência, uma série de vídeos criticando o voto útil foi postada com diversos temas e Ciro encerrando com a frase “para eles, voto útil é tornar o seu sonho inútil”. Ele próprio gravou outro depoimento elencando o que seriam mudanças de postura dos dois candidatos.

“A história e a minha experiência política mostram que as pessoas vão consolidando seus votos nos últimos dez dias [de campanha], quando prestam mais atenção para ver o que se está colocando”, disse Ana Paula Matos (PDT), vice de Ciro, à Gazeta do Povo.

De acordo com ela, a campanha que já vem percorrendo o Brasil será reforçada com mais encontros com a população para a apresentação de ideias e propostas do plano de governo. Também pretende intensificar a participação em entrevistas e debates para apresentar em detalhes o que Ciro e ela pretendem fazer se forem eleitos.

“Não temos visto um amadurecimento do debate, a preocupação das candidaturas de modo geral apresentarem a sua proposta de país. Porque, acabada a eleição, já se começa a transição e precisamos saber quais são as perguntas, que pontos do governo precisaremos ter acesso às informações para gerir o país a partir do dia 1º de janeiro”, completou.

É o mesmo que a chapa de Simone Tebet e Mara Gabrilli (PSDB) pretende fazer nesta reta final de campanha, intensificando as campanhas pelo país e nos debates e entrevistas. A vice ressalta que o avanço de Tebet nas pesquisas se dá pela própria estratégia adotada – principalmente na TV, que está tornando-a mais conhecida no país.

“O verdadeiro voto útil é na Simone e na Mara, é votar na nossa chapa. Vamos continuar fazendo uma campanha limpa, de alto nível, sem ataques, sem fake news. Vamos seguir nossa campanha com amor e coragem, essa é a nossa estratégia”, resumiu à reportagem.

Para Mara Gabrilli, não há o que mudar nas próximas pouco mais de duas semanas e meia até a eleição do primeiro turno.

A decisão vai ser nos últimos dias

Carlos Ramos, cientista político e doutor em ciência política pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), diz que a estratégia de Lula faz parte do jogo político e não é nenhuma novidade. A realidade eleitoral é algo que passa a ser levado em consideração pelo eleitor nos últimos dias de campanha.

“Chega num determinado momento que ele [eleitor] faz uma avaliação estratégica de abrir mão ou de desistir de votar para fazer uma escolha que é de resultado. E esse resultado pode ser de impedir um problema maior ou rever a própria posição, em que a realidade se impõe a ele”, explica.

O cientista político faz um paralelo com o que o país viveu em 2002, quando a disputa entre Lula e José Serra (PSDB) também parecia se encaminhar para o fim logo no primeiro turno com o voto útil. No entanto, os eleitores decidiram não abrir mão das escolhas e a decisão foi para o segundo, com vitória do petista com 61,27% dos votos.

É o que Jefferson Oliveira Goulart, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e docente da Unesp de Bauru, acredita que pode acontecer mais para o final da campanha deste ano.

Para ele, não é difícil a eleição terminar em primeiro turno. Mas, devidas às circunstâncias, o cenário todo ainda pode mudar e, até mesmo, qualquer um dos candidatos da terceira via chegar ao segundo turno com os primeiros mais bem colocados.

“A considerar a experiência de eleições anteriores, o que podemos ter entre esses candidatos que buscam ocupar um lugar alternativo é que, nos últimos dias de campanha, pode haver um realinhamento dos eleitores, eventualmente migrando para um lado ou para o outro”, analisa.

Goulart acredita que isso pode acontecer, entre outros motivos, por conta do pouco tempo oficial de campanha – menos de dois meses –, que impediu uma aproximação maior dos candidatos com os eleitores. Para ele, Bolsonaro e Lula têm a vantagem de já ter a máquina a favor e a experiência em gestões passadas, respectivamente, o que consolida um deles no topo da preferência do eleitorado.

Metodologias das pesquisas citadas

FSB/BTG
O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 9 e 11 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-06321/2022.

Ipec
O Ipec entrevistou 2.512 eleitores entre os dias 9 e 11 de setembro de 2022 em 158 municípios brasileiros. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e está registrada no TSE com o protocolo BR-01390/2022.

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