Entrar na sala de reunião do Comando do Policiamento da Capital, na esquina das avenidas Getúlio Vargas e Marechal Floriano, é invadir o quartel-general de Marcos Scheremeta. É de lá, de frente para um enorme telão ligado a um computador portátil (e ao Google Maps), que o coronel da Polícia Militar (PM), comandante do batalhão de Curitiba, montou a estratégia que diminuiu consideravelmente o número de casos de violência ligado ao futebol. Reação que serve de modelo para a próxima Copa do Mundo.
Um grupo de 12 policiais de Brasília (DF) visitou Scheremeta em novembro para aprender e copiar a política de segurança. Querem implantá-la ainda antes da Copa das Confederações, marcada para 2013.
Se em 2009, ano que ficou marcado pela barbárie no Couto Pereira após o jogo entre Coritiba e Fluminense, 171 ônibus foram depredados, na temporada atual 105 carros foram quebrados por causa do vandalismo de torcedores, um decréscimo de 39%. Os números são da Urbs, órgão vinculado ao Executivo municipal, e correspondem ao período entre janeiro e outubro.
Bem mais do que a contenção do quebra-quebra, Scheremeta celebra o fato de não ter acontecido nenhuma "ocorrência especial", o que, no jargão policial, classifica casos como o do atleticano João Henrique Mendes Xavier Vianna. O estudante morreu em outubro de 2009 em decorrência de um atropelamento por um torcedor do Coritiba, quando voltava para a Arena depois de um Atletiba. "É uma evolução e tanto", ressalta o coronel, que a partir de janeiro, no governo Beto Richa (PSDB), assume o comando-geral da PM no Paraná.
Evolução que tem de ser creditada a um conjunto de regrinhas estabelecido por Scheremeta e que ajudou a transformar a polícia local em referência em prevenção ligada ao esporte. De olho na Copa de 2014, o policial antecipou o planejamento, criando uma espécie de "corredor da segurança" em dias de bola rolando na capital. A estratégia estreou no empate por 1 a 1 entre Atlético e Corinthians, na Baixada. A medida consiste, basicamente, em criar cordões de isolamento nos arredores do estádio, nos mesmos moldes exigidos pela Fifa durante os 30 dias de Mundial.
As barreiras, localizadas em pontos estratégicos, servem para peneirar os fãs de futebol. O "joio do trigo", como diz o coronel. Ou seja, só são liberados pela blitz quem realmente vai assistir à partida, com a apresentação do ingresso ou da carteirinha de sócio que permite acesso à praça de esportes moradores da região também recebem tratamento diferenciado. Neste caso, a comercialização de tíquetes fica concentrada em barracas montadas fora da área especial, com a supervisão de policiais para evitar roubos.
"Naquele dia do rebaixamento do Coritiba [6 de dezembro de 2009] aconteceu uma sucessão de erros. Entre eles o fato de quase 5 mil torcedores terem ficado do lado de fora do Couto, forçando o portão para entrar. Perdemos o controle da situação", avalia o comandante da PM, citando um dos problemas que culminaram na implantação do novo esquema de segurança.
Mas a triagem, isolada, explica Scheremeta, não resolveria todos os problemas. Por isso o coronel acrescentou itens importantes à pauta. Entre eles, o policiamento preventivo (reuniões constantes com torcidas organizadas); a mudança da postura do policial (mais cortês e pronto para defender o torcedor de bem); e a própria conscientização dos fãs. "É estratégico, mostra para os torcedores que estamos ali. Mas, se precisarmos, podemos usar a força também", afirma.
A ação policial na repressão à violência em dias de jogo de futebol não vai parar por aí. "Vamos nos especializar ainda mais", promete o coronel, apostando principalmente na implantação, a partir do ano que vem, de Juizados Especiais dentro dos estádios para completar o cerco aos baderneiros. "Aí haverá punição na hora, fechando o ciclo. Uma maravilha!"
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