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Migração intensa, pouca tradição regional e baixo desempenho técnico das nossas equipes. Os motivos justificam um dos dados mais expressivos da pesquisa sobre a preferência dos torcedores paranaenses: a influência forasteira. Integrante do departamento de História da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do grupo de estudos Futebol e Sociedade, o professor Luiz Carlos Ribeiro analisa esse e outros resultados elucidados pelo levantamento feito pela Paraná Pesquisas.

Como explicar esse apelo das equipes de outros estados no Paraná?

São alguns fatores principais. Um deles é de longa duração e trata da formação populacional e demográfica do Paraná. Temos um histórico recente de muita migração. Há a colonização paulista no Norte, grande presença gaúcha no Sudoeste, por exemplo. Até mesmo Curitiba mudou nos últimos anos. Essas pessoas vêm para cá e trazem a sua cultura esportiva, seu vínculo com os clubes. E isso não muda. Outro fator é o desempenho esportivo desses grandes clubes, que superam em conquistas os times locais. Vale ainda citar a grande inserção dessas equipes na mídia, que é formadora de opinião.

No levantamento, 14 clubes foram citados na capital. Qual o motivo de tanta influência?

O Paraná não tem tradição regional. O regionalismo se manifesta de várias formas. O que é regional aqui? Força-se na questão da gastronomia valorizando o barreado como prato típico. Uma tentativa que nem se compara com o regionalismo gastronômico de outras regiões, por exemplo. Do ponto de vista esportivo a coisa se repete. O Rio Grande do Sul e o próprio Nordeste mostram muito mais identificação com seus times, sua cultura. São regiões mais compactas, endógenas em relação às suas preferências.

Qual seria o passaporte para os clubes curitibanos ultrapassarem as fronteiras metropolitanas, único reduto de liderança estadual?

O diagnóstico dessa limitação os clubes já têm. Houve uma tentativa, inclusive. O Coritiba mandou alguns jogos em Maringá em 2005. O Paraná Clube também realizou partidas no interior. Mas, no caso dos paranistas, a intenção não foi valorizar e expandir a própria marca. Foi uma questão de bilheteria, onde o clube buscou fazer dinheiro usando a marca do Corinthians e de outros times paulistas, pois sabia do número de torcedores dessas equipes no interior. Pode até ser que exista, mas qualquer iniciativa feita pelos clubes da capital até agora não foi eficaz para reverter essa situação.

O resultado revela a vitória do Atlético sobre o Coritiba...

Na minha opinião, o Atlético é um clube muito mais marcado pela paixão do que o próprio Coritiba. E não sou atleticano, sou paranista. A própria imprensa nacional ressalta isso, fala da torcida calorosa, passional. Esse lado afetivo move o torcedor e teria um efeito sobre os setores mais populares da periferia. No Paraná Clube, por exemplo, o problema é de outra ordem. Perdeu-se o perfil clubístico com as várias fusões. Nem é time da elite como era o Água Verde, por exemplo, e nem tem o perfil daquela comunidade trabalhadora dos antigos ferroviários. (ALM)

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