Felipe Massa durante evento em São Paulo: piloto brasileiro tem a torcida especial do paranaense 0Farfus.| Foto: Mauricio Lima/AFP

Título e emprego abrem discussão em Interlagos

Os dois candidatos ao título. Dois pilotos da casa ameaçados de perder o emprego. A "chicane ambulante" que, para alívio geral, faz sua última corrida. Lewis Hamilton, Felipe Massa, Nelsinho Piquet, Rubens Barrichello e David Coulthard participam, hoje, da entrevista coletiva que abre oficialmente todo o fim de semana de corrida na F-1. Carros na pista, só a partir de amanhã, com os treinos livres.

Ontem o dia foi para os últimos ajustes no Autódromo de Interlagos. Era difícil encontrar um ponto do circuito em que não houvesse um operário martelando o último prego do tapete das áreas vips, retocando a demarcação dos assentos na arquibancada ou carregando a peça que faltava para alguma armação. Na pista, apenas carros de serviço checando as marcações, engenheiros medindo com passos o ponto ideal para cumprir a volta em menos tempo e um solitário Nelsinho Piquet correndo para manter a forma.

Os boxes foram tomados por jornalistas e curiosos. Os primeiros, em busca de alguma notícia que caísse do céu – lá de cima, porém, só vieram alguns pingos de chuva – e os outros, atrás de uma foto perto das máquinas.

Quem foi atrás de imagens não ficou frustrado. Em meio à montagem dos carros, o motor da Ferrari começou a roncar alto em uma ponta dos boxes. Não demorou para vir a resposta da McLaren, no outro extremo. A poucos metros do carro de Lewis Hamilton, os torcedores se dividiam entre os cliques e a "secada". "Tem que enterrar um sapo embaixo do banco dele", brincou um fã, dando o tom do espírito da torcida para ver Felipe Massa campeão em casa. (LMJ)

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Campeão da F-Renault Européia e da F-3.000 e único representante brasileiro no Mundial de Turismo da FIA, o paranaense Augusto Farfus Júnior chegou ontem a São Paulo pronto para um rótulo que irá grudar nele até o GP Brasil de Fórmula 1, domingo: o de companheiro de apartamento de Felipe Massa no primeiro ano do atual piloto da Ferrari no exterior.

Era 2000 e Augusto já morava havia um ano em Erba, cidade italiana próxima a Milão, quando recebeu um telefonema do antigo adversário de kart. Felipe, então com 19 anos – Farfus tinha 17 – conseguira um contrato para disputar a Fórmula Renault Italiana. O acordo inicial era para cinco provas, mesma validade do dinheiro que a família Massa arrecadou com a venda de um carro. Faltava um lugar para morar.

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Augusto topou na hora. Era a chance de ter alguma companhia e reduzir os custos da vida no exterior, em uma época que a proporção dólar-real beirava o 4 por 1.

Foi pouco mais de um ano de convivência quase sempre pacífica. "A gente era muito jovem, então o apartamento era uma bagunça... Quer dizer, não uma bagunça, mas a gente tinha algumas divergências", contou Augusto, após encarar um dia inteiro de viagem do Japão, onde correu no fim de semana pelo WTCC, até o Brasil, com escala na Alemanha.

A rotina dos adolescentes na cidadezinha de 16 mil habitantes era pouco agitada. Limitava-se ao roteiro oficina-pista-apartamento. Fora isso, algumas incursões à casa do chefe de equipe para escapar do macarrão que a dupla improvisava na cozinha da casa italiana.

Alguma especialidade? "A especialidade era cozinhar rápido e não fazer muita sujeira, porque depois tinha uma pilha de louça esperando por nós", lembra Augusto.

Em 2001, Farfus e Massa se separaram e se distanciaram. O paranaense correu – e venceu – a F-3.000 e depois direcionou sua carreira para as provas de turismo. Massa passou mais um ano na F-Renault, até ingressar na F-1 via Sauber, com um empurrão generoso da Ferrari.

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"É engraçado. A gente cresceu junto, corria da kart, morou junto. Mas nessa vida louca de piloto acaba tendo pouco contato", lamenta Augusto, ciente de que dificilmente conseguirá rever o amigo antes da corrida de domingo. "O momento é de concentração total. Certamente ele não ficará de conversa no paddock", afirma.

Quantos as chances de tirar os sete pontos de diferença para Lewis Hamilton, a esperança recai na repetição do ano passado, quando o inglês perdeu a taça para Kimi Raikkonen. "Tudo pode acontecer, ainda mais em São Paulo, com o clima instável. O Kimi era o menos favorito e acabou com o título", diz.

A partir de hoje, Farfus estará no Autódromo de Interlagos participando de eventos da BMW, montadora para a qual ele corre no WTCC. Ano passado ele testou um carro de Fórmula 1 da escuderia.

Chance da sonhada mudança de categoria? "Depende da BMW. Ano passado eu testei para eles, vamos ver. Dá uma coceirinha de correr na F-1. Por que não?", afirma, confiante em, num futuro próximo, voltar a saborear um macarrão com o antigo companheiro.