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Meu pai faleceu dias antes de completar o meu primeiro ano de vida. O golpe talvez tenha sido mais duro para meus irmãos que, de certa forma, embora também pequenos, tinham a consciência mais elaborada sobre a morte.

Cresci assim, convivendo claramente com esse processo que é único e irreversível. Por isso sou muito grato à minha mãe que, enquanto viva, sempre nos levava ao cemitério do Água Verde. Nos dias de Finados lá íamos reverenciar nosso pai e muitos daqueles que ali deixaram seus restos mortais. Com respeito e aceitação, entendi nesses anos todos que devemos exercitar nossa louvação a todos aqueles que transcenderam, sejam consanguíneos, próximos ou não.

Não tenho ainda um conceito claro sobre a morte. Acho apenas que me aproximo de uma leve percepção sobre ela. Sei, por outro lado, que distancio cada vez mais as teorias da materialidade pura (a morte é o fim de tudo) e do outro extremo, que coloca o céu e o inferno como nosso destino, determinado pela conduta enquanto vivos. Prefiro ficar com a hipótese de que tudo está atrelado à consciência, e que esta não se decompõe com a morte física. Jogo minhas fichas no imponderável.

Vejo sem temor de pieguice, que dias consagrados como o de hoje – embora muitos e com certa dose de razão atribuam como mero calendário religioso – sejam um bom momento de parar e lembrar o outro. Não necessariamente hoje, mas... Por que não hoje? Estendo (hoje) esse sentimento para o futebol, esporte que aprendi a gostar de forma espontânea, divertida e profissional. Como disse Gilberto Gil, vou fazer a louvação para quem deve ser louvado, louvando quem bem merece e deixando o que é ruim de lado.

Louvo Jofre Cabral e Silva, Hipólito Arzúa, Waldomiro Perini, Aryon Cornelsen, Clemente Comandulli, Munir Calluf, Lauro Rêgo Barros, Soninha Nasser, Celso Toniolo e Silvio de Tarso, representando tantos companheiros que partiram deixando fragmentos de inteligência e fraternidade. Com o sopro deles e orientação de João Saldanha, posso agora render meu tributo e escalar a seleção formada por diferentes gerações. Apenas genialidades que vi, ao vivo e a cores: Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Orlando e Oreco; Didi e Zizinho; Garrincha, Almir, Sócrates e Canhoteiro. Chefiados por Paulo Machado de Carvalho.

Com todo respeito às pautas de momento – Séries A e B do Brasileirão e a Copa do Brasil –, não há nada mais gratificante do que lembrar aqueles que morreram em estado de graça e não foram canonizados. A eles e a tantos outros aqui não citados, minha profunda gratidão pelo brilho que deixaram. "As almas de todos os homens são imortais. Mas as almas dos homens justos são imortais e divinas (filósofo Sócrates)".

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