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Impressionou a emoção das pessoas nas homenagens ao piloto Ayrton Senna no vigésimo ano de sua morte. Impressionou porque hoje em dia a idolatria dura pouco, tanto que artistas, cantores ou esportistas de sucesso desaparecem logo que surge um talento novo. Alguns atribuem o fenômeno à velocidade das notícias através das modernas ferramentas de comunicação global, outros transferem para o excesso de informações a responsabilidade pelo esquecimento rápido de personagens que encantaram durante algum tempo ou mesmo algumas gerações.

Os jovens têm uma certa tendência a acreditar que o mundo e a história começam quando eles nascem. E não olham para trás. Mas esse comportamento não se aplica a alguns tipos que se incrustaram para sempre no imaginário popular. É o caso de Pelé, Garrincha, Romário, Ronaldo e mais alguns para o futebol brasileiro que se consagraram graças às suas destacadas participações nas conquistas dos títulos mundiais. Zico é uma exceção do craque que se mantém na memória do torcedor mesmo tendo fracassado nas três tentativas de tornar-se campeão mundial pela seleção.

Nenhum deles, entretanto, chega perto da idolatria que os brasileiros dedicam a Ayrton Senna, transformado em mito antes mesmo do fatídico acidente na curva Tamburello, em Ímola, na Itália. Uma curva está sempre à espreita dos pilotos, que sabem dos riscos com a certeza de que tudo pode ser feito, mas que nem tudo pode ser completado. Um ideal perfeito sem resposta, tudo pode parar no meio do caminho, transitórios que somos.

Senna personificou o herói popular das pistas, não só pelas conquistas e pelos desafios, mas pela obstinação até o último instante de vida. A tragédia de 20 anos atrás chocou o mundo do automobilismo e deixou uma nação enlutada para sempre. Em meio aos destroços do carro e com o capacete na cabeça inerte, o tempo parou para o jovem pertinaz. O destino roubou a alegria de todos, roubou a vida de quem sempre amou a velocidade, de quem engrandeceu o esporte sem as sujeiras que o circundam, sem as miudezas que o empobrecem, mas com a saudável alegria que o eleva, através dos gênios, à categoria de arte.

Em seu livro Faster, Jackie Stewart diz que, em uma corrida, nenhuma curva é igual a outra, nenhuma volta é igual a outra. Os pilotos correm contra o imprevisto e, apesar deles, sem poder levá-los em conta, porque, do contrário, nenhum deles conseguiria dar a largada. Eles correm contra a morte. Eles correm contra o medo.

Nelson Piquet sempre disse o que tantos outros corredores de igual e rara competência afirmam: "O nosso limite é a morte, e eu não gosto de andar muito perto dela". Se pudéssemos comparar a linguagem da velocidade com a da escrita, poderia dizer que Ayrton Senna escreveu algumas obras-primas em sua esplendida trajetória pela Fórmula1.

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