São Paulo (AE) – A primeira coisa que Edílson Pereira de Carvalho pensou em fazer para ganhar dinheiro com o futebol foi ser jogador. Mas esbarrou em um problema: não tinha muita intimidade com a bola. Mesmo assim, o jovem lateral-esquerdo tentou a sorte no São José, time da cidade vizinha a Jacareí, onde nasceu 43 anos atrás. Teve o sonho barrado pela falta de talento, mas descobriu uma maneira de ficar dentro de campo. Foi assim que ele virou árbitro.

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Árbitro amador, que apitava na várzea. Porém, logo percebeu que poderia faturar uma graninha com o apito e passou a soprá-lo em jogos de campeonatos de empresas. Daí ao próximo passo, fazer o curso de árbitro da Federação Paulista de Futebol foi um pulo.

Em 1994, três anos depois de formado, Edílson passou a apitar jogos no Campeonato Paulista. Desde o início, mostrava-se um árbitro de personalidade forte, enérgico... e arrogante.

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Edílson foi em frente. Chegou rapidamente ao quadro nacional e em 1999, à Fifa. Era respeitado. A ponto de acabar perdoado mesmo quando denunciado por ter apresentado diploma falso na escola de arbitragem.

Após cerca de 10 meses de afastamento por causa do diploma falso, Edílson voltou a fazer uma das coisas que mais gostava: apitar partidas de futebol. Outro de seus prazeres, segundo pessoas que o conhecem em Jacareí, era jogar nos bingos. Prazer que virou vício.

O jogo de bingo o endividou e Edílson apelou para outro tipo de jogo, o de futebol, no qual às vezes podia influir, para arrumar um dinheirinho extra, além dos cerca de R$ 2,5 mil que ganhava por partida que apitava. Mas ao ser preso garantiu que continua muito endividado.

Entenda o caso

O esquema – Os árbitros envolvidos no esquema informavam a Nagib Fayad os jogos que eles apitariam em competições nacionais e internacionais. O empresário entrava em contato com os demais integrantes da quadrilha para saber se havia interesse em apostar naquelas partidas. Se a resposta fosse positiva, o grupo investia altos valores nos sites clandestinos Aebet e Futbet e os árbitros se encarregavam de arrumar faltas, pênaltis e cartões duvidosos para fazer com o resultado dentro de campo batesse com o das apostas virtuais.

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Valores – As apostas da máfia do apito giraria em torno de R$ 150 mil e R$ 200 mil. Deste valor, cerca de 10% era repassado aos árbitros do esquema. Porém Edílson declarou à PF que não chegou a receber todos os valores combinados.

Envolvidos – A Polícia Federal tem certeza do envolvimento de três pessoas: o empresário Nagib Fayad e os árbitros Edílson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon. Os dois primeiros estão presos, com base em conversas telefônicas gravadas pela polícia. Já Danelon deve se apresentar para prestar depoimento até o fim da semana. Uma outro suposto aliciador, citado apenas como Wanderley, foi mencionado por Edílson em seu depoimento como participante do esquema.

Sob suspeita – Edílson citou outro árbitro, Romildo Corrêa, como um possível participante do esquema. Corrêa nega, mas também está sendo investigado.

Confissão – Edílson admitiu ter negociado sete partidas: quatro do Brasileiro (Juventude 1 x 4 Figueirense; Vasco 2 x 1 Juventude; São Paulo 3 x 2 Corinthians; e Fluminense 3 x 0 Brasiliense), dois do Paulista (América 4 x 1 Palmeiras; e Guarani 0 x 2 Corinthians) e um da Libertadores (Banfield 3 x 2 Alianza Lima).

Anulação – Apesar de ainda não haver uma posição oficial, auditores do STJD dizem, informalmente, que o jogo entre Vasco x Figueirense será anulado.

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