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Desfile da Gucci na Semana de Moda de Milão | REUTERS/Alessandro Garofalo
Desfile da Gucci na Semana de Moda de Milão| Foto: REUTERS/Alessandro Garofalo

Entenda o caso

Organizada e diretoria: crise e aproximação em três anos.

O estopim

A briga entre a Império e a diretoria coxa começou oficialmente em 6 de dezembro de 2009, quando integrantes da facção invadiram o gramado do Couto Pereira após o empate por 1 a 1 com o Fluminense. A batalha campal culminou com a perda de dez mandos de jogo e prejuízo financeiro. Dois dias depois da confusão, o presidente Jair Cirino decretou o rompimento das relações do clube com a organizada, tendo como argumento, além do ocorrido, que ele e sua família vinham sofrendo ameaças.

O ápice

O distanciamento se intensificou na gestão seguinte, com o então vice-presidente Vilson Ribeiro de Andrade à frente do clube. Em 4 de maio de 2010, a Império foi desalojada do espaço que ocupava no Couto. A retomada do local teve de ser conquistada na Justiça e, mesmo assim, parte dos membros da facção dificultou a entrega das chaves do imóvel. Vilson também destacava a concorrência ilegal feita pela Império com a venda de produtos sem licenciamento. "É uma concorrente desleal. Vende produtos sem o clube lucrar com isso", falou em dezembro de 2010.

A reaproximação

Depois de muito criticar as torcidas organizadas e reforçar que apenas o torcedor comum seria bem-vindo no Alto da Glória, Vilson Ribeiro começou a dar sinais de reaproximação com a Império. Em entrevista dada em março, afirmou que "a torcida organizada é importante, mas tem de entender o papel dela" e "tenho certeza que podemos ter uma convivência melhor e pacífica". No dia 1º de julho, contra o Sport, pelo Brasileiro, a torcida expôs uma faixa elogiando Vilson: "Coritiba: um time e um presidente com alma guerreira", dizia.

Metade dos brigões aguarda julgamento

Quase três anos após a invasão do gramado do Couto Pereira no rebaixamento de 2009, sete pessoas seguem respondendo na Justiça por tentativa de homicídio. A pena para eles pode chegar a 12 anos e meio de prisão.

Após testemunhos, acusações, defesas e alegações finais, o processo está esperando a determinação do juiz se o julgamento será decidido por um júri popular. A tendência é que este passo ocorra até novembro.

A denúncia do Ministério Público envolvia 14 pessoas. As outras sete já tiveram as suas sentenças definidas em abril de 2011. Todas elas foram proibidas de entrar no Couto Pereira por dois anos a partir desta data. Mesmo assim, há pelo menos uma testemunha que garante já ter visto algumas delas no Couto Pereira. Co­­mo tiveram as suas carteiras de sócio canceladas, podem ter usado as de outras pessoas.

Além disso, cinco destes torcedores condenados foram obrigados a pagar uma multa mensal de R$150 por dois anos ao Coritiba por causa dos danos materiais causados no jogo com o Fluminense. Além disso, quatro dos sete precisam prestar serviços à comunidade.

O próximo jogo do Coxa em casa será no dia 30 de setembro, contra o São Paulo. Antes disso o time alviverde enfrenta o Sport no do­­min­go, às 18h30, na Ilha do Retiro. A equipe está em 15.º lugar no Brasileiro, quatro pontos acima da zona do rebaixamento.

A liberação das camisas da Império Alviverde no Couto Pereira, contra o Santos, domingo passado, sacramentou a reconciliação entre a diretoria do Coritiba e a maior uniformizada do clube.

Mas nos últimos três meses, a cúpula coxa-branca já desenhava a aproximação com a facção apontada como principal responsável pelos incidentes ocorridos no dia 6 de dezembro de 2009, no pior caso de violência registrado no futebol brasileiro – segundo julgamento do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Vilson Ribeiro de Andrade, presidente do Coritiba, encabeça o aperto de mãos entre as partes. Foi justamente o ocorrido no dia 6/12/2009 que o fez assumir o clube. À época chegou a dizer que nem sequer achou o seu carro após presenciar a selvageria e foi embora chorando e a pé.

"Eu tenho um sonho de ter uma relação de harmonia com a torcida. O clube precisa dela na arquibancada e tudo o que foi combinado está sendo obedecido. O comportamento deles tem sido exemplar, com críticas e protestos civilizados. Não vamos tolerar violência e a diretoria atual da organizada tem sido aberta e compreensível", conta o mandatário coritibano.

Do lado da torcida, quem conduziu a aproximação foi o designer Reimackler Alan Graboski. À frente da Império nos últimos três meses, ele foi apontado na ocasião como um dos principais participantes da invasão de campo.

Reimackler teve a sua pri­­são em casa filmada e divulgada na Rede Globo pela Secretaria de Segurança Pública. Responde, devido à invasão agressiva ao gramado, por tentativa de homicídio.

Reimackler já era conhecido da polícia. Em 1999, foi preso por uma pedrada em um ônibus – delito que ele nega ter cometido –, mas o processo foi suspenso.

Já em maio de 2009, foi condenado por porte de arma a pagar dois salários mínimos e prestar serviços à comunidade. Pena não consumada ainda, pois a Justiça não especificou quem receberá esse benefício.

Passou seis meses em prisão preventiva no Centro de Triagem de Piraquara por causa do tumulto no Alto da Glória. Lá, o líder da torcida conta ter dividido a cela com 12 pessoas e que se alimentava no mesmo ambiente onde fazia as necessidades fisiológicas.

"Ele pagou o pato por muita gente. Foi o bode expiatório. Para mim, pareceu uma pessoa ponderada, preocupada com a eliminação da violência", defende Andrade.

Quando saiu, garante o dirigente da uniformizada, ficou um ano e meio afastado do futebol. Porém, resolveu voltar para a Império e "usar o seu exemplo para que os mais jovens não o sigam".

"Eu conto tudo o que eu passei lá para que os outros não passem por isso. Foi muita humilhação. A ideia é reciclar e transformar uma coisa ruim em boa", conta Reimackler, emocionando-se ao lembrar das noites na prisão em que ficava ouvindo um programa diário destinado a penitenciários esperando um recado da esposa – que nunca falhava.

Segundo o líder da Império, o grupo disponibiliza para a Polícia Militar a lista dos 600 sócios, com foto e endereço. Pretende fazer uma parceria para que pague royalteis ao clube pela venda do seu material. Andrade ainda reforçou que o clube aboliu a doação de ingressos e seção do local para a sede da facção.

"Eu errei, paguei, pago e vou continuar pagando pelo que eu fiz", admitiu o torcedor, em um discurso que convenceu o presidente do Alviverde.

InteratividadeVocê aprova a reconciliação da diretoria do Coritiba com a torcida organizada Império. Por quê?

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