Rubens Barrichello durante o treino molhado que o garantiu na pole position do GP do Brasil, em Interlagos. Piloto da Brawn, que cresceu na pista, acha que “dá para tirar uma casquinha a mais” correndo no circuito paulistano| Foto: Sérgio Moraes/Reuters

São Paulo - Durante a semana, Rubens Barri­­chello disse confiar no "algo especial" de Interlagos para conseguir uma vitória hoje (14 h) e, quem sabe, continuar vivo na briga pelo título mundial de Fórmula 1. Pudera. A relação dele com o autódromo, e o bairro, é mais do que especial. Era naquelas imediações que ficava a oficina mecânica do ex-piloto Ingo Hoffmann, vizinha à loja de materiais de construção do pai. Quando criança, não saía de lá. Foi no kartódromo dali que começou. E é na vizinhança que até hoje mora a avó e o tio mantém uma construtora, cuja laje é ponto de observação privilegiado do circuito.

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"Adoro essa pista", foi o comentário de Rubinho na rede de microblogs twitter na quinta-feira, dia no qual chegou a Interlagos para começar os preparativos para mais um GP do Brasil. Outra prova de carinho pelo autódromo: anexo à mensagem, colocou uma foto tirada por ele próprio enquanto caminhava pelo asfalto.

É verdade que se acostumou a ver dois ídolos no traçado antigo. Ingo – que chegou a competir na F-1 nos anos 70 – havia acabado de voltar para o Brasil em 1979 quando deixava o menino Rubens, maravilhado, olhar o carro de Stock Car, categoria que estava se iniciando por aqui.

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"Ele gostava de acompanhar tudo lá. Quando ganhei um capacete laranja, dei para ele poder usar no kart", lembra o Alemão. No ano passado, quando se aposentou da Stock, o piloto recebeu uma homenagem de Barrichello, que correu em Interlagos com um capacete da mesma cor do velho presente.

Irmão da mãe do piloto, Idely, o tio Dárcio dos Santos, ex-piloto da Fórmula Super V, conta que Rubi­­nho via suas corridas do quintal da casa da avó, dona Izaura. "É muito bom ver aquele garoto passando por esse momento tão especial. Foram muitas dificuldades, desde a época do kart", lembra o tio e primeiro professor, hoje dono da construtora grudada no autódromo e da PropCar, equipe de Fór­­mula 3 Sul-Americana.

O próprio Rubinho, em outras categorias, começou no circuito antigo de Interlagos, bem mais longo e perigoso do que o atual – que, depois de uma década, voltou a receber a F-1. "Foi ali que aprendi mesmo. Mas também tenho anos de experiência nesse", diz, às portas de seu 17.º GP do Brasil.

Porém, seu retrospecto em ca­­sa não é dos melhores na principal categoria do automobilismo mundial. Ele nunca conseguiu ganhar em São Paulo. Só completou cinco das 16 corridas disputadas e seu único pódio veio com o terceiro lugar de 2004, pela escuderia italiana.

Nada que o desanime. "Tive al­­gumas decepções. Quando estava com um carro competitivo, algumas vezes quebrou, outras foi falha humana mesmo. Mas agora vi­­­vo um momento especial. So­­nhava em voltar para cá com a tor­­cida de todos", discursa o piloto, lembrando do apoio recebido no tempo das vacas magras. "Mesmo nos anos anteriores, quando não tinha chances , o público gritava o meu nome."

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Com toda a torcida e conhecendo a pista como nenhum outro, ele acha que "dá para tirar uma casquinha a mais". Quem sabe a casquinha que o mantenha vivo no campeonato. Ontem, conquistando a pole em treino constantemente interrompido pela chuva forte, já mostrou que pode incomodar.

Ao vivo

GP Brasil, às 14 horas, na RPC TV.

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Trajetória

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O retrospecto de Rubinho no GP Brasil não é nada empolgante. Piloto não terminou a prova em 11 ocasiões.

1993 – Correndo com a Jordan – Larga em 14º, mas abandona 13 voltas depois, com a caixa de câmbio quebrada.

1994 – Na última corrida de Ayrton Senna em Interlagos – O destaque é Rubinho. Enquanto o tricampeão abandona, ele leva a lenta Jordan do 14º lugar da largada ao quarto lugar na bandeirada. "No final, eu nem olhava mais minha posição. Só perguntei em que lugar tinha ficado após cruzar a linha de chegada", comentou.

1995 – No primeiro GP Brasil após a morte de Senna – Barrichello usa um capacete com as cores do usado pelo tricampeão. Ele sai em 16º com a Jordan, mas novamente abandona por problemas no câmbio. É o início da sequência de novo abandonos em casa.

1996 – No seu último ano de Jordan – Barrichello levanta a torcida ao conseguir o segundo lugar no grid. Debaixo de chuva, roda ao tentar ultrapassar Michael Schumacher e abandona.

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1997 – Na Stewart – Larga em 11.º, mas deixa a prova com problemas na suspensão. (foto 1)

1998 – Problema - Barrichello larga em 11º e novamente para com problemas no câmbio.

1999 – Volta a andar bem nos treinos – Rubinho coloca a Stewart em terceiro no grid. Com uma bandeira do Brasil no bolso, lidera da 4ª até a 27ª volta, mas abandona com o motor quebrado. Na saída do cockpit, acena a bandeira para o público.

2000 – Pela primeira vez correndo de Ferrari em Interlagos – Larga em quarto, lidera por duas voltas, mas abandona com problemas no sistema hidráulico do carro.

2001 – Seu pior desempenho – O carro morre antes de chegar ao grid e Barri­chello sai correndo para os boxes pegar o reserva. Chega a tempo de largar em 6º, mas bate em Ralf Schumacher na terceira volta e abandona. (foto 2)

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2002 – Larga em oitavo – Lidera por três voltas, mas para com problemas hidráulicos na Ferrari.

2003 – Barrichello sai na pole – Com a chuva, perde posições, recupera a liderança, mas abandona na 47ª volta, sem gasolina.

2004 – Pole de novo – Mas só termina em terceiro, no seu primeiro pódio em Interlagos. (foto 3)

2005 – Na última vez como piloto da Ferrari, parte em nono lugar e chega em sexto.

2006 – Agora pela Honda – Larga em quinto e chega em sétimo. Seu companheiro, Jenson Button, sai em 14º, mas chega em terceiro. (foto 4)

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2007 – A maldição – Rubinho sai em 11º, mas não completa a corrida, com problemas no motor da sua Honda.

2008 – Quase adeus – Naquela que parecia ser sua última corrida na Fórmula 1, Barrichello chega a Interlagos sob a campanha "Bate nele, Rubinho", para tirar Lewis Hamilton na prova e ajudar Felipe Massa a ser campeão. Larga em 15º e chega em 15º.