O nadador Thiago Pereira segue o modelo dos nadadores de alto nível: alto, ombros largos e envergadura maior do que a altura| Foto: Francois Xavier Marit/ AFP
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Um atleta deveria escolher em que família nascer, se isso fosse possível. Afinal, pai e mãe transmitem, pela recombinação do DNA de ambos, informações genéticas que podem ser essenciais para a formação de um campeão. Não chegam a ser fatores determinantes, mas se sabe que a excelência da atividade física tem grande participação dos genes. Saber como funcionam pode aumentar os índices de pódios.

Já foram listados mais de 200 genes ligados ao desempenho físico. Alguns podem contribuir para uma melhora significativa de força, velocidade ou resistência. Outros, são capazes de inibir esses mesmos fatores. E ainda há os genes que podem indicar propensão a problemas de saúde e lesões.

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Encontrar o atleta com o DNA perfeito para a prática esportiva é quase impossível. O geneticista da Manchester Metropolitan University (EUA), Alun Willians,­­ estudou 23 marcadores genéticos mais fortemente ligados ao talento em esportes de longa duração e fez uma projeção matemática da incidência de atletas com as variantes corretas de cada um desses genes: a estimativa é de menos de um indivíduo entre um quadrilhão de pessoas (o equivalente ao um seguido de 15 zeros).

Como para os atletas olímpicos, cada centésimo de segundo ou cada centímetro contam, qualquer vantagem que se possa tirar das moléculas que formam o DNA é essencial. Nesse hall de milhões de possibilidades, um dos genes mais "populares" entre os esportistas atende pelo nome de ACTN3, ou o "gene da velocidade". Ele possui duas variantes: uma produz a proteína alfa-actinina-3, encontrada nas fibras de contração rápida, que favorece os esportes de explosão. A outra variante evita que essa proteína seja produzida.

Em um estudo recente com os atletas do Palmeiras, detectou-se que 17 % têm a variante que produz a alfa-actinina-3. Um percentual similar ao dos velocistas vencedores no atletismo.

Só ter a versão ativa do ACTN3 não define um recordista dos 100 m rasos. O mesmo indivíduo pode ter, por exemplo, outro gene que iniba outra função essencial aos vencedores, como uma propensão a lesões articulares, por exemplo. Pesquisas indicam, inclusive, que os pais transmitem aos filhos a capacidade de responder bem (ou não) ao treinamento físico.

No Brasil, um dos principais estudos é o projeto Atletas do Futuro, coordenado pelo biólogo molecular João Bosco Pesquero, que vai criar um banco de dados genéticos e metabólicos de grandes campeões para compará-los com as crianças das próximas gerações. Com essa enciclopédia, os cientistas poderão indicar para quais modalidades cada pessoa tem mais chances de sucesso, conforme seu DNA. "Nosso objetivo é sugerir os esportes em que cada indivíduo terá mais chances de ir bem", diz o cientista.

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Se por um lado há o risco de seleção de indivíduos por seu mapa genético, (em detrimento de outras qualidades de um atleta campeão), do outro, a intenção é aumentar a base de praticantes. "Uma criança que faz uma modalidade em que percebe que vai bem tem mais chances de seguir praticando", fala Pesquero.