A fisioterapeuta Maria Cristina Grilo Costa trabalha em uma clínica vizinha à Arena, que terá de mudar de endereço para atender ao projeto de conclusão do estádio| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo
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A casa onde Adair Aires nasceu, deu os primeiros passos, teve dois filhos e mimou cinco netos nos últimos 75 anos desaparece na planta do Projeto Curitiba 2014, elaborado pelo Ippuc. Ao menos no papel, o espaço dará lugar ao futuro centro de imprensa da Arena. Dona de uma residência na Rua Buenos Aires – que faz fundos com a área do antigo colégio e atual estacionamento do estádio –, ela é a vizinha mais antiga do Atlético naquela quadra. E garante que não arreda o pé da construção de mais de 80 anos batizada como Vila Odaracir, nome da sua irmã.

Poucos metros separam opiniões antagônicas sobre o Mundial no bairro Água Verde, que será intensamente afetado pelo evento caso se confirme Curitiba como subsede da Copa. Vizinho de frente de dona Adair, o comerciante José Antônio Costa, 34 anos, defende que a casa onde mora há 2 estará imune às possíveis desapropriações na região. Ele releva os transtornos que a obra causará em prol da valorização do bairro.

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"No fim, vai ficar muito melhor. Tomara que a Copa traga também mais segurança para cá", torce.

As incertezas sobre a extensão das obras em torno do estádio aumentam a insegurança e abrem espaço à especulação. "Ninguém veio falar conosco oficialmente, só alguns especuladores. Se tivermos que sair será um transtorno terrível", afirma a fisioterapeuta Sandra Belasco.

Ela prevê uma dura negociação caso seja necessário deixar seu negócio, que funciona há 11 anos na Buenos Aires. "Teriam de conversar aqui conosco, onde estão duas pessoas jurídicas (clínicas de fisioterapia e de ortopedia) e ainda com o proprietário do imóvel, que não quer vender. Vão ter de gastar muito dinheiro", avisa. "Temos uma clientela definida, estamos em uma bairro muito bom e temos estacionamento, que é um diferencial no nosso serviço", acrescenta a também fisioterapeuta Maria Cristina Grilo Costa.

Indenização

Dona Adair conta que há dois anos foi procurada por um representante do Atlético interessado em comprar seu imóvel. A conversa emperrou nos valores oferecidos, que seriam cinco vezes menores do que o preço considerado justo por ela.

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Moradora da Rua Madre Maria dos Anjos, a bancária aposentada Aparecida Ikeda, 53 anos, disse que os valores comentados extraoficialmente para uma eventual indenização pela desapropriação do seu apartamento também estariam abaixo do mercado.

Dono de um bar na Brasílio Itiberê, o comerciante Antônio Carlos, 65 anos, pretende aproveitar o clima pré-Mundial para vender seu estabelecimento.

"Essa história da Copa do Mundo vai valorizar a região e é um bom momento para negociar. Acho até que conseguiria ganhar dinheiro durante os jogos, mas não tenho mais idade para tocar o negócio", pondera.