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No primeiro semestre deste ano, por razões de cunho familiar, frequentei diariamente instituições psiquiátricas, no Rio de Janeiro. Uma delas, o Philippe Pinell, está próxima da sede do Botafogo. Naquele hospital, trabalhou durante anos um dos atletas mais importantes do futebol brasileiro: Afonsinho.

Uma enfermeira do Pinell contou-me várias histórias sobre a passagem do ex-jogador, quando médico da instituição. O uso que fez do esporte no tratamento psiquiátrico, o trabalho de socialização para doentes mentais e, sobretudo, a generosidade marcaram sua passagem até a recente aposentadoria. Afonsinho jogou no mesmo Botafogo de Nilton Santos, hoje internado em outra clínica e com Alzheimer, e de Garrincha, morto em estado de abandono.

O princípio do movimento Bom Senso FC é interessante. Bom senso é a capacidade de achar um meio termo. Pode ser um início para mudanças, não um fim. Conta com pessoas inteligentes como o publicitário Washington Olivetto, o advogado Chiminazzo, e jogadores do quilate de Rogério Ceni, Dida e Alex, entre outros. As reivindicações imediatas são até amenas – ajuste de calendário, férias de 30 dias, pré-temporada decente, representatividade junto à CBF e exigência de salários dos clubes em dia. É positivo. Na rodada do meio de semana houve um manifesto pacífico no começo dos jogos.

Os movimentos por justiça quando surgem pelas pistas do esporte são mais rápidos e repercutem com intensidade maior. Foi assim durante a Olimpíada de 1968, no México. Os punhos cerrados dos atletas no pódio – dois negros norte-americanos e um branco australiano – até hoje simbolizam o movimento mundial contra o racismo.

Marín, que foi vice de Ricardo Teixeira e filhote da ala mais radical da ditadura militar, continua o velho político do riso falso e do tapinha nas costas na CBF. Está perdendo o gás. Se o grupo lutar pra valer, é simples aplicar um ippon no cartola.

O movimento, no entanto, precisa estender seu avanço para o lado social do esporte. Necessita, por exemplo, fazer a autópsia dos vice-campeões de 1950. Enterrados vivos, Barbosa, Bigode, Danilo e os demais, como bem conta o jornalista Geneton Moraes Neto, no brilhante livro/documentário "Dossiê 50", merecem retratações públicas e intensas. Há também jogadores hoje com salários miseráveis. Alguns foram abortados antes de se tornarem profissionais, vítimas de cartolas amadores ou vingativos.

O sinal de alerta está piscando. Politizado, o barbudo doutor Afonsinho, primeiro jogador que ganhou na Justiça o passe livre (recusou adaptar o visual e foi impedido de atuar pela diretoria do clube), deve ser ouvido. Ele e Tostão são Phds para o tema.

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