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Antes de passar para a tela do computador, escrevo minhas colunas mentalmente. Viajo pelas ideias, construo frases, elaboro parágrafos, me inquieto com os lugares-comuns, me envaideço se percebo que tenho algo novo. Somente quanto está pronta na cabeça é que a ideia vira texto. Economizo tempo, instigo o raciocínio.

A coluna de hoje vinha sendo es­­crita mentalmente desde segunda-feira. Bastava a cabeça se desligar do trabalho para o Atletiba do­­minar os pensamentos. Impres­sio­­nante como tudo o que aconteceu com os dois clubes neste início do ano parece ter sido premeditado pa­­ra culminar no jogo deste domingo.

Para o Coritiba, a invencibilidade, a série inesgotável de vitórias, a iminência do bicampeonato... Tudo soa como o prefácio da grandiosa conquista na casa do rival – a terceira em oito anos. Para o Atlético, o ano conturbado, o je­­jum de vitórias em Atletibas, a contratação de um atleticano de nascença como técnico, a grande exibição no ato anterior ao clássico... Tudo soa como prefácio da grandiosa redenção perante o rival.

Antes de passar isso para a tela, uma zapeada pelo Twitter e outra pelos sites fizeram um desânimo tremendo bloquear qualquer ideia positiva. É inaceitável que venda de ingresso tumultuada e briga entre organizadas ainda pontuem uma semana de clássico.

À imprensa, cabe um mea-culpa. Exaltamos a paixão dos torcedores que acampam na porta do estádio para ter a chance de comprar ingresso sem perceber que estamos avalizando um sistema medieval de comercialização, que expõe o torcedor a riscos diversos. Seja o de ser assaltado ou agredido no meio da noite, seja o de ser confinado em uma sala apertada ou levar bala de borracha da polícia.

Há meios eletrônicos de venda de ingresso – que também falham – ou de garantir previamente a pre­­ferência a sócios (inclusive por tempo de associação). Qualquer me­­dida é mais barata do que obrigar torcedores a passar horas em uma fila.

A briga de quarta, na 7 de setembro, é outro roteiro antigo, reprisado mais vezes que os filmes de "turminhas se metendo em altas aventuras" da Sessão da Tarde. No dia 28/6/2009, a matéria de capa da Gazeta do Povo, assinada por Ana Luzia Mikos, Carlos Eduardo Vicelli e Marcos Xavier Vicente, contava como dia de futebol havia se transformado em dia de briga em Curitiba. O trio elaborou um mapa apontando os pontos da cidade em que era mais comum haver briga. A polícia confirmou a existência corriqueira de problemas em cada local – 7 de setembro entre eles. Há quase dois anos. E nada é feito.

Organizados do Atlético foram para a briga com organizados do Bahia por causa de uma "irmandade" entre a facção baiana e a organizada do Paraná. Outro fato de amplo conhecimento, da polícia inclusive, e nada é feito. Para azar do cidadão comum, que fica sujeito a levar uma pedrada à toa no caminho de volta para casa. E para o azar do futebol, que é assassinado lenta e covardemente por incapazes, covardes e incompetentes.

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